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Por ora, nos cumpre dizer que o art. 495 do CPC, dispõe sobre o prazo pra

propositura da ação rescisória. Assim, a mesma deve ser proposta dentro do prazo decadencial

de dois anos do trânsito em julgado (ocorrência da coisa julgada material) da sentença ou

acórdão.

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Trata-se de prazo decadencial, portanto, prazo civil, não podendo ser prorrogado,

suspenso, ou interrompido, nas palavras de Theodoro Junior:

O prazo assinalado para o exercício do direito de propor ação rescisória é decadencial e não prescricional, conforme se depreende da emenda que o Congresso

71 DALL’AGNOL apud DIDIER JUNIOR, 2007, p. 352. 72 MOREIRA, 2000, p. 172.

73 MEDEIROS apud DIDIER JUNIOR, op. cit., p. 355. 74

DIDIER JUNIOR, 2007, p. 356.

75 “Art. 485 VI - cuja falsidade seja provada na própria ação rescisória; [...] art. 491 - se os fatos alegados pelas

partes dependerem de prova, o relator delegará a competência ao juiz de direito da comarca onde deva ser produzida a prova, fixando prazo de quarenta e cinco dias (45) a noventa (90) dias para devolução dos autos”. Cf. BRASIL. Lei n. 5.869 de 11 de janeiro de 1973, loc. cit.

introduziu no projeto do Min. Buzaid, para substituir a expressão prescreve por extingui-se no texto do art. 495.77

Sendo assim, o prazo não se suspende ou interrompe, diferente do que acontece

com os prazos prescricionais, e, findando-se o prazo aludido, ocorre o que a doutrina

menciona de coisa julgada soberana.

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A forma de contagem desse prazo será devidamente analisada no capítulo

seguinte.

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THEODORO JUNIOR, 2007, p. 791.

5 TERMO INICIAL DO PRAZO DECADENCIAL DA AÇÃO RESCISÓRIA

Enfim, passamos a tratar nesse trabalho monográfico o tema central que

objetivamos desde início, ou seja, a data inicial para a contagem do prazo decadencial de dois

anos para a propositura da ação rescisória.

Como visto no capítulo anterior, o prazo para propor a ação rescisória, prevista no

art. 495 do CPC, é de dois anos a partir do momento em que se forma a coisa julgada material

no processo.

Por isso questionamos, e procuramos responder também, considerando todos os

conceitos desenvolvidos nesse trabalho monográfico, quando se forma a coisa julgada

material no processo.

Primeiramente, cabe questionar se a coisa julgada se forma no momento em que a

decisão que se quer recorrer não caiba mais recurso, independente se existe recurso pendente

sobre outra matéria impugnada, ou se contaria da última coisa julgada formada no processo,

pouco importando se houve coisa julgada de outro pedido em momento anterior.

Outra questão, para o estudo do tema, também se mostrou relevante, a correta

conceituação de sentença. Como se viu, a ação rescisória é proposta sobre sentença de mérito.

Porém, o que seria sentença, tendo em vista as recentes mudanças legislativas promovidas

pela lei 11.232/2005, tal questionamento foi respondido no primeiro capítulo dessa

monografia.

Sobre o tema, muito se debateu na doutrina e na jurisprudência, por diversas

vezes, tiveram que enfrentar a matéria, mas a celeuma sempre permaneceu.

O assunto foi tratado com a profundidade devida pelo STJ, nos Embargos de

Divergência no Recurso Especial 404.777, decidido por maioria de votos (6 a 4), no sentido

da contagem do prazo decadencial de dois anos a partir da última sentença proferida no

processo, segue a ementa:

PROCESSUAL CIVIL - EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL - AÇÃO RESCISÓRIA - PRAZO PARA PROPOSITURA - TERMO INICIAL - TRÂNSITO EM JULGADO DA ÚLTIMA DECISÃO PROFERIDA NOS AUTOS - CPC, ARTS. 162, 163, 267, 269 E 495.

- A coisa julgada material é a qualidade conferida por lei à sentença ⁄acórdão que resolve todas as questões suscitadas pondo fim ao processo, extinguindo, pois, a lide.

- Sendo a ação una e indivisível, não há que se falar em fracionamento da sentença⁄acórdão, o que afasta a possibilidade do seu trânsito em julgado parcial.

