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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.6 O problema delimitado por grupos

O crescimento da renda e a sua posterior tradução em melhoras significativas nos

padrões de vida das populações, ou seja, o desenvolvimento econômico de fato, é um desafio

universal, assim como as dimensões que estão incorporadas a esse fenômeno. No entanto, a

verdade é que, dependendo da realidade abordada, ou seja, do campo analisado, este fenômeno

pode apresentar vertentes divergentes. Isso confirma que, de acordo com o país, o estado ou o

município observado, os entraves diagnosticados podem não ser os mesmos ou se apresentarem

de formas distintas, o que requer atitudes e encaminhamentos diferenciados e específicos.

É nesse sentido que, ao ter os municípios brasileiros como a unidade de observação

dessa pesquisa científica, será necessário um olhar diferenciado para aqueles que têm uma

realidade de produtividade do trabalho mais baixa, uma vez que seus problemas em relação à

renda e aos padrões de geração e apropriação de renda são bem mais dramáticos, revelando um

menor acesso das populações à educação, à água, ao saneamento básico e à coleta de lixo.

Lemos (2012) afirma que o Nordeste possui uma das mais graves taxas de

analfabetismo, além de uma das piores realidades nos quesitos compreendidos como

vulnerabilidade ambiental (acesso à água encanada, ao saneamento básico adequado e à coleta

de lixo).

Além disso, um grande contingente de pessoas dos estados do Nordeste vive em

municípios contemplados com a definição do ecossistema do semiárido, o que ainda consegue

agravar mais a situação dessa região, uma vez que tal clima apresenta características um tanto

quanto perversas em termos de regime de chuvas e condições ambientais, as quais tendem a

dificultar a produção agrícola e o progresso das condições de vida do sertanejo, no que diz

respeito ao acesso à água encanada e outras necessidades básicas. Daí se percebe que,

realmente, o problema se apresenta de forma distinta de acordo com a região investigada.

possua uma problemática maior e mais intensa quanto à questão central desta pesquisa, que é a

produtividade do trabalho, tão dependente das variáveis relacionadas ao desenvolvimento, as

quais já foram mencionadas.

É nesse sentido que, ao recortar o total dos munícipios brasileiros em 5 grupos

distintos, quintis, a análise de pesquisa pode-se deparar com uma gama de cenários distintos do

problema de pesquisa, de acordo com as especificidades presentes em cada quintil. É por isso

tudo que se pretende verificar como o problema da baixa produtividade do trabalho, grande

catalizador do crescimento econômico, se apresenta para os grupos escolhidos. A partir daí,

será possível fazer um paralelo no sentido de dar um direcionamento e algumas sugestões para

os problemas mais graves a serem resolvidos.

Segundo Amaral Filho (2003, p. 1), garantir acesso à água de boa qualidade

constitui um desafio às sociedades:

O grande desafio que se desponta neste início de século para o homem está na

administração do jogo estabelecido entre oferta e demanda por recursos naturais não

renováveis, mas também para aqueles considerados renováveis. Em relação à água

não poderia ser diferente. A água até pouco tempo era considerada como um recurso

abundante e renovável, entretanto hoje ela começa a desafiar o homem no que tange

à sua disponibilidade com qualidade.

Ratificando o exposto acima, Holanda (2011) defende que a água deve ser

partilhada entre as gerações atuais e futuras, já que ela é um elemento vital para a humanidade

e para as atividades econômicas, podendo gerar riquezas e desenvolvimento. Então, há que

haver um interesse de assegurar a sua oferta em quantidade e qualidades suficientes.

Reforça tal afirmação o relatório da PNUD:

Além de um compromisso social importantíssimo, possuir água em quantidade e

qualidade é um diferencial decisivo para o desenvolvimento de uma nação. As bases

que fomentam o crescimento da qualidade de vida da população estão intimamente

ligadas à água potável. A relação com a água está presente em cada um dos oito

Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, das Nações Unidas, com maior ou menor

relevância. O suprimento sustentável de água contempla um vasto leque de dimensões

interligadas ao desenvolvimento, desde a redução da pobreza extrema até à igualdade

de gênero, passando pela saúde, pela educação e pelo ambiente (PNUD, 2006 apud

ANDRADE, 2011, p.17).

Holanda (2011, p. 11) acredita que a água deve ser entendida e cuidada como um

bem público:

O desequilíbrio entre a demanda e a disponibilidade de água que ocorre

principalmente em países menos industrializados onde há necessidade de aumentar a

produção tem levado à necessidade de se desenvolver uma gestão dos recursos

hídricos, fundamentada na compreensão de que a água é recurso natural e escasso, de

valor social e econômico, por isso deve ser protegida e tratada como um bem público.

Mesmo havendo o entendimento da essencialidade da água para a vida humana, há

uma chamada desigualdade no seu acesso, com pessoas dispondo de quantidades suficientes ou

abundantes, outras sendo privadas desse recurso. É o que comprovou Andrade (2011, p. l6) em

seu estudo a respeito dessa temática:

A realidade da maioria da população urbana é encontrar água em quantidade mais que

suficiente nas torneiras dos seus lares. O que representa uma cena cotidiana para esta

fatia da população é considerada como algo distante para a camada mais pobre, que

reside nas periferias das cidades das regiões metropolitanas do Nordeste. A

distribuição da quantidade de água para atender as necessidades básicas do ser

humano é desigual. Dentro da mesma região é possível constatar níveis de acesso à

água equivalentes aos de países europeus, assim como algumas áreas apresentam

realidades semelhantes a países da África subsaariana.

