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5 . 1 . 0 PORQUÊ DE REALIZAR ESTE ESTUDO

Quando há muitos anos, tomei contacto com a intervenção precoce, aderi de imediato aos seus pressupostos e formas de concretização.

Essa adesão foi consequência do sentimento, como professora do ensino especial, trabalhando em integração de deficientes visuais no ensino preparatório e secundário, tinha, de que este ensino "flutuava", isto é, não tinha qualquer intervenção anterior que lhe desse suporte e não providenciava de forma consistente uma continuidade que possibilitasse aos alunos apoiados por mim, perspectivar o futuro no mundo do trabalho. As excepções apenas confirmavam a regra.

Finalmente, com a implementação da intervenção precoce parece que se iria começar pelo princípio.

Tive a sorte de poder, em equipe, participar na organização de um serviço de intervenção precoce, ainda então, centrada na criança.

A equipe, multidisciplinar, dispunha entre outros de um técnico de serviço social com sensibilidade e formação para trabalhar com famílias de crianças com necessidades educativas especiais. Por outro lado, as crianças com idades muito precoces e portanto ainda muito dependentes das mães, as características do próprio trabalho que exigia grande proximidade com as famílias, propiciaram a que estas fossem ocupando entre nós um espaço, o que sentíamos como necessário para melhor nos adaptarmos à criança. Esses contactos semanais, essa aproximação, possibilitaram não só um trabalho com mais adequação, mas igualmente uma visão mais aproximada dos problemas das famílias e em consequência, uma procura de respostas às suas necessidades que eram sobretudo de suporte, de ajuda, de orientação.

Uma situação relacional, com estas características, isto é, com famílias, com histórias de vida próprias, de diferentes níveis sociais e culturais, com respostas também próprias aos problemas das crianças, suscita questões que exigem formação e exercício reflexivo constante.

O facto deste trabalho se desenvolver numa instituição, no nosso espaço, portanto, dava- nos um poder acrescido, que, na época, não nos suscitava qualquer questionamento.

Depois de alguns anos com este tipo de intervenção, iniciámos serviço itinerante aí já então em casa de cada família, embora ainda sem reconhecimento formal da importância do papel desta.

5.2. COMO SE INICIOU E SE FOI DESENVOLVENDO O TRABALHO

Foi pois em consequência de uma implicação nesta problemática assumida e desenvolvida ao longo de muitos anos de experiência e de reflexão sobre o vivido que decidi empreender o presente trabalho com o qual pretendo procurar compreender os constrangimentos que poderão estar presentes numa situação relacional com características tão próprias, tendo em conta os princípios em que se baseia esta nova filosofia de intervenção e o seu significado quer para os profissionais quer para as famílias.

Para sua concretização, optou-se por desenvolvê-lo em um dos Distritos do país, onde existe já um protocolo entre vários serviços, como preconizado pelo Despacho- Conjunto referido e igualmente em que, sobretudo em um dos seus concelhos há já uma longa história de intervenção precoce.

Após contactos com a responsável pelo Centro de Área Educativa desse Distrito, fui por ela convidada a estar presente em duas das reuniões que se realizam periodicamente com representantes dos vários serviços intervenientes e onde pude expor a minha pretensão que foi, sem qualquer restrição, aceite.

Iniciaram-se então contactos com as equipes dos dez concelhos onde esse trabalho se desenvolve e que conta com a colaboração de sessenta e três educadoras, através das quais pude conhecer algumas das educadoras com quem viria a trabalhar e simultaneamente ir tomando contacto com a realidade que me aguardava.

Percorrendo então as sedes das dez equipes concelhias, foram entregues cartas (anexo 1) dirigidas a cada uma das educadoras, assim como aos coordenadores, onde era explicitado o trabalho que se pretendia desenvolver e pedida a colaboração das educadoras e famílias. Essa colaboração consistia na sinalização de até cinco famílias por educadora, para posterior objecto de trabalho e que compreendia:

1- Estar presente, como observadora, em uma/duas sessões de trabalho da educadora com a família.

2- Entrevistar cada educadora.

3- Entrevistar cada família em questão.

Lamentavelmente, o ponto 1 não se concretizou, podendo aventar-se (sem confirmação) algumas justificações para isso. Seria até interessante tentar encontrar uma explicação mais cabal deste facto. Mas o que me foi dito é que em alguns casos, as crianças estão integradas em creches ou jardins de infância onde, recebem o apoio da educadora, sendo o trabalho com a família efectivado sem a presença da criança. Outra hipótese poderá ter sido, o ter havido alguma demora na resposta às cartas, (com excepção de uma das equipes), o que ocasionou que o trabalho se realizasse próximo do final do ano lectivo, uma época já um pouco conturbada.

Foram recebidas respostas de catorze educadoras, sinalizando vinte e quatro famílias, de quatro concelhos.

Duas coordenadoras enviaram desculpas por não haver participação das suas equipes. Uma delas, juntou a lista de crianças em atendimento no seu concelho e outra justificou- se com as famílias, sem no entanto clarificar as razões, juntando cartas de duas educadoras desculpando-se.

Por telefone, duas educadoras explicaram as razões da sua recusa em participar, tendo, segundo afirmaram, e no final de uma longa conversa, reconsiderado as suas posições, não tendo porém, participado.

Das educadoras que se dispuseram em princípio a participar, não se concretizaram por diversas razões algumas entrevistas, nomeadamente: uma das mães apresentava atraso mental, o que pensamos dificultaria a entrevista;, algumas mães terem começado a trabalhar, e relativamente a outras, foi-nos dito que, por ser Verão, estariam mais tempo no campo e ser por isso difícil encontrá-las. Finalmente, noutra família ter-se registado um caso grave de agressão do pai à mãe, tendo a educadora colaborado com a mãe na participação à GNR o que criou um clima pouco propício.

Assim, finalmente o trabalho desenvolveu-se com sete educadoras e dez famílias, de três concelhos, e teve de se realizar sobretudo a partir de dados recolhidos nas entrevistas. Todo este acidentado percurso que, assim se vê, se revelou de muito difícil acesso, terá, de certeza, significado que seria muito interessante analisar e que permitiria, muito provavelmente, ter acesso à compreensão de outros aspectos das relações que se estabelecem neste processo.