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Como magistrada atuante na Comarca de Araguaína, observo a recorrência de um problema nas audiências: as mulheres que sofreram violência e denunciaram expõem o desejo de renunciar ao processo, mas não encontram respaldo legal. Na maioria dos casos, reataram relações afetivas com o agressor e normalizaram as relações familiares. Diante dessa problemática, a magistratura se vê diante de um impasse, na verdade, diante de uma contradição, dado que constitucionalmente a liberdade da mulher deveria ser respeitada, mas a tutela do Estado não prevê o fim do processo naquela fase, senão na fase policial. Entende-se que as custas de processo são altas para que os resultados não sejam o esperado pela vítima e nem sejam relevantes no tocante à proteção da família.

A Parte II do Relatório Técnico apresenta a pesquisa prática, trazendo à tona a interpretação dos dados coletados junto a Vara Especializada no Combate à Violência Doméstica e Familiar, entre os anos de 2016 – 2018, na Comarca de Araguaína/TO.

Os resultados são fruto das análises com foco no problema de pesquisa: o problema da retratação da mulher perante o juizado. Os dados coletados foram analisados com base nas diferentes fases da análise de conteúdo: pré-análise, a exploração do material, o tratamento dos resultados com base em abordagem qualitativa e com foco na interpretação. A partir disso, foram construídas tabelas sistematizadoras com as informações distribuídas em gráficos. As ações relacionadas à Meta 8, descritas na seção anterior, foram desenvolvidas em consonância com a pesquisa prática.

Os dados da pesquisa documental, para uma abordagem quantitativa, foram coletados no sistema de processos eletrônicos E-PROC, do Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins (TJ/TO), da Vara Especializada no Combate à Violência Doméstica e Familiar da Comarca de Araguaína, estado do Tocantins. Tais dados foram solicitados ao Departamento de Tecnologia da Informação do Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins, relatório estatístico dos dados de processos e inquéritos da violência doméstica em todas as Comarcas do Estado, no período de 2016 a 2018. Procedeu-se à criação de um SEI (Sistema Eletrônico de Informação), nº 19.0.000025847-7, sob o compromisso de os dados serem utilizados somente para pesquisa, o que foi deferido, sendo estes selecionados para análise os dados referentes a Comarca de Araguaína/TO.

Quanto aos procedimentos metodológicos da pesquisa, o corpus foi formado inicialmente por 3.929 processos julgados, existentes na Vara Especializada no Combate a Violência Doméstica e Familiar da Comarca de Araguaína/TO entre os anos de 2016 a 2018. Destes, 477 processos eram de ações penais públicas condicionadas a representação da ofendida, objeto da pesquisa.

Portanto, foram excluídos da análise de pesquisa 3.452 processos, por não interessarem à pesquisa, visto que se tratava de ações penais referentes a crimes de ações públicas incondicionadas, ou seja, nesses processos cabe ao Ministério Público ter a iniciativa de denunciar o suposto autor e não há permissão na lei para a vítima requerer o arquivamento.

Dos 477 processos em que se procede mediante a representação da ofendida, em 279 processos as vítimas ratificaram a representação oferecida na fase policial, isto é, ao serem ouvidas em juízo, informaram que tinham interesse que o processo continuasse tramitando até o deslinde final. Assim, as vítimas demonstraram que estavam seguras da decisão de ter representado criminalmente contra o agressor e queriam ver o processo julgado pelo juiz. Restaram, dessa forma, 198 processos, sendo que em todos eles, a pesquisadora ouviu os depoimentos das vítimas e todas elas afirmaram que gostariam de ter requerido o arquivamento do processo, mas deixaram de fazer por falta de conhecimento jurídico.

