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CAPITULO 3. UMA IMAGEM CONVENCE MAIS QUE MIL PALAVRAS

3.3. O 'detalhe' técnico

3.3.1. O posicionamento do telespectador: a distância social

Kress e Van Leeuwen (1996, p.132) argumentam que há uma relação imaginária entre os participantes representados40 e o espectador, de modo que este aceite os participantes representados como amigos ou estranhos. A imagem posiciona os participantes representados pela distância, i.e., pela tomada de longa distância, média distância ou pelo close. Quanto mais próximo, i.e., na direção do

close, maior a sensação de proximidade com quem se observa – um conhecido.

Quanto mais distante, i.e., na direção da tomada de longa distância, maior a sensação de se observar alguém que não se conhece – um desconhecido. A tomada será selecionada dependendo do modo como a imagem pretende que o representado seja compreendido.

Nesse sentido, de que modo o telealuno é posicionado pelo TC2000-Inglês? Para respondermos a essa pergunta, analisaremos nosso objeto de estudo a partir de categorias fornecidas por Kress e Van Leeuwen.

O enquadramento dos participantes representados, i.e., das personagens se dá no material como um todo de dois modos: close-up e tomada a média distância. Em close-up, as personagens aparecem do meio do peito para cima, preenchendo o vídeo como se fosse uma fotografia 3x4. O telespectador é posicionado a uma distância pequena, mais íntima.

40 Kress e Van Leeuwen (1996, p.46) utilizam o termo técnico participantes representados como sendo vantajoso para referirem-se a tudo que está exibido em uma imagem. Alegam que o termo possui duas vantagens: 1ª: aponta para a característica relacional existente na própria palavra

participante, já que um participante participa de algo. 2ª: O participante representado é aquele ou

aquilo que se constitui no assunto da comunicação, i.e., as pessoas, lugares e coisas (incluindo coisas abstratas) representados/as no e pelo ato de comunicação, escrita ou imagem, enfim, os participantes sobre quem ou o que se fala, escreve ou produz imagens.

Em média distância, o telespectador é posicionado a uma distância que permita ver as personagens dos joelhos para cima. Essas tomadas são quase sempre filmadas em um cenário que representa um cômodo de um tamanho suficiente para se ver uma mesa de escritório com algum espaço no entorno, suficiente para alguém ficar em pé ao lado.

Essa é a sensação de distância imposta pelo material ao telespectador, uma vez que o fato deste se aproximar ou se afastar do vídeo não alterará essa configuração. Essa distância se enquadra na distância aceitável para amigos. Uma distância menor implicaria intimidade física, uma maior implicaria um distanciamento muito grande, como aquele que se mantém de estranhos ou de pessoas com as quais não se quer qualquer contato.

Em um imbricamento dos aspectos offer e demand com a distância os efeitos se multiplicam. Quando uma personagem do TC2000-Inglês está em close-up ou tomada de média distância, olhando diretamente para o telespectador, há um ‘eu’ que se propõe íntimo do telealuno. Quando a personagem está posta a uma distância média, por exemplo, conversando com outra, ignorando o telespectador, é como se o telespectador estivesse observando amigos que ignoram que estão sendo observados. Estamos, entretanto, sempre no plano do amigo mais ou menos íntimo.

Há, no entanto o big close-up, que é qualquer porção menor que a visão do busto (ombros para cima). Há um momento em que Tom, o jornalista americano, se põe a explicar o modo adequado de se posicionar a língua, os dentes e os lábios para a pronúncia do som representado pelo ‘th’. O telespectador vê a boca de Tom tomando quase todo o espaço do vídeo. Acreditamos poder dizer que essa imagem se põe num algo grau de objetividade quase científica. Esse seria um efeito gerado a partir da ausência do rosto como um todo e, principalmente, dos olhos, que, como já vimos, são os responsáveis pelo contato direto das personagens com o telespectador.

Vejamos como essa discussão pode ser conduzida em relação ao ambiente no qual as cenas se desenrolam. Kress e Van Leeuwen (1996, p.135) afirmam a

possibilidade de se aplicar o sistema de distância social à representação de objetos e o ambiente no qual se inserem.

Há a sugestão de uma relação mais próxima, por exemplo, quando Virgínia mostra como palavras em inglês fazem parte da vida de quem utiliza um computador. Vemos suas mãos digitando. Há momentos em que o telespectador é posto a uma distância média equivalente àquela na qual ele estaria se estivesse circulando pelo ambiente. Essas posições se alternam ao longo das cenas e do curso como um todo.

O posicionamento do telespectador em relação às personagens, aos ambientes e aos objetos parece sugerir que o material espera que o telespectador se envolva nas situações que ele assiste. Essa sensação de envolvimento deve aumentar nos momentos em que há demand e close-up, por exemplo.

O registro utilizado também colabora para a geração de sentido. Não é utilizado um registro impregnado de coloquialismos, nem tampouco extremamente formal. O registro é o conveniente a um ambiente de trabalho no qual as pessoas que circulam mantêm relação de amizade. O pronome de tratamento ‘você’ é muito comum, inclusive em momentos em que as personagens se dirigem ao telespectador. Adaptando o que Kress e Van Leeuwen (1996, p.135) afirmam sobre material impresso, pode-se dizer que tal estilo pode se prestar à tentativa de estabelecimento de relação de amizade com o telespectador. Essa relação pode desempenhar papel facilitador do movimento de persuasão que se quer discutir.

Como tivemos a oportunidade de observar, a conjunção das categorias offer e ‘distância’ procura construir uma posição confortável para o telespectador ao envolvê-lo para que se sinta parte do mundo que lhe é exibido. Virtualmente, o telespectador circula por um mundo que lhe é dado a sentir como seu, já que é um mundo habitado por amigos, mundo esse em que ele é convidado a circular. Essas categorias, portanto, contribuem para o processo hegemônico nas bases de uma persuasão do telespectador, apesar de haver momentos em que se utiliza de mecanismos coercitivos, como discutido anteriormente.

Como não há a utilização de tomadas de longa distância em proporção significativa, o telespectador não é posicionado de modo a se sentir como estranho às cenas que se desenrolam. Ele está sempre a uma distância que o traz para dentro da cena.

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