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3. Campanhas Eleitorais

3.2 O poder da imagem do líder

Com o advento dos media, a notoriedade deixou de ser alcançada apenas entre os militantes, no interior do partido, ou nos comícios onde se reuniam apoiantes e passou a ser alcançada pela apresentação perante um vasto auditório heterogéneo, composto por simpatizantes, adversários e indiferentes.

Na actualidade, advoga-se que a imagem do líder – deve transmitir a ideia de poder, autoridade, entre outros atributos políticos – conta mais do que, por exemplo, as suas capacidades políticas e do que a forma como se transmite a mensagem, mais do que o seu conteúdo.

Pacheco Pereira assume que, hoje, a diferença entre políticas é muito mais transmissível pela diferença de posturas e de estilos, pela empatia e pelo carisma pessoal, pela imagem das elites políticas, do que pelos programas. A percepção pública dessas diferenças resulta, por isso, de quem as comunica e do modo como são comunicadas.

“A comunicação política valoriza particularmente o não verbal, quer na sua dimensão visual (a presença, o gesto), quer na dimensão sonora (a entoação ou o ritmo da voz)”70

, sublinha Mário Mesquita.

Segundo Richard Joslyn, a supremacia da imagem confirma a ideia de que as campanhas se distanciam do processo democrático ideal, no qual os cidadãos escolhem os partidos e os candidatos de uma forma racional, com base nas propostas políticas.

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In MESQUITA, Mário – “Tendências da Comunicação Política”. Lisboa: Revista de Comunicação e Linguagens, n.º 21-22, Edições Cosmos, 1995, p. 392

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Os políticos são julgados não apenas pelo que dizem e fazem, mas também, pela forma como o dizem e fazem. Muitos autores defendem que o estilo político conta tanto como a substância das coisas.

Há autores que defendem que Tony Blair foi eleito, em grande parte, com base na capacidade que possuía para aparecer bem e dizer bem em frente às câmaras de televisão e por ter a capacidade de comunicar através da sua imagem. Note-se que as preocupações com as questões da imagem estendem-se aos símbolos dos partidos, que com alguma regularidade sofrem alterações.

O conceito de imagem é, por isso, fundamental na política. As imagens políticas criam contextos de significados. Ajudam-nos a identificar realidades tão amplas como uma nação, um grupo social, uma instituição, entre muitas outras.

A imagem do líder ocupa todo o espaço mediático. Torna-se o elemento mais importante dos cartazes de propaganda. Tanto ou mais importantes que os programas eleitorais e as ideias, contam os rostos. As imagens exibem pessoas, não os programas dos partidos.

De acordo com Maria José Canel, a imagem do candidato é uma mistura de um conjunto de características, tais como: biográficas, pessoais (talento, simpatia, impulsividade, sinceridade, maturidade, integridade, competência, capacidade de liderança, inteligência, determinação, habilidade, responsabilidade), qualificação profissional (curriculum, experiência de governo), posicionamento ideológico (partido pelo qual se candidata) e traços comunicativos (oratória, facilidade de argumentação, clareza de expressão, timbre de voz, forma como gesticula)71.

A imagem tornou-se quase que uma obsessão para quem exerce ou pretende exercer o poder e, fundamentalmente, porque se instalou na sociedade a ideia de que vale mais uma imagem do que mil palavras.

Adriano Moreira considerou a imagem como um dos vértices do poder e postulou que toda a análise do fenómeno do poder, enquanto “capacidade de obrigar os outros a adoptar certo comportamento” deve ter em conta a sua forma tridimensional: “a sede do Poder, a forma ou imagem, e a ideologia”72

.

Maquiavel, a par de outros autores, assumiu na sua obra, o Príncipe, um papel de aconselhamento e recomendação sobre a fórmula que deveria ser adoptada pelos

71 CANEL, María José – “Comunicación Política – Una Guia para su Estúdio y Práctica”. Madrid:

Editorial Tecnos, 2ª ed., 2006

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governantes para alcançarem a paz, a segurança e a estabilidade governativa. Não querendo, de forma linear, classificar a sua acção de “assessor político” sempre diremos que os nossos contemporâneos, para exercerem essa função, sentem absoluta necessidade de conhecer os métodos e de dominar os conceitos que este e outros autores desenvolveram, não tanto para serem aplicados indiscriminadamente, dizemos nós, mas fundamentalmente, para não serem surpreendidos por eles.

A assessoria política tornou-se fundamental, diremos mesmo decisiva, no exercício do poder político. Concretizando, para se exercer o poder, especialmente o poder político, é fundamental conhecer todas as suas áreas de influência ou estar rodeado de pessoas que nos transmitam ou nos habilitem com informação ou conhecimento bastantes à sua realização. O assessor serve exactamente para cumprir esse objectivo. Os conhecimentos que detém, os estudos que realiza e a recolha de informação – decisiva para que nada seja descurado – são garantia bastante para que o assessorado sinta que tem as condições de que necessita para cumprir cabalmente a sua tarefa de governar e, complementarmente, poder aspirar a manter o poder.

O poder é ou pode ser exercido por um, mas não é possível sem o apoio e o envolvimento de muitos. Aliás, da nossa investigação resulta uma série de constatações que o demonstram. Comecemos pelos efeitos das televisões. Alguns segundos de imagem televisiva, resultam mais do que dezenas de minutos nas rádios ou centenas de artigos nos jornais. Quem mais influencia esses órgãos de comunicação são os assessores de imprensa, ligados a autarcas, ministros, secretários de estado, Primeiro- Ministro e Presidente da República, entre outros.

Os tempos modernos não permitem acalentar a ideia de que o poder, detentor de acesso privilegiado a toda a informação, pode beneficiar da “ignorância” de quem se lhe opõe.

Esta nova realidade, conhecer o enorme manancial de informação que corre através dos novos modelos de comunicação, onde se destaca a internet e nela, os blogues, os sites e toda uma imensa rede de relações que permite a divulgação e uso instantâneos da informação ou, como aconteceu recentemente em Portugal, para a convocação de manifestações de protesto contra o governo, exige mais recursos humanos, mais atenção e, acima de tudo, mais assessoria política. (fico aqui)

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