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Capítulo IV – Avaliação dos professores no Sistema de Ensino Português – o

IV.2. O primeiro modelo de Avaliação de Desempenho Docente

O primeiro modelo de avaliação docente é legislado pelo Decreto Lei nº139 – A/90 de 28 de Abril, alterado pelos Decretos Lei nº105/97 de 29 de Abril, nº1/98 de 2 de Janeiro, nº35/2003 de 23 de Fevereiro, nº 121/2005 de 26 de Junho e o Decreto Lei nº229/2005 de 29 de Dezembro, diplomas que estabelecem o primeiro Estatuto da Carreira Docente (ECD) e vão fazendo ao mesmo ligeiras alterações. Este remete a regulamentação do processo de ADD (artº39.º, número 4 Dec. Lei nº 139 – A/90 de 28 de Abril) para futuro decreto regulamentar, que se operacionaliza no Decreto Regulamentar nº11/98 de 15 de Maio. Neste decreto, em linhas gerais, o modelo de ADD tinha por objectivo:

“a melhoria da qualidade da educação e ensino ministrados através do desenvolvimento pessoal e profissional do docente, bem como a adequação da organização do sistema educativo às necessidades manifestadas pela comunidade no âmbito da educação e realiza-se de acordo com parâmetros previamente definidos, tomando salvaguardados perfis mínimos de qualidade” (Introdução)

No âmbito das determinações previstas neste normativo, o processo de ADD consistia na entrega de um documento de reflexão crítica elaborado de forma sucinta contendo a “apreciação da actividade docente nas suas componentes lectiva

e não lectiva”(Artº 6.º, número 1) a apresentar pelo docente ao órgão de gestão(artº5.º, número 1), no qual deveriam constar

“os seguintes indicadores e elementos de avaliação: a) serviço distribuído; b) relação pedagógica com os alunos; c) cumprimento dos núcleos essenciais dos programas curriculares; d) desempenho de outras funções educativas, designadamente de administração e gestão escolares, de orientação educativa e de supervisão pedagógica; e) participação em projectos da escola e em actividades desenvolvidas no âmbito da comunidade educativa; f) acções de formação frequentadas e respectivas certificações; g) estudos realizados e trabalhos publicados” (artº6.º, nº2).

Este documento deveria ser apresentado anualmente pelos professores contratados e de três em três, ou de quatro em quatro anos, para os docentes em progressão na carreira, dependendo do escalão em que se situassem, devendo fazer referência a cada ano lectivo leccionado. Tratava-se, então, de uma carreira única, com dez escalões, sendo a entrada na carreira iniciada com um período probatório correspondente a um ano de serviço.

Para a atribuição de Não Satisfaz (artº12.º) ou de Bom (artº13.º) era criada uma Comissão de Avaliação para analisar o documento e elaborar um relatório. O Bom era solicitado, após a saída da avaliação de Satisfaz, aos órgãos de Gestão que dariam andamento ao processo (artº13.º). A comunicação da menção de Não Satisfaz era feita por escrito, acompanhada da “respectiva fundamentação, bem como de uma proposta de formação que permita ao docente superar os aspectos do seu desempenho profissional identificados como negativos no respectivo processo de avaliação”(artº12.º, número 5).

IV.2.1. Perfil de Competências do Professor

Na sequência do primeiro Estatuto da Carreira Docente (ECD) foi definido o perfil de competências dos professores dos ensinos básico e secundário e dos educadores de infância que visava, em quatro dimensões, definir qual o desempenho do professor/educador em cada uma delas. Para uma maior clarificação do conceito de perfil de competências convocamos o pensamento de Peterson (2003), que perfilhamos. Para este autor, perfil de competências diz respeito “aquilo que o professor deve saber (homo sapiens), fazer (homo faber), e ser (homo socialis) no fim da sua formação” (ibidem: 31). Esta formação, ainda segundo Peterson, (2003), depende do “quadro político (institucional), das finalidades educativas e do modo de gestão do sistema educativo de um determinado pais” (ibidem: 32).

No quadro das finalidades educativas e da avaliação de desempenho docente, expressas na LBSE, detemo-nos, então, agora no perfil de competências do professor/educador uma vez que este deverá ser tido em conta aquando de uma avaliação de desempenho docente. Este perfil de competências designado “Perfil geral de desempenho profissional do educador de infância e professores dos ensinos básico e secundário” está regulamentado desde 2001 com o decreto-lei 240/2001, de 30 de Agosto. Este documento “enuncia referências comuns à actividade dos docentes de todos os níveis de ensino” (ponto I), nomeadamente no que diz respeito a quatro dimensões fundamentais: a dimensão profissional, social e

ética em que “o professor promove aprendizagens curriculares, fundamentando a

sua prática profissional num saber específico resultante da produção e uso de diversos saberes integrados em função das acções concretas da mesma prática, social e eticamente situada” (ponto II); a dimensão de desenvolvimento do ensino e

da aprendizagem, “no âmbito de um currículo, no quadro de uma relação

pedagógica de qualidade, integrando com critérios de rigor científico e metodológico, conhecimentos das áreas que o fundamentam” salientando-se a alínea f que refere a utilização da “avaliação, nas suas diferentes modalidades e áreas de aplicação, como elemento regulador e promotor da qualidade de ensino da aprendizagem e da sua própria formação” (ponto III); a dimensão da participação na escola e da relação

com a comunidade, em que “o professor exerce a sua actividade profissional de uma

forma integrada, no âmbito das diferentes dimensões da escola como instituição educativa e no contexto da comunidade em que se insere” (ponto IV); e a dimensão

de desenvolvimento profissional ao longo da vida, em que “o professor incorpora a

sua formação como elemento constitutivo da sua prática profissional, construindo-a a partir das necessidades e realizações que consciencializa, mediante a análise problematizada da sua prática pedagógica, a reflexão fundamentada sobre a construção da profissão e o recurso à investigação, em cooperação com outros profissionais” (ponto V). Como se depreende destas diferentes dimensões o perfil de competências do professor/educador revela-se demasiado complexo e abrangente pressupondo uma concepção de professor/educador cuja acção não fica confinada à dimensão do ensino-aprendizagem e as questões didáctico-pedagógicas.

Tendo em conta que os sujeitos centrais da nossa investigação são professores do 1º CEB importa aqui referir o decreto-lei 241/2001, anexo II, que estabelece especificidades do Perfil de Desempenho Profissional do professor deste nível de ensino, acrescentando que o professor do 1º ciclo :

“desenvolve o respectivo currículo no contexto de uma escola inclusiva, mobilizando e integrando os conhecimentos científicos das áreas que o fundamentam e as competências necessárias à promoção da aprendizagem dos alunos…; promove a aprendizagem de competências socialmente relevantes no âmbito de uma cidadania activa e responsável, enquadradas nas opções de política educativa presentes nas várias dimensões do currículo integrado deste ciclo”.

São ainda especificadas as competências que este professor deve desenvolver nos seus alunos no âmbito das várias áreas curriculares, nomeadamente na de Língua Portuguesa, de Matemática, de Ciências Sociais e da Natureza, de Educação Física e da Educação Artística.

Não deixa de ser curioso que tal perfil específico só esteja legislado para educadores de Infância e para professores do primeiro ciclo. Admitimos, ou pelo menos queremos nisso acreditar, que tal se possa dever ao facto de ser politicamente reconhecida uma importância magistral destes agentes educativos na formação dos alunos numa fase da vida que terá repercussões na sua formação futura.

IV.3. O modelo de Avaliação de Desempenho Docente em vigor no biénio