Essas mulheres perderam o prazo previsto em lei para requer o arquivamento e as ações penais tiveram continuidade, com tramitação regular, em que pese o descontentamento delas, constituindo o corpus ou problema de pesquisa neste relatório. A tabela abaixo representa a delimitação do quantitativo dos processos em análise e divide a pesquisa em quatro fases, conforme segue:

Tabela 1 – Fases da pesquisa e delimitação dos processos conforme o problema de pesquisa Ano/referência da amostra 2016-2018 Ações desenvolvidas Número total de Processos julgados/Vara Processos Excluídos Observações Fase 1 Levantamento e compilação do material 3.929 3.452 2 Processos de Medida Protetiva de Urgência não foram analisados (a ofendida pode desistir em qualquer fase processual) 3 Processos de ações penais públicas incondicionadas não foram analisados (a vítima não poderá requerer o arquivamento do processo)

Fase 2 Análise manual e individualmente

477 279 Foram excluídos

dos processos que versaram sobre os delitos que dependem de representação da vítima para o prosseguimento da ação. Ações penais públicas condicionadas a representação da ofendida as vítimas não manifestaram no depoimento contido na sentença interesse em retratar. Fase 3 Análise das falas

das vítimas na audiência em que as ofendidas foram ouvidas 198 Ações penais públicas condicionadas a representação da ofendida - Interesse da vítima em retratar. Impedimento da manifestação da vítima (artigo 16 da Lei nº 11.340/2006 Fase 4 Resultados da análise Elaboração de gráficos e textos síntese da análise - Conclusões

Fonte: Elaboração própria

Os processos considerados e analisados na pesquisa são aqueles em que há no texto da sentença o depoimento da vítima manifestando o interesse em se retratar na fase de instrução e julgamento. Ou seja, foram excluídos da análise os processos que não tratavam especificamente sobre a retratação da vítima. Nesse caso, são 198 processos, conforme tabela acima, julgados com resolução de mérito, relacionadas as ações penais públicas condicionadas a representação da vítima com desejo de se retratar.

Ao ouvir as mulheres, buscou-se compreender, a partir de uma análise qualitativa os motivos pelos quais a vítima desejava retratar, embora já na fase de instrução e onde não é mais possível a renúncia, buscando uma forma de subsidiar as ações do magistrado quanto às determinações previstas na sentença, considerando outras alternativas que podem ser desenvolvidas, como as parcerias com os entes públicos, por exemplo, para determinar o tratamento dos envolvidos.

Contudo, uma dificuldade encontrada para o desenvolvimento de alternativos foi a inexistência de dados que revelassem o perfil da família em situação de violência, características em relação à cor, escolaridade, profissão, último emprego, número de filhos, dependência química ou alcoolismo, necessidades especiais, bem como de informações socioeconômicas, culturais, etc., para auxiliar na tomada de decisões. O sistema E-PROC não possui um link com estas informações fundamentais para o juizado.

Então, foi feita uma carta com recomendações ao Presidente do Tribunal de

Justiça, a título de produto da pesquisa, com uma proposta para a criação de um link no

descritas na carta. Evidentemente que, conhecendo o perfil da família, o juizado pode tomar decisões que representem ações efetivas na prevenção da não reincidência pelo agressor, em que o poder público deverá cumprir em relação aos serviços que deverão ser prestados indicados na sentença, quando este for de responsabilidade do ente público.

Embora o TJ/TO desenvolva ações relacionadas a prevenção através da Justiça Restaurativa, por exemplo, tais informações são de grande valia para que o magistrado possa fazer recomendações aos entes públicos ou encaminhamento para instituições no sentido de promover a inclusão da família em programas de assistência e projetos e assistências que possam minimizar os impactos da violência sofrida e eliminar as agressões futuras. Para tanto, há que se fortalecerem as políticas públicas voltadas para o atendimento desse público – o tratamento do agressor e da vítima, de dependência, o acompanhamento dos filhos, dentre outros atendimentos necessários para restabelecer a família em caso de retratação da vítima.

Dessa perspectiva, o tema do instituto da retratação, previsto em lei como garantia dos direitos fundamentais da mulher que sofre violência doméstica e familiar, integra o campo do Direito Penal, mas exige um tratamento interdisciplinar que, por si só, o enfoque penal não consegue dar sem que haja um contexto – aquele em que se encontram as mulheres em situação de violência e sua família. Portanto, torna-se necessário haja um tratamento interdisciplinar que integre, além do direito penal, questões ligadas diretamente ao campo da Saúde Pública, da Psicologia, do Serviço Social, da Educação (temáticas direcionadas a prevenção e combate à violência contra a mulher), do Direito Constitucional, como também dos Direitos Humanos, relacionados ao Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, para garantir assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram.