- Consoante o disposto no art. 495 do CPC, o direito de propor a ação rescisória se extingue após o decurso de dois anos contados do trânsito em julgado da última decisão proferida na causa.

- Embargos de divergência improvidos.1 (grifo nosso)

Em seguida, foi interposto Agravo de Instrumento no STF a fim de ser revista a

decisão nos referidos embargos de divergência em Recurso Especial 404.777. Em decisão

monocrática a Ministra Carmen Lúcia, negou provimento ao Agravo, entendendo que a

matéria discutida é de natureza infraconstitucional, não podendo o STF, como guardião da

Constituição Federal, analisar o tema, segue ementa:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. PRAZO DECADENCIAL: TERMO INICIAL. IMPOSSIBILIDADE DA ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL: OFENSA CONSTITUCIONAL INDIRETA. PRECEDENTES. AGRAVO AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO.2

Não obstante, ainda pende no STF, agravo regimental nesse mesmo processo, que

tem como pretensão, a apreciação pelo órgão colegiado. Entendemos que a matéria vai se

encerrar ali mesmo, pois não é da competência do STF, consoante art. 102, III, da CF,

manifestar-se sobre questões não tratadas pela constituição federal.

A Súmula 401 do STJ, com o texto: “O prazo decadencial da ação rescisória só se

inicia quando não for cabível qualquer recurso do último pronunciamento judicial.”

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pacificou

temporariamente o assunto, definindo o correto proceder da contagem do prazo.

Entretanto, temos a clássica doutrina, que admite a sentença por capítulos,

sentença objetivamente complexa. Onde teríamos tantas ações rescisórias quanto fossem as

coisas julgadas dentro do processo.

Como exemplo para essa corrente doutrinária, temos o julgado, Recurso Especial

283.974 da lavra do Ministro José Arnaldo da Fonseca, 5ª Turma, julgado em 15 de outubro

de 2002:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO RESCISÓRIA. PRAZO. AJUIZAMENTO. TERMO A QUO. TRÂNSITO EM JULGADO DA MATÉRIA NÃO IMPUGNADA.

Este Superior Tribunal de Justiça já pacificou o entendimento de que "se partes distintas da sentença transitaram em julgado em momentos também distintos, a cada

1

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Embargos de divergência em recurso especial n. 404.777. Relator: Min. Fontes de Alencar. Brasília, DF, 11 de abril de 2005. Disponível em:

<https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/Abre_Documento.asp?sSeq=440051&sReg=200301254958&sData=2 0050411&formato=PDF>. Acesso em: 3 de nov. 2010.

2

Id., Supremo Tribunal Federal. Agravo de Instrumento n. 611642. Relatora: Min. Carmen Lúcia. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=2415233>. Acesso em: 3 nov. 2010.

3 Id., Superior Tribunal de Justiça. Súmula n. 401. Disponível em:

<http://www.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=%40docn&&b=SUMU&p=true&t=&l=10&i=68>. Acesso em: 3 nov. 2010.

qual corresponderá um prazo decadencial com seu próprio dies a quo, para fins de ajuizamento de ação rescisória.

Recurso desprovido4

Na mesma linha de pensamento, Recurso Especial 212.286⁄RS, da relatoria do

Ministro Hamilton Carvalhido:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO RESCISÓRIA. PRAZO. AJUIZAMENTO. TERMO A QUO. TRÂNSITO EM JULGADO DA MATÉRIA NÃO IMPUGNADA.

Se partes distintas da sentença transitaram em julgado em momentos também distintos, a cada qual corresponderá um prazo, decadencial com seu próprio dies a quo: vide PONTES DE MIRANDA, Tratado da Ação Rescisória, 5º ed. pág. 353. (in Comentários ao Código de Processo Civil, de José Carlos Barbosa Moreira, volume V, Editora Forense, 7ª Edição, 1998, página 215, nota de rodapé nº 224). Precedentes.

Recurso desprovido.5

Procuramos nesse trabalho científico trazer as razões das duas correntes,

analisando primeiramente a tese da unicidade da sentença, e posteriormente a teoria da

sentença por capítulos, defendendo a que melhor se aplica ao processo civil brasileiro.

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