• Nenhum resultado encontrado

Minas Gerais é um território repleto de riquezas naturais, sociais e culturais, localizado no sudeste do Brasil com uma população estimada em 21.119.536 habitantes no ano de 2017,

distribuída em seus 853 municípios, em uma área de 586.520,732 km2 (IBGE, 2017).

Seu processo de ocupação se iniciou com a exploração de ouro no final do século XVII pelos bandeirantes paulistas, se intensificando com a descoberta de diamante no século XVIII. No decorrer do ciclo do pau-brasil, as expedições que adentraram o estado, pouco colaboraram para a criação e a expansão de núcleos populacionais e é apenas com o extrativismo dos metais preciosos que se incita um processo de povoamento mais efetivo do território mineiro (BDMG 1970).

No final do século XVIII, o ouro de aluvião na região central mineira apresentou sinais de escassez. Assim, foi preciso desenvolver instrumentos de ferro que possibilitaram a mineração aurífera subterrânea, e, portanto, a atividade mineradora se tornou o embrião da siderurgia mineira. A vocação do estado para o setor siderúrgico, graças às jazidas de minério de ferro e à profusão de florestas e de rios, data do início do século XIX, com a instauração de pequenas fundições que deram início a uma incipiente produção de ferro (LIBBY, 1988; GOMES, 1978).

Para a fabricação de ferro, a principal fonte energética é o carbono (C), o que atribui ao carvão vegetal um duplo papel, pois além de possuir um alto teor deste elemento para a redução do minério de ferro, atua como combustível no processo de fundição. Assim, a partir da combustão do carvão e da redução química do minério de ferro, obtem-se o ferro-gusa, ou simplesmente gusa, uma liga de ferro e carbono, composta por 92% a 96% de ferro, com teores máximos de 3% de silício e de 6% de carbono e uma pequena porção de manganês e enxofre (GOMES, 1978).

Nesta época, as técnicas utilizadas na fabricação do gusa eram primitivas e conduzidas artesanalmente por escravos em cadinhos e em forjas italianas e catalãs. O cadinho era um cilindro de alvenaria, de origem africana, muito difundido em razão da sua simplicidade de

manuseio, no entanto, requeria maiores quantidades de carvão vegetal e de mão de obra do que as forjas de procedência europeia (Tabela 3), que em contrapartida, careciam de conhecimento metalúrgico, sendo a catalã operada com maior habilidade técnica que a italiana (GOMES, 1978).

Tabela 3 - Rendimentos das técnicas empregadas na produção de 1t de ferro Técnica Produção em 12 hr

(kg)

Carvão vegetal (%) Mão de obra (dia)

Cadinho 100 700 27

Forja italiana 120 550 18

Forja catalã 320 309 13

Fonte: Gomes (1978).

A primeira forja catalã em funcionamento em Minas Gerais foi construída na Usina Monlevade por Jean-Antoine-Félix Dissandes de Monlevade, em 1827, no município de Caeté nas proximidades do Rio Piracicaba. Entre 1820 e 1860, várias fundições foram implantadas no estado, mas não criaram bases para a estruturação da siderurgia regional por motivos de falta de mão de obra especializada e das condições precárias de transporte. O declínio das forjas começou em 1885, quando a Estrada de Ferro Central do Brasil atingiu a Zona Metalúrgica, possibilitando a importação de ferro e aço do exterior e se acentuou com a libertação dos escravos em 1888. O aprimoramento gradual das forjas ao longo dos anos acabou resultando na criação do alto forno, cuja produção chegava a uma tonelada de gusa por 3,5 m3 de carvão (LIBBY, 1988; GOMES, 1978).

A FJP (1988), embora reconheça a importância das pequenas fundições mineiras durante o século XIX, pontua três momentos que respaldaram a modernização da siderurgia no estado. O primeiro, foi a criação da Escola de Minas de Ouro Preto, em 1876, a qual foi o passo introdutório para o desenvolvimento dos estudos sobre a mineralogia da região e para o domínio tecnológico da redução do minério de ferro. O segundo, foi o estabelecimento da Usina

Esperança, em Itabirito, no ano de 1888, responsável pelo acendimento do primeiro alto forno no território mineiro e a primeira siderúrgica independente a carvão vegetal dos país, produzindo 6 toneladas diárias de gusa, o equivalente a um consumo total de carvão de 21 m3. Por fim, a instituição da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, atual ArcellorMittal, em Sabará, em 1920, cujo alto forno operava com capacidade de 25 t/dia e no final da década de 1930, se transformou na maior e mais moderna siderúrgica brasileira a carvão vegetal (FJP, 1988; GOMES, 1978).