Durante a pesquisa, buscou-se atingir um objetivo principal: analisar a atuação do instituto da retratação da Lei nº. 11.340, de 7 de agosto de 2006 como garantia dos direitos fundamentais da mulher que sofre violência doméstica e familiar, procurando formas de justificar que não cabe ao Estado, mas sim à vítima decidir pela continuidade do processo contra seu agressor, inclusive como forma de diminuir o quantitativo de demandas processuais judicializadas e preservar os direitos fundamentais da mulher vítima de violência intrafamiliar.

Para tanto, buscou-se na interpretação qualitativa dos dados os argumentos que pudessem respaldar o objetivo da pesquisa, no sentido de estimar a importância do instituto da retratação da vítima na proteção dos direitos fundamentais da mulher e se esse instrumento diminui os processos levados ao Poder Judiciário, caso em que os dados em termos percentuais devem constatar.

Enfim, os dados referentes aos processos analisados estão apresentados ano a ano para visualização do contexto justificador da pesquisa.

Tabela 2 – Situação dos processos julgados em 2016 Liberdade Provisória Ações Penais Medidas Protetivas de Urgência Termo Circunstanciado de Ocorrência Inquéritos Policiais Execuções de Alimentos Cumprimento de Sentença Total 02 649 496 03 71 02 01 1.572

Fonte: elaborado pela autora da pesquisa (2019)

Destaca-se que dentre as 649 ações penais, 197 versaram sobre os delitos que se processam mediante ações públicas condicionadas à representação. Destas, em 72 demandas as vítimas demonstraram em seus depoimentos que possuíam interesse em se retratar já na fase de instrução e julgamento, mas não o fizeram por falta de conhecimento jurídico sobre o prazo. Nesse momento, revela-se um problema, porque a mulher deveria estar sendo orientada por advogado ou por um defensor público. Registra-se que os depoimentos são gravados e o(a) magistrado(a) tem acesso. No caso, a pesquisadora teve acesso direto às informações, notadamente, ao desejo de retratar e aos motivos da vítima nessa decisão (que, em grande medida, eram recorrentes).

Tabela 3 – Situação dos processos em que as vítimas tinham interesse em se retratar já na fase de instrução e julgamento

Ações Penais Ações Públicas condicionadas à representação

Demandas onde havia interesse da vítima em retratar

649 197 72

Fonte: Elaboração própria

Observa-se que 72 mulheres desejavam se retratar nas ações penais que se procedem mediante representação, na fase de instrução e julgamento. Ocorre que a sua manifestação nesta fase processual não tem relevância jurídica, não podendo ser acolhida, em razão da vedação prevista no artigo 16 da Lei n°. 11.340/2006.

Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público. (CURIA, CÉSPEDES e JULIANA, 2006, p. 1716).

Desta feita, verifica-se que o número de vítimas que não desejavam a tramitação do processo é elevado, isto é, em 2016, mais de um terço das vítimas ouvidas em juízo não tinham mais interesse na continuidade do processo.

Esta falta de interesse na tramitação dos processos decorre dos mais diversos motivos, sendo que ao ouvir os relatos das vítimas, as razões mais citadas, de forma recorrente foram: a) o casal já reatou o relacionamento conjugal; b) ambas as partes já estão em outros relacionamentos; c) a vítima já obteve as providências jurídicas que almejava (divórcio, pensão para os filhos, o afastamento do agressor do imóvel do casal e também a proibição de aproximação com a requerida), dentre outros motivos.

Em seguida, foi elaborado um gráfico com os percentuais de processos julgados, por natureza, ou seja, o percentual de ações penais; medidas protetivas de urgência e inquéritos policiais, todos referentes aos julgamentos ocorridos em 2016.

Gráfico 1- Percentual de vítimas que tinham interesse em se retratar no ano de 2016, na Comarca de Araguaína/TO, nos delitos praticados nos moldes da Lei 11.340/06, de ações públicas condicionadas à representação. Todavia, não se manifestaram antes do recebimento da denúncia. Percentual: 36,5%.

Fonte: Elaboração própria

O gráfico 1 demonstra que das 197 ações públicas condicionadas à representação da ofendida que foram analisadas no ano de 2016, na Comarca de Araguaína, em 72 processos, correspondendo a 36,5% das ações penais, as vítimas afirmaram em audiência de instrução e julgamento que queriam renunciar, mas não o fizeram antes do recebimento da denúncia.

