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CAPÍTULO I – ESTADO E PODER LEGISLATIVO

1.5. O Poder Legislativo no Brasil – breve histórico

Embora tenhamos tido, desde a Colonização, a existência das Câmaras Municipais, foi somente com a Independência do Brasil, em 1822, que o Parlamento pôde ser formalizado.

A partir de então, a Constituição de 1824, sob um regime governamental centralizado e autoritário, instituiu, além dos três Poderes, um quarto – o Poder Moderador. Este conferia ao Imperador o poder de controlar os outros Poderes46.

Posteriormente, torna-se crescente um movimento pela descentralização e autonomia das províncias e o ato adicional de 1834 confere, então, poderes às mesmas, principalmente pelos embates entre centralismo e localismo47. Em 1891, na primeira República, o Brasil se tornou um país presidencialista. Mas o Governo central não fazia grandes intervenções na política dos Estados, pois, em troca, os governadores apoiavam

45 Conforme Meirelles (2008), sanção é a aprovação pelo Executivo, promulgação é a declaração da existência da Lei

e publicação é o conhecimento do texto promulgado aos seus destinatários.

46 No início, o Brasil espelhou-se na Constituição dos Estados Unidos e adotou na própria Constituição de 1824 o

Poder Legislativo, o Executivo, o Judiciário, diferenciando-se quanto ao sistema de freios e contrapesos, pois adotou um quarto Poder: o Moderador.

47 Nesse período, as relações entre o poder central e os municípios se davam mediante interesses particulares dos

donos de terras e o domínio do Imperador em manter a escravidão. Assim, conferir autonomia às províncias no vasto território brasileiro era pôr em risco seu projeto imperial de expansão (ANDRADE, 2007).

o Presidente, colaborando para que as mesmas pessoas ou oligarquias estaduais se mantivessem no poder, usando-o para benefício próprio e não em favor da sociedade.

Getúlio Vargas promoveu uma rígida centralização política e simplesmente dissolveu o Congresso Nacional e todos os Legislativos do país. Embora a Constituição de 1934 tenha trazido inovações no campo social e na ampliação de direitos48, Vargas instituiu, em 1937, o Estado Novo, de caráter autoritário e poder centralizado no Executivo. Criou o Parlamento Nacional, mas podia impor-lhe recesso, tanto quanto executar suas atribuições.

Com o fim do Estado Novo, a Constituição de 1946 restabeleceu a independência dos três Poderes, a autonomia dos Estados e o pluripartidarismo. Foram restabelecidas também as prerrogativas das Assembleias Legislativas e das Câmaras Municipais.

Cabe ressaltar que esta época ficou conhecida como “democracia populista”, ou seja:

O Brasil entre 1945 e 1964 viveu a época da democracia populista, momento em que, apesar das garantias constitucionais, da livre organização partidária, das eleições regulares e do funcionamento normal dos Poderes Legislativo nacional, estadual e municipal, a vida política continuava girando em torno de governos e lideranças personalistas que, se aproximando e se confundindo com as “massas” populares, tornam-se mais fortes do que os próprios partidos e instituições políticas (PARANAGUA, s.d., s.p.).

No regime militar, o Ato Institucional número 02 deu ao Presidente poderes para decretar o recesso do Congresso Nacional e demais Legislativos, além disso, estabeleceu eleições indiretas para Presidente, extinguiu todos os partidos políticos, instituindo o bipartidarismo. Nesse período, houve um esvaziamento na vida política brasileira e o Legislativo perdeu grande parte de suas funções para o Executivo.

Na nova República, com a promulgação da Constituição de 1988, os dirigentes do país voltaram a ser eleitos diretamente pelo povo e por tempo determinado, com a responsabilidade de administrar a coisa pública e o bem comum da coletividade. Restabeleceu-se a democracia liberal com eleições diretas para os cargos do Executivo e Legislativo, o fim da censura e mecanismos de participação direta da sociedade em

48 Mesmo não havendo uma democracia política, houve a introdução de uma legislação beneficiária para alguns

decisões de governo, tais como: previsão de plebiscito e referendo49, consulta popular, constituição de conselhos de políticas, entre outros.

Conforme Martins Jr. (1999), a Constituição de 1988 instituiu, explicitamente, o sistema de freios e contrapesos. Assegurando, pois, que cada Poder pudesse ser independente e tivesse meios de interferir nos demais.

Onde quer que se verifique movimentos anti-democráticos, o legislativo cai em recesso, sua função é a de mediador entre a vontade do povo e as decisões do Estado, e isto só é possível sob certas condições, que são as próprias condições da democracia (SALDANHA, 1983, p. 32).

Os titulares50 do Poder Legislativo têm, então, a função de representação51 do povo, cabendo-lhes legislar, fiscalizar, julgar e administrar.

Como vimos, o Brasil também adotou em suas Constituições a “tripartição dos Poderes”, com exceção dos períodos ditatoriais em que foram ampliados os poderes da esfera executiva52. Indubitavelmente, foi na Constituição de 1988 que o Brasil adotou o sistema de freios e contrapesos ou checks and balances e prestigiou a interpenetração de Poderes.

A separação dos Poderes é, inclusive, cláusula pétrea, ou seja, tais normas não podem ser abolidas da Constituição. Contudo, as mesmas não são prescritas de maneira explícita, cabendo desvelá-las através da observação das normas de distribuição de competências entre as três esferas de Governo; assunto que veremos na próxima seção, ao abordarmos o Legislativo em âmbito municipal.

49 O plebiscito e o referendo estão elencados na Constituição Federal e são formas de consulta à sociedade. O

plebiscito se dá antes da edição de um ato legislativo ou administrativo e o referendo após a aprovação de uma lei.

50 Os senadores representam os interesses dos Estados e compõem o Senado Federal; os deputados federais e os

deputados estaduais representam a vontade geral do povo e compõem, respectivamente, a Câmara Federal e Assembleias Legislativas; os vereadores representam os interesses do município e compõem as Câmaras Municipais.

51 Anastasia e Nunes apud Vieira (2008, p. 122): “Representação é o conjunto de relações existentes entre os cidadãos

e seus representantes políticos eleitos. Nos regimes democráticos, é essa uma de suas características definidoras, o povo é o detentor da soberania política e a usa para conferir, via mandato, poderes a alguns que agirão em seu nome em funções de governo, em vista de seus interesses”.

52 “os regimes autoritários contribuíram para o engrandecimento do Executivo pela razão óbvia de haverem

simplesmente aniquilado o Poder Legislativo, como se deu entre 1937 e 1945, e de o terem deliberadamente amesquinhado entre 1964 e 1985” (NETO, 2007, p. 131).

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