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3.3 O COMÉRCIO INTRAFIRMA 79

3.3.1 EVIDÊNCIAS INTERNACIONAIS E DETERMINANTES DO COMÉRCIO

3.3.1.2 O PROBLEMA DOS CONTRATOS E O OUTSOURCING 90

Uma linha de pesquisa mais recente, com autores como Antràs (2003), Grossman e Helpman (2002, 2003, 2005), Marin e Verdier (2008), Bernard et al (2010) e Antràs e Helpman (2004), tem incorporado às pesquisas os determinantes ao nível da firma, que dizem respeito a forma interna de organização da firma, em particular o problema do “hold-up” para as decisões de abastecimento internacional

das firmas. Ou seja, a situação em que as partes de um contrato subinvestem devido ao receio de que a contraparte não cumpra o acordo e tente obter alguma vantagem. No que diz respeito aos determinantes do comércio intrafirma, Lanz e Miroudot (2011) afirmam que as diferenças entre países da OCDE podem ser explicadas pelos determinantes “convencionais” de fluxo de comércio (o tamanho do mercado, intensidade de capital ou especialização do trabalho), mas também devem ser explicadas por novos determinantes ao nível da firma, em especial o que diz respeito aos contratos do produto: quanto mais fácil for para a firma negociar contratos para os insumos, menos elas irão favorecer o comércio intrafirma.

A justificativa é que haveria o problema hold-up, que levaria a subinvestimentos e atraso nas entregas e pagamentos. Essa situação emerge da impossibilidade de um contrato fazer-se cumprir de forma plena, pois é impossível especificar todas as possíveis situações em um contrato. Além disso, o investimento realizado por uma ou ambas as partes do contrato é especifico à relação entre as partes, ou seja, não possui ou quase não possui valor fora da relação específica.

De acordo com os modelos de direito de propriedade de Antràs (2003) e Antràs e Helpman (2004), a parte contratante, que tem de arcar com o maior ônus do investimento específico, deve obter os direitos de propriedade, ou seja, os direitos de propriedade sobre o investimento. Com a possibilidade de capturar uma maior parte do lucro, dado seu maior poder de barganha, a parte que possui os direitos de propriedade sobre o investimento terá um incentivo maior a investir primeiro.

Assim, a relação entre o produtor de bens finais e o fornecedor será de integração, caso o investimento do primeiro seja mais estratégico se comparado ao investimento do segundo. Caso contrário, será a forma organizacional de

outsourcing. Antràs (2003) considera, então, que a integração vertical ocorrerá com

maior probabilidade em indústrias capital-intensivas. Antràs e Helpman (2004) refinam esse estudo introduzindo a heterogeneidade das firmas e assim derivando um “equilíbrio” no qual a integração vertical como processo de outsourcing coexiste.

Grossman e Helpman (2003) argumentam que o desenvolvimento de melhores instituições facilitam o estabelecimento de contratos, de tal forma que a integração vertical passa a ser menos provável. A relação entre as instituições e o comércio intrafirma será retratada adiante.

maior em indústrias intensivas em capital e mão de obra especializada. Essas indústrias requerem maiores investimentos específicos à relação (ou seja, investimentos que possuem pouco ou nenhum valor fora da relação), de tal forma que as empresas “parentes” preferem integrarem-se verticalmente com seus fornecedores.

Portanto, um outro ponto fundamental para determinação do comércio intrafirma é o caráter dos contratos que envolve os produtos. A complexidade contratual para fornecimento dos produtos faz com que haja uma maior propensão a recorrer ao comércio intrafirma. De forma oposta, uma maior facilidade em estabelecer contratos diminui a parcela de comércio intrafirma: se o fornecimento é mais facilmente contratável, o problema de hold-up é menor e as firmas preferem utilizar da forma outsourcing à estratégia de integração (LANZ; MIROUDOT, 2011).

Uma crítica a essa abordagem é a presença de poucas evidências empíricas, muitas concentradas nos dados de importação intrafirma dos EUA (CORCOS et al, 2009). Assim, uma limitação das evidências empíricas é o confinamento ao nível país/setor, enquanto a teoria explicitamente enfatiza a importância dos determinantes ao nível da firma. Além disso, a disponibilidade de dados ao nível da firma tem levado a uma série de estudos a respeito do comportamento das exportações intrafirma (MAYER; OTTAVIANO, 2007, apud CORCOS et al., 2009) e menos esforços tem sido visto para entender o comportamento das importações.

Corcos et al (2009) utilizam um banco de dados sobre as importações de produtos manufaturados pelas empresas francesas em 1999 para identificar os determinantes da internacionalização dos fluxos de comércio de produtos intermediário ao nível da firma, da indústria, do produto e do país. Desse exame, obtém-se duas lições. A primeira, os principais resultados da abordagem que considera as questões de direito de propriedade encontram embasamento empírico ao nível da firma. Os autores constataram que a escolha pelo comércio intrafirma é potencialmente maior em firmas intensivas em capital e em mão de obra qualificada. Além disso, empresas mais produtivas estão mais propensas a apresentarem um comércio intrafirma maior, importando maiores montantes. Essa constatação é coerente com as análises de Antràs (2003) e Antràs e Helpman (2004). Além disso, constatou-se que importações de países com instituições relacionadas ao sistema judicial mais eficiente mostram-se mais propensas a serem da forma intrafirma.

A segunda lição da análise de Corcos et al (2009) mostra dois importantes limites à abordagem ao nível da indústria ou do produto. Primeiro, se a intensidade dos fatores ao nível da firma é importante determinante da forma de terceirização, ela varia consideravelmente entre os setores. Segundo, alguns resultados prévios da participação da importação intrafirma agregada são estabelecidos pelos valores de importação e não simplesmente por decisões individuais de terceirização. Uma constatação foi que as importações intrafirma de um país aumentam com a abundância de capital, mas a possibilidade de se envolverem com a exportação intrafirma diminui com a abundância do capital.