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2 O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO

2.3 O PODER LEGISLATIVO MUNICIPAL NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA

Conforme já mencionado no presente trabalho, a organização do Estado Democrático de Direito brasileiro tem como pressuposto a divisão de poderes; e, por consequência, guarda alguns traços de democracia burguesa. Para que seja possível compreender como se dá o processo de produção legislativa, faz-se necessário expor no que consiste o Poder Legislativo e como está estruturado constitucionalmente.

Segundo o artigo 4423 e seguintes da Constituição Federal, o Poder Legislativo é composto pelo Congresso Nacional que compõe a Câmara dos

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Art. 44. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.

Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração de quatro anos.

Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada Estado, em cada Território e no Distrito Federal.

§ 1º O número total de Deputados, bem como a representação por Estado e pelo Distrito Federal, será estabelecido por lei complementar, proporcionalmente à população, procedendo-se aos ajustes necessários, no ano anterior às eleições, para que nenhuma daquelas unidades da Federação tenha menos de oito ou mais de setenta Deputados.

§ 2º Cada Território elegerá quatro Deputados.

Art. 46. O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majoritário.

Deputados e o Senado Federal. A ambos compete a responsabilidade pela produção legal do país, cada um de acordo com as atribuições estabelecidas constitucionalmente.

Consoante ao que se observa nos artigos 1º e 18º da Constituição Federal, o Brasil consolidou-se como uma federação conferindo aos Municípios autonomia para organizarem-se e estruturarem-se internamente:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I - a soberania; II - a cidadania

III - a dignidade da pessoa humana;

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político.

[...]

Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.

§ 1º Brasília é a Capital Federal.

§ 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar.

§ 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar- se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar. § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 15, de 1996).

A organização legislativa dos Municípios é composta por uma Câmara Municipal podendo ter entre 9 e 55 vereadores, dependendo do número de habitantes respectivamente. Tanto o prefeito, quanto o vice-prefeito e os vereadores municipais, são eleitos para um mandato eletivo de quatro anos, podendo reeleger- se através da realização de novas eleições.24

§ 1º Cada Estado e o Distrito Federal elegerão três Senadores, com mandato de oito anos.

§ 2º A representação de cada Estado e do Distrito Federal será renovada de quatro em quatro anos, alternadamente, por um e dois terços.

§ 3º Cada Senador será eleito com dois suplentes.

Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de cada Casa e de suas Comissões serão tomadas por maioria dos votos, presente a maioria absoluta de seus membros.

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Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará,

As Câmaras Municipais possuem como atribuições essenciais a fixação dos subsídios do prefeito, vice-prefeito, secretários municipais e vereadores; a iniciativa de produção legislativa local; realização de audiências públicas, bem como questões relacionadas ao interesse geral. Importante esclarecer que o modo como serão exercidas determinadas atribuições pelo Poder Legislativo municipal, deverá estar disposto na Lei Orgânica do respectivo município, cabendo à Constituição Federal apenas delimitar as questões gerais.

Ainda dentro das atribuições constitucionais do Poder Legislativo Municipal, o artigo 31 da Constituição Federal preceitua que:

Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei.

§ 1º O controle externo da Câmara Municipal será exercido com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver.

§ 2º O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar, só deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara Municipal.

§ 3º As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta dias, anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, para exame e apreciação, o qual poderá questionar-lhes a legitimidade, nos termos da lei.

§ 4º É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de Contas Municipais.

Os dispositivos constitucionais resumem as funções da Câmara Municipal da seguinte forma: função legislativa, função deliberativa, função fiscalizadora e função julgadora. Por meio da função legislativa se estabelecem as leis municipais e a própria lei orgânica. Por meio da função deliberativa a Câmara exerce atribuições de competência privativa, envolvendo a aprovação, autorização e aprovações de situações específicas. Por meio da função julgadora a Câmara exerce um juízo político, podendo julgar os atos do prefeito e de seus próprios vereadores. Por fim, pela função fiscalizadora é possível o controle das questões financeiras e orçamentárias, bem como a solicitação de informações ao prefeito e instauração de comissões de inquérito (SILVA, 1992, p. 550-551).

atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos:

I - eleição do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores, para mandato de quatro anos, mediante pleito direto e simultâneo realizado em todo o País;

II - eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito realizada no primeiro domingo de outubro do ano anterior ao término do mandato dos que devam suceder, aplicadas as regras do art. 77, no caso de Municípios com mais de duzentos mil eleitores; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 16, de1997) III - posse do Prefeito e do Vice-Prefeito no dia 1º de janeiro do ano subseqüente ao da eleição;

A Câmara Municipal, que como se viu exerce o Poder Legislativo a nível municipal, é composta de vereadores, que são eleitos por voto secreto e direto pelos munícipes eleitores, para um mandato de quatro anos (CF, art. 29,¹). Os vereadores, porque detém uma representação política e exercem um mandato eletivo assemelhado ao dos parlamentares federais e estaduais, são agentes políticos. Dessa forma, não estão sujeitos ao regime estatutário, nem se ligam ao Município por relações de emprego, apesar de serem considerados funcionários públicos para fins criminais, por expressa equiparação do art. 327 do Código Penal. Estão regidos por normas próprias, quer no tocante às suas atribuições de legislador e julgador da conduta funcional de seus pares e do prefeito, quer no concernente à sua atuação pessoal perante a Câmara, usufruindo de prerrogativas para o exercício do munus e assumindo, igualmente, encargos e responsabilidades (LANARI, 1999, p. 328-329).

