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4 OS CAMINHOS PARA O FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO

4.1 PANORAMA SOBRE O FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO

4.1.7 O Plano Nacional de Educação, os recursos do Pré-Sal e o

A Constituição Federal de 1988 estabelece no artigo 214 a elaboração do Plano Nacional de Educação-PNE, que deve ser renovado a cada dez anos visando a articulação do sistema educacional brasileiro, de forma colaborativa e integrada, definindo diretrizes, objetivos, metas e estratégias para a consecução dos objetivos da educação nacional, visando: (BRASIL, 1988)

I - erradicação do analfabetismo; II - universalização do atendimento escolar; III - melhoria da qualidade do ensino; IV - formação para o trabalho; V - promoção humanística, científica e tecnológica do País.

VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto

Esses objetivos apontam para os pontos estratégicos a serem trabalhados pelos entes governamentais a fim de que se atinja o padrão educacional adequado para o país. Nesse sentido, quatro anos após o final da vigência do último PNE (2000-2010) foi aprovada a Lei Nº 13.005, de 25 de junho de 2014, o novo Plano nacional de Educação, que deverá compreender o período de 2014 a 2024, promovendo a educação almejada para o Brasil através das vinte metas com os respectivos objetivos e estratégias.

Observando o inciso VI do artigo citado acima é possível ver que um dos propósitos para a elaboração do PNE, o “estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto”, está diretamente relacionado com a questão do financiamento da educação pública, e, consequentemente, com o problema abordado neste trabalho.

Como foi visto anteriormente, foram feitos estudos no sentido de buscar relacionar os custos necessários à manutenção do ensino público, em seus diversos níveis e modalidades, a um valor percentual do PIB. Nesse sentido, o PNE não chegou a definir o percentual por nível e modalidade de ensino como foi apresentado no estudo sobre Custo Aluno Qualidade, mas definiu, na Meta 20 do plano, o aumento progressivo do percentual do Produto Interno Bruto-PIB do país aplicado à educação pública até atingir 10%, no mínimo, em 2024: (BRASIL, 2014)

Meta 20: ampliar o investimento público em educação pública de forma a atingir, no mínimo, o patamar de 7% (sete por cento) do Produto Interno Bruto - PIB do País no 5o (quinto) ano de vigência desta Lei e, no mínimo, o equivalente a 10% (dez por cento) do PIB ao final do decênio.

Dentre as estratégias definidas para a consecução da Meta 20, a estratégia 20.6 está relacionada à implantação do Custo Aluno Qualidade inicial (CAQi) com base nos insumos necessários ao processo ensino-aprendizagem, com reajuste

progressivo até a implantação do Custo Aluno Qualidade (CAQ), que aparece como a estratégia 20.7 (BRASIL, 2014);

20.7) implementar o Custo Aluno Qualidade - CAQ como parâmetro para o financiamento da educação de todas etapas e modalidades da educação básica, a partir do cálculo e do acompanhamento regular dos indicadores de gastos educacionais com investimentos em qualificação e remuneração do pessoal docente e dos demais profissionais da educação pública, em aquisição, manutenção, construção e conservação de instalações e equipamentos necessários ao ensino e em aquisição de material didático- escolar, alimentação e transporte escolar;

Pelo exposto, a estratégia 20.7 do PNE aponta o caminho para a solução de um dos grandes problemas da educação brasileira, que é o seu financiamento. Assim, ao prever a implantação de uma metodologia que calcula e acompanha os recursos aplicados em educação relacionando-os às reais necessidades, abre-se a perspectiva para que sejam supridas as demandas desse sistema que tanto tem sofrido ao longo do tempo pela instabilidade e insuficiência dos recursos para a efetivação de uma educação de qualidade.

No entanto, pelo que tem sido apresentado ao longo desse trabalho, a questão da disponibilidade e suficiência de fontes e recursos para a educação profissional técnica de nível médio é uma das maiores limitações para o alcance dessa qualidade, mesmo com critérios definidos e demandas mais do que óbvias. Isso porque o FUNDEB, como vimos, não contempla todas as demandas dessa modalidade da educação básica pública, tanto pelas limitações legais quanto financeiras.

Assim, de acordo com a estratégia 20.7, todos os insumos serão previstos no Custo Aluno Qualidade, inclusive a alimentação escolar, que, no caso em estudo, é mais onerosa por se tratar de alimentação para a cobertura de dez horas de permanência do aluno na escola, contemplando três refeições diárias, composta de dois lanches e almoço e fornecida por empresa contratada para o preparo as refeições no próprio ambiente da escola, serviço este não coberto pela legislação do Fundeb, e, portanto, impossível de ser pago por essa fonte de recursos.

Diante das diretrizes e perspectivas apontadas pelo PNE no que se refere ao financiamento da educação atrelada ao critério de qualidade e proporção do PIB, foi

necessário prever uma base de recursos que possibilitassem a concretização dos objetivos e metas do Plano, e, nesse sentido, foram incluídos os recursos do petróleo extraído do Pré-Sal, a maior reserva encontrada abaixo de uma enorme camada de rochas salinas, cuja metodologia de exploração foi desenvolvida pela Petrobrás.

Essa garantia foi fruto de vários embates políticos pelos royalties advindos dessa exploração, mas, diante de intensa mobilização social, foi criada a Lei 12.858/2013, que garantiu a destinação de 75% dos recursos advindos dos royalties do petróleo localizado na área do Pré-Sal para a educação e 25% para a saúde. Além destes recursos, esta mesma lei acrescentou como fonte de recursos para o financiamento e alcance das metas do PNE o Fundo Social do Pré-Sal, criado pela Lei 12.351/2010, na proporção de 50%. Segundo o artigo 49 da sua lei de criação, este fundo é composto da seguinte forma: (BRASIL, 2010)

I - parcela do valor do bônus de assinatura destinada ao FS pelos contratos

de partilha de produção; II - parcela dos royalties que cabe à União, deduzidas aquelas destinadas

aos seus órgãos específicos, conforme estabelecido nos contratos de

partilha de produção, na forma do regulamento; III - receita advinda da comercialização de petróleo, de gás natural e de

outros hidrocarbonetos fluidos da União, conforme definido em lei; IV - os royalties e a participação especial das áreas localizadas no pré-sal

contratadas sob o regime de concessão destinados à administração direta

da União, observado o disposto nos §§ 1o e 2o deste artigo; V - os resultados de aplicações financeiras sobre suas disponibilidades; e VI - outros recursos destinados ao FS por lei.

Mediante o que foi apresentado neste capítulo, a base para o financiamento da educação brasileira nos próximos dez anos está lançada, com o indicativo de fontes destinadas a suprir as demandas dos sistemas de ensino, tendo estabelecido ainda que devem ser definidos parâmetros em busca da qualidade. Cabe ressaltar, que, em relação ao PNE, os estados e municípios precisam elaborar seus planos e metas em consonância com o Plano Nacional, assim como também resta ao Governo Federal regulamentar a operacionalização das leis que definem as fontes de arrecadação e a forma de distribuição destes recursos, como é o caso do Fundo Social do Pré-Sal, que, mesmo com a lei aprovada em 2010, ainda aguarda a

regulamentação para que os recursos que já estão disponíveis possam ser utilizados nos propósitos a que se referem.

4.1.8 O Programa Nacional de Alimentação Escolar e sua utilização no Ensino