Na era Vargas, entre 1930 e 1945, Minas Gerais apresentou um impulso econômico devido à Grande Depressão, à Revolução de 30 e à Segunda Guerra Mundial, com o início da substituição de importações, resultando no desenvolvimento da agropecuária e do setor industrial, especialmente o da siderurgia, o da metalurgia e o de minerais não-metálicos (FJP, 1970). Nesta época, o governo brasileiro almejava a industrialização e em 1941, criou a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a primeira usina integrada no pais, localizada no município de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, inaugurando uma nova fase da siderurgia brasileira a coque metalúrgico em 1946 (FJP, 1988).

O coque, empregado no processo siderúrgico como agente redutor do minério de ferro, é um subproduto do carvão mineral, o qual é uma rocha sedimentar composta pela decomposição de matéria orgânica sob altas temperaturas e pressão. Do ponto de vista ambiental, o carvão mineral é um combustível fóssil, logo uma fonte de energia não renovável. No Brasil, é encontrado no sul do país, contudo, apresenta uma composição inferior à do Hemisfério Norte devido às suas impurezas, às suas cinzas e ao seu enxofre que interferem na produção do aço (BRITO, 1990).

Ressalta-se, portanto, que a partir de então, no território mineiro existiam as usinas independentes ou guseiras a carvão vegetal, de pequeno porte com capacidade entre 20 e 80

t/dia, fabricando somente o ferro-gusa e as usinas integradas tanto a coque quanto a carvão vegetal, verticalizadas, produzindo desde o gusa ao aço na mesma unidade fabril (Figura 4).

Figura 4– Estrutura da produção de ferro-gusa no Brasil

Fonte: Adaptado de CETEC (1987). Org.: da autora, 2017.

É importante destacar, que durante este período, a Belgo-Mineira expandiu sua capacidade produtiva com a fundação da Usina Barbanson, em João Monlevade, em 1937, onde foram instalados “[...] quatro altos fornos para fundição do gusa e geração do aço, laminação, trefilaria e oficinas elétricas e mecânicas, além do sistema de articulação ferroviária com a Estrada de Ferro Central do Brasil e com a ferrovia Vitória-Minas” (BRITO; OLIVEIRA; JUNQUEIRA, 1997, p. 69), facilitando o acesso portuário.

O abastecimento de carvão vegetal das usinas de Sabará e de João Monlevade era proveniente de reservas de mata nativa compradas pela empresa, notadamente, da região do Vale do Rio Doce (BRITO; OLIVEIRA; JUNQUEIRA, 1997). A Belgo-Mineira comprava as áreas de fazendeiros que primeiramente se apropriavam de terras devolutas, as legalizavam e expulsavam os posseiros recorrendo à violência que comumente culminava em morte, um

número aproximado de seis por noite (SIMAN, 1988 apud BRITO; OLIVEIRA; JUNQUEIRA, 1997).

Ainda durante o governo de Vargas, a segunda usina a carvão vegetal de grande importância no território mineiro, a Companhia de Aços Especiais Itabira (Acesita), atual Aperam South America, foi inaugurada no município de Timóteo, em 1944, com uma produção de 200 t/ano. Com excessão da Acesita, cujo acionista majoritário era o Banco do Brasil, todas as usinas siderúrgicas a carvão vegetal no estado eram de capital privado (GOMES, 1978).

Nos anos de 1950, a intesificação da substituição das importações, a política federal de integração nacional juntamente com a melhoria da infraestrutura de transporte, conectaram Minas Gerais a outros estados mais desenvolvidos, levando a um rápido progresso da indústria básica mineira, pois esta passou a ser responsável pelo suprimento de matéria-prima para o Rio de Janeiro e São Paulo (FJP, 1970). Neste decênio, foram construídas usinas integradas como a Usiminas em Ipatinga, empregando também o coque na produção do gusa e a Companhia Siderúrgica Mannesman, atual Vallourec, em Belo Horizonte, operando a coque nos primeiros anos de funcionamento. A Tabela 4 demonstra o predomínio da participação da produção de ferro-gusa mineira no país durante os primeiros anos de 1940. Após a instalação da CSN, em meados desta década, observa-se que o Rio de Janeiro aumentou expressivamente a sua produção que somada à de Minas Gerais perfizeram cerca de 92,5% do total brasileiro.