Faz-se importante ponderar que no âmbito municipal não se adota o sistema bicameral, ou seja, não se organiza como o poder legislativo federal e não existe previsão legal da necessidade de existência de uma Câmara e de um Senado. A Câmara Municipal é composta exclusivamente por vereadores eleitos através do sufrágio universal e em uma única casa competente para as atribuições já citadas anteriormente.

Não obstante a inclusão do Município na Federação, não possui a entidade representatividade no Poder Central, vez que o sistema bicameral não prevê representantes dos Municípios em qualquer das Casas do Congresso Nacional: a Câmara dos Deputados é formada por representantes do povo, eleitos proporcionalmente em cada Estado, e o Senado Federal por representantes dos Estados e do Distrito Federal. Pode-se afirmar, assim, que o Município integra anomalamente o conceito de federação, o que não impede o reconhecimento, em termos jurídico-positivos, de ser o Município ente da federação, com as conseqüências daí decorrentes (LANARI, 1999, p. 327-328).

Tal premissa parte do pressuposto de que os Municípios são divisões dos Estados e dependem de lei estadual para sua incorporação, fusão e desmembramento, não sendo parte da federação, mas meramente divisões político- administrativas (SILVA, 1992, p. 415).

Não é porque uma entidade territorial tenha autonomia político- constitucional que integre o conceito de entidade federativa. Nem o município é essencial ao conceito de federação brasileira. Não existe federação de Municípios. Existe federação de Estados. Estes é que são essenciais ao conceito de qualquer federação. Não se vá, depois, querer criar uma Câmara de representantes dos Municípios [...] Não é uma união de Municípios que forma a federação. Se houvesse uma federação de Municípios, estes assumiriam a natureza de Estados-membros [...] (SILVA, 1992, p. 414-415).

Baseado nessas considerações, Silva (1992, p. 545-546) indica que os Municípios possuem basicamente quatro características constitucionais. A primeira se refere à capacidade de auto-organização, consistente na possibilidade de criação de sua própria lei orgânica elaborada pela respectiva Câmara Municipal (previsto no

artigo 29 da Constituição Federal e já citado anteriormente). A segunda consiste na capacidade e autogoverno, possibilitando a eleição do prefeito e dos vereadores locais. A terceira faz menção à capacidade normativa própria, que possibilita a elaboração de leis municipais reservadas à sua competência exclusiva e complementar. E por fim, a quarta consiste na capacidade de autoadministração, podendo gerir e prestar os serviços de interesse local da forma que entender mais adequado.

Sobre os temas de interesse local, os Municípios dispõem de competência privativa. Assim, é hostil à Constituição, por invadir competência municipal, a lei do Estado que venha a dispor sobre distância entre farmácias em cada cidade. Aos Municípios é dado legislar para suplementar a legislação estadual e federal, desde que isso seja necessário ao interesse local. A normação municipal, no exercício dessa competência, há de respeitar as normas federais e estaduais existentes. A superveniência de lei federal ou estadual contrária à municipal suspende a eficácia desta. A competência suplementar se exerce para regulamentar as normas legislativas federais e estaduais, inclusive as enumeradas no art. 24 da CF, a fim de atender, com melhor precisão, aos interesses surgidos das peculiaridades locais (MENDES; BRANCO, 2015, p.843).

Vislumbra-se, portanto, que as Câmaras Municipais não possuem apenas competência legislativa, mas são responsáveis também pela fiscalização, deliberação e julgamento de questões relacionadas ao interesse local. Como o presente trabalho possui como centro de análise a questão relacionada ao Poder Legislativo Municipal de Ponta Grossa, passar-se-á nesse momento a priorizar a função legislativa da Câmara Municipal, não ignorando as demais funções típicas.

Sendo assim, para que seja possível compreender o real funcionamento da função legislativa municipal, exercida especialmente pelos vereadores locais, faz-se necessário compreender a composição da sociedade pontagrossense, sua realidade histórica, bem como a composição da Câmara Municipal no período de 2013-2016. Após tais elucidações, será possível identificar quais interesses circundam a tomada de decisões acerca da produção legislativa local, bem como identificar se existe participação da sociedade civil nesse processo.

3 CONSIDERAÇÕES ACERCA DO MUNICÍPIO DE PONTA GROSSA