Outro dado importante, que também foi objeto de pesquisa e análise, é que em 71 processos analisados, onde as vítimas gostariam de ter renunciado e não o fizeram por falta de informações ou acesso à assistência técnica, as mulheres foram assistidas pela Defensoria Pública do Estado do Tocantins. Assim, 98,6% das vítimas que queriam renunciar, mas não o fizeram estavam sob a orientação jurídica de tal instituição. Daí a importância da Minuta

encaminhada à Defensoria Pública com recomendações para o atendimento, a orientação e

a assistência jurídica integral da mulher em situação de violência.

Apenas 01 (uma) vítima era representada em juízo por advogado constituído. Assim, o percentual de vítima que gostaria de ter retratado, porém perdeu o prazo legal e estava assistida por advogado constituído, foi de 1,4%.

No ano de 2016, na Comarca de Araguaína, foram julgados 71 (setenta e um) Inquéritos Policiais; 493 (quatrocentos e noventa e três) Medidas Protetivas de Urgência e 649 (seiscentos e quarenta e nove) Ações Penais, conforme gráfico 2.

Gráfico 2 - Processos julgados em 2016, na Comarca de Araguaína/TO na Vara de Combate a Violência Doméstica e Familiar.

Fonte: Elaboração própria

O gráfico 2 representa os percentuais de processos julgados, separados por natureza, ou seja, 5,8% de Inquéritos Policiais; 40,4 % de Medidas Protetivas de Urgência e 53,2% de Ações Penais.

Necessário se faz esclarecer que os processos julgados durante o ano de 2016 foram protocolados no sistema eletrônicos de processos, E-PROC. Assim ocorre porque os julgamentos dos processos dependem da complexidade da demanda, ou seja, há processos que envolvem crimes que demandam, para seu esclarecimento, de provas periciais, testemunhais, elaboração de estudos por parte de equipes multidisciplinares, elaboração de laudos psiquiátricos, seja em relação à vítima ou quanto ao denunciado.

Há também casos em que as partes e testemunhas mudaram de endereços ou de Estado e até de país, sendo ouvidas através de instrumentos jurídicos chamados de cartas precatórias, quando destinadas a outras comarcas, situadas dentro ou fora do Estado onde está tramitando o processo. Já as cartas rogatórias são utilizadas para ouvir partes, testemunhas ou peritos que estejam fora do País.

Os gráficos foram elaborados com base nas estatísticas extraídas no sistema de processos eletrônicos do Estado do Tocantins, E-PROC, são representativos dos percentuais de processos julgados, de ações públicas condicionadas à representação, onde as vítimas manifestaram interesse em se retratarem somente na fase da audiência para a produção de provas, ou seja, já havia ultrapassado o prazo do artigo 16 da Lei n°. 11.340/06, que estabelece que nas ações públicas condicionadas à representação, as vítimas podem retratar até o recebimento da denúncia.

Quanto aos processos julgados em 2017, a situação é a seguinte: Tabela 4 – Situação dos processos julgados em 2017

Ações Penais Medidas Protetivas de Urgência Termo Circunstanciado de Ocorrência Inquéritos Policiais Habeas Corpus Execuções de Alimentos Cumprimento de Sentença Total 557 651 01 27 02 03 03 1256

Fonte: Elaboração própria

Ressalte-se que do total de 557 ações penais analisadas, foram excluídos 355 processos, pois não faziam parte do objeto da pesquisa, restando 202 demandas que interessavam à pesquisa. Destas 202 processos, todos versaram sobre os delitos que se processam mediante ações públicas condicionadas à representação. Destas, em 88 processos as vítimas demonstraram interesse em arquivamento dos processos, porém só se manifestaram na fase de instrução e julgamento.

Tabela 5 – Situação dos processos em que a vítima tinha interesse em se retratar já na fase de instrução e julgamento

Ações Penais analisadas Ações Públicas condicionadas a representação analisadas

Demandas onde havia interesse da vítima em retratar

557 202 88

Fonte: Elaboração própria

Restou provado pela pesquisa que a proporção de vítimas que queriam se retratar, nos processos de ações penais que se procedem mediante representação, na fase de instrução e julgamento, isto é, fora do prazo estabelecido no artigo 16 da Lei 11.340/06, totalizou o percentual de 43,5%.