Tabela 4 - Produção de ferro-gusa a coque e a carvão vegetal no Brasil, em MG e no RJ entre 1941 e 1950 (t)

Ano Brasil Minas Gerais Rio de Janeiro

1941 208.795 186.427 18.258 1942 213.811 190.525 19.837 1943 248.376 216.716 27.413 1944 292.169 258.855 30.593 1945 259.909 215.991 26.413 1946 370.722 227.838 116.079 1947 480.929 249.227 195.164 1948 551.813 242.375 256.815

1949 511.715 223.460 213.887

1950 728.979 295.841 360.311

Total 3.867.218 2.307.255 1.264.770

Fonte: Anuário Estatístico de Minas Gerais, IBGE (1951). Org.: da autora, 2018.

Para a FJP (1988), ainda que o coque tenha sido empregado por algumas siderúrgicas, o uso do carvão de madeira continuou crescente no estado. Tal fato pode ser atribuído ao aumento da demanda das guseiras e das siderurgias integradas a carvão vegetal destinada às indústrias de bens de consumo duráveis entre 1940 e 1950, quando a fabricação nacional de gusa a carvão vegetal duplicou. No entanto, o carvão de mata nativa apresentava características muito heterôgeneas em decorrência do uso de diversas espécies para a sua fabricação. Ademais, à medida que aumentava a distância deste insumo em razão da exaustão da madeira no entorno das indústrias consumidoras, maiores eram os custos de frete (ARAÚJO, 1952 apud GOMES, 1978).

Logo, as usinas siderúrgicas de maior porte começaram a reflorestar com recursos próprios, sobretudo, com espécies exóticas e particularmente com o eucalipto, na década de 1940. A Belgo-Mineira, por exemplo, pela sua alta dependência de carvão vegetal, desde a sua implantação considerou o reflorestamento como um meio de abastecer a demanda da empresa (FJP, 1988) e em 1948, deu início aos plantios de eucalipto entre Nova Lima, na região Metropolitana de Belo Horizonte, e Coronel Fabriciano, no Vale do Rio Doce, expandindo sua superfície em seguida para Bom Despacho na região Central de Minas e para Várzea da Palma, no Norte do estado (GOLFARI, 1975). De acordo com Dean (1996, p. 270), “a usina Belgo- Mineira iniciou o plantio de eucalipto quando descobriu, alarmada, que as terras que havia desmatado na década de 20 não se reconverteram em floresta, como esperava, mas em capim”.

Quatro anos antes da iniciativa da Belgo-Mineira, a Companhia Melhoramentos de São Paulo, Indústrias de Papel realizou suas primeiras tentativas de reflorestamento, com Araucária

angustifolia, na Fazenda Levantina, no município de Camanducaia, na região Sul/Sudoeste do estado, na porção mineira da Serra da Mantiqueira, devido à sua proximidade com a indústria. A espécie exibia bom índice de crescimento em locais de mata, mas não em campos de altitude. Além disso, sua produtividade era inferior se comparada às espécies exóticas, deste modo, foi substituída por pinus e por eucalipto. Ainda, a região apresentava algumas restrições para o reflorestamento como o relevo dissecado a montanhoso, a grande distância dos centros de consumo e a pequena disponibilidade de terra (GOLFARI, 1975). Da mesma forma, em 1955, a Klabin Irmãos & Cia, produtora de celulose e papel desenvolveu o reflorestamento com araucária na Fazenda Boa Vista, em Sapucaí-Mirim; na Serra da Mantiqueira.

