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2 REVISÃO DE LITERATURA

3.4 Instrumentos de pesquisa

3.4.1 O princípio do pentatlo

Low (2005) propôs cinco parâmetros sob os quais se poderia analisar tradução de músicas: cantabilidade, sentido, naturalidade, ritmo e rima). Essa base teórico-metodológica é denominada por ele como Princípio do Pentatlo. Tal nome surge como uma metáfora para o trabalho que o tradutor terá ao traduzir uma canção.

Em uma competição esportiva, o pentatlo envolve cinco eventos, dentre os quais o esportista não pode ignorar nenhum, mas pode dar maior foco ao esporte em que ele se saia melhor, para que, ao exceder neste, compense falhas nos outros. Contudo, para que ele seja bem- sucedido no pentatlo, se faz necessário um bom desempenho em todos esses eventos para que a sua pontuação total seja notável.

Logo, fica visível a relação que se pode fazer entre o pentatlo como modalidade esportiva e o processo de tradução. Assim como o atleta no pentatlo, o tradutor tem cinco eventos dos quais deve participar, sem deixar nenhum de lado. Nessa analogia, os eventos são critérios aos quais o tradutor deve satisfazer em seu processo, os balanceando simultaneamente.

Low (2005) afirma que esses critérios são responsabilidades do tradutor para com: “o cantor [cantabilidade], o autor [sentido], o público [naturalidade], e ao compositor [ritmo]. O quinto critério (rima) é um caso especial” (LOW, 2005, p. 192).

Para um melhor entendimento dessas nomenclaturas, apresentaremos um exemplo após a explicação de categoria, com versos retirados do corpus desta dissertação. Contudo, como os versos apresentam várias das categorias simultaneamente, utilizaremos versos em que a falta de tal aspecto tenha ficado mais evidente. Não traremos, portanto, nenhum exemplo para a categoria cantabilidade, visto que não consideramos que tenha faltado cantabilidade em nenhum dos versos do corpus.

A cantabilidade concerne aos aspectos que vão tornar uma canção traduzida, para quem canta, uma composição confortável de ser cantada. Deve, então, receber prioridade por parte do tradutor. Ela engloba fatores como performabilidade, ou seja, a capacidade de torná-la

uma canção à qual se possa transmitir uma performance que faça o público refletir, chorar ou mesmo rir; assim como fatores relacionados à fonologia da língua alvo, como escolhas de palavras com consoantes e vogais confortáveis de se cantar em notas agudas e graves.

O sentido, como o nome sugere, tem a ver com o significado pretendido pelo autor. De acordo com Low (2005), o tradutor deve escolher palavras que possuam a maior semelhança possível com as do texto fonte.

Vale ressaltar que, embora o teórico reconheça que um gênero no qual detalhes como o número de sílabas autorizam modificações por parte do tradutor, ele é um pouco extremo: Low (2005) defende que uma música que tenha seu sentido mudado em sua tradução não deve ser sequer entendida e estudada como tradução. Contudo, ele admite que o gênero música e suas particularidades faz com que manipulação por parte do tradutor seja aceitável, desde que respeite a mensagem do autor.

Quadro 1 – Exemplo categoria sentido

Verso fonte Verso alvo

‘Cause her head’s up on some cloud Pensa que é especial

Fonte: Elaborado pelo presente autor.

Já a naturalidade é entendida como a capacidade de fazer a canção traduzida soar como uma composição que poderia ser uma canção original na língua alvo. Para tanto, o tradutor deve adaptar a letra da música à gramática de tal língua, mesmo que para isso seja necessário alterar estruturas frasais da língua fonte, como a ordem dos seus componentes. Contudo, tampouco seria natural modificar tais estruturas na língua alvo apenas para perseverar rimas, por exemplo.

Low (2005) argumenta que uma canção que não possua naturalidade exige um esforço desnecessário por parte do público, o que deve ser evitado. Isso porque ele entende que, ao contrário de um livro, que podemos reler um trecho que não compreendemos, a música deve impactar o ouvinte logo na primeira audição.

Quadro 2 – Exemplo categoria naturalidade

Verso fonte Verso alvo

Fonte: Elaborado pelo presente autor.

Quanto ao ritmo, Low (2005) aponta que teóricos como Nida (1964) e Noske (1970) acreditavam que o ritmo e número de sílabas de uma canção traduzida obrigatoriamente deveriam ser os mesmos da canção fonte. O autor, no entanto, acredita que, embora tal condição fosse de fato a ideal, na prática não há problema em adicionar ou remover sílabas – ou mesmo palavras –, desde que essas modificações fossem coerentes e não trouxessem à tona nada que não já estivesse na mensagem do texto fonte.

Outro aspecto que o teórico considera como ressalva a esta categoria, que dá margem de flexibilidade ao tradutor, é a tonicidade, no qual ele ressalta que pequenas modificações na marcação do stress entre sílabas são aceitáveis, desde que tais ênfases não fujam muito das do texto fonte.

Quadro 3 – Exemplo categoria ritmo

Verso fonte Verso alvo

So I'm making plans to woo and marry Belle E é por isso que eu quero casar com ela

Fonte: Elaborado pelo presente autor.

E, por fim, a rima. Low (2005) a coloca como último critério justamente por tantos outros a colocarem como prioridade. O autor aponta que, ainda que seja bom manter a mesma quantidade de rimas – especialmente em fins de estrofes –, assim como suas estruturas, muitas vezes os tradutores, em busca de manter a exata quantidade e localização das rimas, fazem com que versos inteiros soem não naturais apenas a serviço de concluí-los com uma rima.

O que não significa, contudo, que o tradutor pode simplesmente ignorar as rimas, visto que que elas são uma parte bastante distinta do gênero música.

Como solução, Low (2005) propõe até mesmo que o tradutor possa se utilizar de rimas que não sejam precisas, como rimas imperfeitas, toantes ou aliterantes.

Quadro 4 – Exemplo categoria rima

Verso fonte Verso alvo

Oh, isn't this amazing?

It's my favorite part because—you'll see Here's where she meets Prince Charming But she won't discover that it's him 'til Chapter

Three!

É um lindo romance

Eles dois se encontram em um jardim É o Príncipe Encantado Mas ela descobre quem ele é quase no

Fonte: Elaborado pelo presente autor.

No fim das contas, o que Peter Low propõe com seu Princípio do Pentatlo pode ser resumido em apenas uma palavra: equilíbrio. Para que se atinja tal equilíbrio, o autor acredita que a tarefa do tradutor é pesar suas opções caso a caso e balanceá-las, de modo a construir um texto que possa ser realizado oralmente, e, mais importante, que atenda ao propósito do gênero música: se conectar com o público.

E como o musical como gênero narrativo está intrinsecamente relacionado a como as canções transmitem sentimentos, desejos ou mesmo histórias de vida, é essencial que, ao se traduzir uma canção de um musical, o tradutor tenha em mente esse equilíbrio, de modo que essa canção conecte quem está assistindo à peça ou filme àquela trama, fazendo com que a audiência, ria, chore ou se apaixone por aqueles personagens.

Agora, abordaremos sobre uma área que nos forneceu subsídio para a realização da análise quantitiva: a linguística de corpus.

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