Dentre as 88 (oitenta e oito) vítimas que gostariam de ter encerrado o processo, isto é, renunciado à retratação e não o fizeram no prazo estabelecido pela lei, conhecida por Maria da Penha, 85 (oitenta e cinco) foram assistidas ou defendidas pela Defensoria Pública do

Estado do Tocantins. Assim, o percentual de mulheres que sofreram violência doméstica e familiar e gostariam de ter solicitado o arquivamento do processo contra o seu agressor que foram defendidas pela Defensoria Pública do Estado foi de 96,5%.

As vítimas que estavam assistidas por advogados constituídos e deixaram escoar o prazo para retratação, sem manifestação, embora quisessem retratar foram 03 (três), perfazendo um total de 3,4%.

Para melhor compreensão dos dados, foram elaborados gráficos, que demonstram o percentual de vítimas, que mesmo após a instauração da ação penal, ao serem ouvidas perante o magistrado, confirmaram que não tinham interesse na continuidade do processo. Assim, nos processos julgados em 2017, das 292 ações penais analisadas, 202 eram de ações públicas condicionas a representação da ofendida. Dentre os 202 processos pesquisados, em 88 deles, havia expresso no depoimento da vítima o interesse de retratar, correspondendo a 43,5% das ofendidas que não tinham interesse em continuar processando seus agressores.

Gráfico 3 - Percentuais de processos referentes à violência doméstica e familiar, excluídos os casos de feminicídio, onde as vítimas demonstraram interesse em renunciar à retratação, mas perderam o prazo: 43,5% e o percentual de mulheres agredidas que não renunciaram: 56,5%, na Comarca de Araguaína/TO, no ano de 2017.

Fonte: Elaboração própria

No ano de 2017, na Comarca de Araguaína, foram julgados 27 (vinte e sete) Inquéritos Policiais; 651 (seiscentas e cinquenta e uma) Medidas Protetivas de Urgência e 557 (quinhentas e cinquenta e sete) Ações Penais, que correspondem respectivamente: 2.2%, 52.3% e 44.8%, conforme demonstrado no gráfico abaixo:

Gráfico 4 - Representa os percentuais de processos julgados na Comarca de Araguaína, referente a violência doméstica e familiar, referentes as ações que versam sobre Inquéritos policiais; Medidas protetivas de urgência e ações penais, no ano de 2017.

Fonte: Elaboração própria

Ressalte-se que o percentual de retratações referentes aos processos julgados em 2016 apresentou-se bem menor em relação a 2017 e 2018.

Assim ocorreu porque desde a instalação da Vara de Violência Doméstica e Familiar da Comarca de Araguaína, ocorrida em julho de 2010 até 2016, eram realizadas audiências em todos os Inquéritos Policiais que tratavam de crimes em que a ação penal dependa de representação da vítima para ser ofertada.

Ressalte-se que referidas audiências, obrigatoriamente, eram realizadas antes do recebimento da denúncia ou queixa, ou seja, antes de iniciada a ação penal, por iniciativa desta pesquisadora, independentemente de manifestação da vítima, através de seus representantes legais ou do Ministério Público.

Procedendo desta maneira, as vítimas eram formalmente ouvidas sobre o interesse em dar prosseguimento ou não ao processo antes do oferecimento da denúncia ou da queixa- crime, ou seja, no prazo estabelecido no artigo 16 da Lei 11.340/06.

Ocorre que, a partir de 2016 consagrou-se o entendimento jurisprudencial pelo Superior Tribunal de Justiça, de que não há necessidade de designação de audiência preliminar para ouvir a vítima, a finalidade do artigo 16 da Lei 11.340/06, caso a ofendida não tenha manifestado o interesse em comparecer perante o juiz para renunciar à retratação já ofertada na Delegacia de Polícia, pois cabe ao representante da vítima, defensor público ou advogado constituído requerer a realização da audiência para que a vítima possa se retratar, caso seja este o interesse da mulher que sofreu violência.

Atualmente, intimar a vítima para que esta compareça em audiência com a finalidade