A citação do autor confirma que o acesso à água não tem sido um direito garantido

às populações nordestinas e cearenses ao longo da história e que isso pode ser constatado

através de pesquisas empíricas. Sendo assim, se pode afirmar que levar esse acesso às

populações é ampliar as dignidades humanas, bem como criar um círculo virtuoso de constantes

melhorias da saúde e da produção de riqueza.

Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2006, publicação do PNUD,

o acesso à água ao saneamento e à coleta de lixo confirma alguns paradigmas do

desenvolvimento humano. Na média, as taxas de abrangência em ambas as áreas tendem a

crescer com o rendimento. Ou seja, uma maior riqueza tende a ser seguida por um melhor acesso

à água e ao saneamento. Todavia, há grandes variações em torno da média, uma vez que

determinados países, como o Bangladesch e a Tailândia, no saneamento, o Sri Lanka e o

Vietnam, no tocante à água, apresentam uma realidade de abrangência muito melhor que se

poderia esperar apenas com base no rendimento. Além disso, outros locais, como a Índia e o

México exibem um desempenho em relação ao saneamento bastante mais fraco. Dessa forma,

o que se apreende é que o rendimento é muito importante, porém, a política pública molda a

transformação da renda em desenvolvimento humano.

As famílias que moram nas zonas rurais ainda têm outros problemas. Por viverem

longe das redes formais, as comunidades rurais, geralmente, gerem os seus próprios sistemas

de água, contudo, os organismos governamentais quase sempre são participantes da prestação

do serviço. Na maioria dos casos, se fornece tecnologias, por vezes, inadequadas, a localizações

praticamente sem qualquer consulta. O resultado é uma mescla de sub-financiamento e de baixa

cobertura, incumbindo às mulheres das zonas rurais a tolerarem o custo por meio da recolha de

água em fontes distantes.

Quanto à questão do fornecedor de água e esgoto, há um debate grande sobre quem

deveria ser responsável por esse abastecimento de água e saneamento, se o setor público ou se

o setor privado, sendo regulado e fiscalizado pelo primeiro. Em muitos casos, uma gestão

eficiente do setor público, nesse sentido, é eficaz para a boa condução do acesso, porém, em

outros, o que se vê é um verdadeiro descaso e omissão das obrigações. Nesse sentido, é válido

citar o caso de Porto Alegre, que alcançou a meta de levar água a todos a um preço acessível.

Já em relação à questão da consciência ambiental, Campos (2002) observou que a

constatação que a água é um bem escasso e por isso deve ser bem administrado e cuidado não

é algo antigo e historicamente verificável. Segundo ele, os estudos e solidificação de

conhecimentos referentes à gestão dos recursos hídricos com visão futurística são recentes e

que as mudanças de comportamento da sociedade começaram a partir da verificação de que o

modelo de gestão ambiental colocado em prática até então era absolutamente insustentável.

Vários desastres acontecidos no mundo foram determinantes para essa variação de atitude. São

exemplos disso corpos de água poluídos, áreas antigamente férteis tornarem-se desertos,

vazamento de usinas nucleares, entre outros fatos relevantes.

Hermanns (2002, p.7) vai além e explana que deve haver uma proteção de todos os

meios ambientais para tornar possível o devido cuidado com os recursos hídricos:

A água chega a ter contato com os meios ambientais ar, solo e rochas durante seu

circuito, e é inevitável que elementos sólidos, líquidos e gasosos sejam levados e

solvidos pela água. Quando se quer proteger águas superficiais ou subterrâneas da

poluição, por exemplo, por venenosos metais pesados ou substâncias orgânicas, isto

somente faz sentido quando todos os meios ambientais são considerados nos esforços

de proteção.

Pelo que a literatura vem indicando, o acesso à água é limitado, porém, a

mentalidade de preservação dos recursos hídricos é algo extremamente novo, sugerindo que

tais fenômenos devem ser cuidadosamente investigados para que, a partir de um diagnóstico,

haja a promoção de políticas públicas que atuem no sentido de trazer à tona os problemas

ligados à eficiente gestão da água nos municípios brasileiros, lócus do estudo em questão.

No que se refere à educação como componente do capital humano, pode-se citar

alguns estudos basilares que difundiram a teoria que mostra o retorno, em termos de salários,

de anos adicionais de estudo na remuneração das pessoas. Em outras palavras, tais estudos

defendem o impacto indiscutível positivo de anos de estudo adicionais sobre a renda monetária

do trabalhador. Trata-se dos estudos de Schultz (1962) e de Becker (1962), que forneceram

grande contribuição a esse campo empírico, na medida em que esclareceram que o trabalho

qualificado é a mola propulsora de aumentos da produtividade na economia.

Segundo Lemos (2015), o estoque de capital humano aumenta a partir de

investimentos nos indivíduos, os quais podem ser por meio de treinamento, melhores condições

de saúde, nutrição e, principalmente, através da educação. Complementarmente, o crescimento

econômico está sujeito ao acréscimo na produtividade, que, por sua vez, é incentivada pelo

progresso técnico e pela educação. Entretanto, o primeiro aspecto é resultado da qualificação e

do nível de escolaridade dos trabalhadores.

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