No que diz respeito ao pinus tropicais, a Florestas Rio Doce S.A., subsidária da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), realizou os plantios em Itabira no Vale do Rio Doce, em 1967. A empresa também desenvolvia a eucaliptocultura e tinha uma área de 15.000 ha em Santa Bárbara, em Barão de Cocais, em Nova Era, em Conceição do Mato Dentro e em Açucena, com sementes originárias da Austrália e da África do Sul. Todavia, era no Triângulo Mineiro, no Chapadão do Bugre, onde estava situado o maior plantio de pinus de posse da Companhia Resa. Durante os anos de 1970 e 1973, a companhia reflorestou o montante de 18.000 ha. Outras empresas também se destacaram com a pinocultura como a Caxuana S.A. e a Reflorestadora Perdizes entre os municípios de Uberlândia e Araxá (GOLFARI, 1975).

Em 1975, a Acesita ocupou o segundo lugar em área reflorestada, com 40.000 ha de eucalipto nos arredores de Coronel Fabriciano. Neste mesmo ano, a Belgo-Mineira tornou-se a proprietária do maior maçico de eucalipto por uma só empresa em escala global, com uma área na ordem de 90.000 ha, cuja finalidade era produzir carvão vegetal para os seus altos fornos (GOLFARI, 1975).

Nota-se, de acordo com as informações de Golfari (1975) que o direcionamento da eucaliptocultura foi do extremo sul do estado caracterizado por serras, escarpas íngremes e

topos pontiagudos, de relevo ondulado forte a montanhoso, para outras áreas do estado onde o relevo plano a ondulado suave permitia a mecanização (Figura 5). Além do relevo, o valor da terra também influenciou a escolha das áreas para o plantio de eucalipto. Em 1976, no Triângulo Mineiro, o preço do hectare era Cr$550,00. No Centro-Oeste o custo era Cr$220,00, enquanto que as terras devolutas do Vale do São Francisco e do Jequitinhonha eram negociadas a Cr$20,00. As terras de valores mais elevados contavam com melhores infraestruturas energética e de transporte, como no caso do Triângulo Mineiro que era provido com energia elétrica de alta voltagem e possuía uma malha ferroviária e rodoviária que o ligava a grandes centros consumidores como São Paulo e Belo Horizonte (IBDF, 1976).

Figura 5 – Deslocamento da eucaliptocultura na década de 1940

Fonte: Golfari (1975).

Apesar da expansão do reflorestamento no território mineiro, Golfari (1975) relata que desde o princípio, a atividade envolveu dificuldades que deveriam ser solucionadas para o êxito dos

maciços homogêneos, citando entre estes obstáculos: os problemas edáficos relativos às demandas nutricionais de certas essências e a deficiência de alguns solos; os climáticos, em razão das grandes variações do ciclo hídrico e térmico e das altitudes em diferentes regiões; os fitopatológicos, em virtude do surgimento de novas pragas; os técnicos e também os genéticos. Em relação à eucaliptocultura, acreditava-se que as dificuldades intrínsecas ao seu plantio haviam se resolvido pelo trabalho de Edmundo Navarro de Andrade. Até esta fase, as sementes utilizadas nos eucaliptais eram originárias do Horto Florestal de Rio Claro. O rendimento destas sementes oscilava entre 10 a 15 m3/ha/ano com o primeiro ciclo de corte realizado aos sete anos (REZENDE, 1981). No entanto, algumas questões sobre a qualidade das sementes produzidas no país surgiram decorrentes dos resultados não satisfatórios relativos à uniformidade e à heterogeneidade dos povoamentos (GOLFARI, 1975).

É importante salientar que o carvão vegetal de eucalipto não conseguia suprir toda a demanda do setor siderúrgico e assim, a madeira de mata nativa continuava sendo utilizada no funcionamento dos altos fornos (FJP, 1988).

Em meados da década de 1960, foi implantado no país o regime militar que perdurou de 1964 a 1985, cujo modelo de desenvolvimento tinha como alicerce o crescimento econômico apoiado na expansão industrial, sobretudo, dos setores siderúrgicos e de celulose e papel, o que fez dos incentivos fiscais para o florestamento e o reflorestamento importantes indutores da eucaliptocultura em Minas Gerais. De acordo com Fernandes (2007), várias instiuições como o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BMDG), o INDI, a FJP e a Companhia de Distritos Industriais (CDI) foram criadas para estruturar o desenvolvimento socioeconômico estadual, as quais “exerceram papel fundamental nas mudanças que se processaram nos anos seguintes” (FERNANDES, 2007, p. 17).

4 A EXPANSÃO DA EUCALIPTOCULTURA NO TERRITÓRIO MINEIRO