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2 ANÁLISE DA CONTRIBUIÇÃO DA COORDENADORIA REGIONAL DE

2.1.2 O PPP e a Construção da Autonomia da Escola

O entendimento de que o espaço público é um espaço coletivo é de fundamental importância numa escola. A reflexão sobre a escola que se tem e a escola que se quer ter se faz necessária. Proporcionar a liberdade a cada um dos atores de expor aquilo que pensa pode ser um caminho para a construção da autonomia da escola. A atuação da comunidade pode ser fundamental para isso. Veiga (2002, p. 2) afirma que a construção do PPP “propicia a vivência democrática necessária para a participação de todos os membros da comunidade escolar e o exercício da cidadania”. Esse exercício está intimamente relacionado à participação e ao envolvimento dos diversos atores no processo de construção da escola que se quer construir.

Bicudo (2001, p. 16), afirma que a importância do PPP reside “no seu poder articulador, evitando que as diferentes atividades se anulem ou enfraqueçam a unidade da instituição”. Consequentemente, um dos propósitos principais da construção coletiva do PPP das escolas sob a responsabilidade da Coordenadoria de Alvarães é que ele proporcione o fortalecimento das ações administrativas e pedagógicas nestas instituições. Portanto, o momento da elaboração do PPP de cada escola pode proporcionar um momento democrático participativo. Gadotti (1994, p. 3) lembra que “a atitude democrática é necessária, mas não é

suficiente; precisamos de métodos democráticos de efetivo exercício da democracia. Ela também é um aprendizado, demanda tempo, atenção e trabalho”.

Veiga e Resende (2013, p. 10) destacam que há dois momentos fundamentais na construção de um PPP, que são: “o momento da concepção e o da execução”. O momento da concepção nasce de uma preocupação da própria Coordenadoria Regional de Alvarães em dinamizar ainda mais o trabalho de suas escolas, e o momento da execução caberá às próprias escolas, que, democraticamente, deverão conduzir as diversas etapas da construção de seus PPPs. Nesse processo, é importante o envolvimento de todos os atores do contexto escolar. Oliveira (2006, p. 2) enfatiza que “é necessário rever essa organização para permitir a prática da participação e da democracia”.

Ademais, a construção da autonomia da escola é um dos fatores fundamentais que o PPP pode proporcionar. Veiga e Rezende (2013, p. 95) lembram que a palavra autonomia “transcende a quest es meramente político-administrativas, ligando-se à temática da liberdade, da democracia, da independência e da participação”. Já para Barroso (1996, p. 10), a autonomia “é o resultado do equilíbrio de forças, numa determinada escola, entre diferentes detentores de influência (externa e interna)”. Por esse motivo, é importante que os diversos atores, inclusive a gestão escolar, compartilhem as soluções e estejam engajados na busca de soluções para os problemas apresentados pela escola.

É preciso entender que o conceito de autonomia está associado à liberdade e à democracia, tendo também uma estreita relação com racionalidade. Para Veiga e Resende (2013, p. 100) a autonomia, no sentido de racionalidade, refere-se a aspectos organizacionais e melhoria dos serviços prestados. As autoras evidenciam que a melhoria do trabalho escolar está vinculada à maneira como as coisas são conduzidas e, portanto, a construção da autonomia depende de um planejamento bem elaborado.

Assim sendo, autonomia tem muito a ver com a identidade da instituição. Tem a ver com a postura que a instituição adota frente aos desafios que ela possui e a superação destes desafios. De acordo com Veiga e Resende (2013, p. 101), a autonomia se traduz em três principais eixos relacionados com as racionalidades interna e externa da instituição que são: “o administrativo, o pedagógico e o financeiro”. O desafio é da instituição é entender como esses eixos se encontram presentes no seu cotidiano, interpretando-os para que sejam parâmetros para a tomada de decisões.

É importante o entendimento de que num modelo centralizado, as instituições podem ser apenas meras executoras de politicas definidas em gabinete, com a autonomia, elas se transformam em sujeitos de sua própria história. (VEIGA e RESENDE, 2013, p. 107). É

necessário que a instituição busque livrar-se das amarras de um determinismo que consome o cotidiano das mesmas no que se refere à descentralização administrativa. Para Veiga e Resende (2013, p. 114):

Muitas instituições guardam a mesma estrutura organizacional estabelecida pelo centro, tem sua politica de pessoal definida pelo órgão superior e, quase sempre, por serem financeiramente dependentes, veem seu espaço de planejamento e gestão bastante limitado. Em consequência, esquecem-se de cultivar seus próprios valores, isto é, aqueles que incorporam a cultura da comunidade e enriquecem-na com outros; abrem mão do direito de fixar seus próprios objetivos, seu regimento, e até seu cotidiano é impregnado da visão do órgão central. Com a autonomia, uma escola poderá ter uma estrutura completamente diferenciada das outras, flexibilidade de contratação e alocação de pessoal, uma base financeira que lhe dê condições de agir independentemente e, principalmente, poderá definir seu projeto político pedagógico.

Uma instituição de ensino que busca a melhoria da sua realidade e fixa objetivos a serem alcançados tem muito mais chances de sucesso, porém a autonomia em uma realidade hierarquizada pode ser relativa. Assim sendo, a instituição precisa estar em sintonia com seu público na construção dos seus objetivos. O PPP, por ser um instrumento de democracia, deve ser construído com a participação de todos. Gadotti (1994, p. 3), afirma que “a autonomia e a participação – pressupostos do projeto político-pedagógico da escola – não se limitam à mera declaração de princípios consignados em algum documento”. Para esse autor, a autonomia está relacionada à postura adotada pelos diversos atores no sentido de participação, mas também de presença. Segundo ele, a presença “precisa ser sentida no conselho de escola ou colegiado [...] não basta apenas assistir reuni es” (idem, p. 3).

Há uma estreita relação entre autonomia e PPP, pois ele é um instrumento que consta o que, por que e de que maneira vai ser feito para que a instituição consiga alcançar os resultados, ou seja, há uma harmonização entre aquilo que a escola pretende e o que o estado tem para oferecer. Isso proporciona à instituição a possibilidade de definição de seu compromisso com sua clientela e seu nível de autonomia. Esse compromisso é firmado por toda a comunidade escolar por meio de um projeto elaborado de maneira democrática e participativa, portanto, em essência, é um Projeto Político Pedagógico. De acordo com Veiga e Resende (2013, p. 113) “o projeto (político) Pedagógico dá voz à escola e é a concretização de sua identidade, de suas racionalidades interna e externa e, consequentemente, de sua autonomia”.

Portanto, a autonomia é essencialmente algo a ser construído em um espaço democrático, pois ela pode, inclusive, apresentar-se como antidemocrática e fator de aumento de desigualdades se ela for outorgada de maneira tal que as escolas fiquem abandonadas à própria sorte (VEIGA e RESENDE, 2013, p. 117). Por conseguinte, há a necessidade de a autonomia ser fruto de uma conquista coletiva, ou seja, produto de um pensamento construído coletivamente, pois, toda instituição de ensino, em síntese, é uma prestadora de serviço à comunidade e precisa estar aberta à participação dessa comunidade.