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O processamento da produção agropecuária nas propriedades visitadas

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.3 O Diagnóstico da Realidade Local

4.3.3 O processamento da produção agropecuária nas propriedades visitadas

também, informações acerca do processamento das matérias-primas em suas propriedades. Então, procurou-se conhecer o percentual de produtores que beneficiava/processava a sua produção, como se pode verificar na Figura 19.

61 Figura 19. Percentual de produtores que beneficiavam e/ou processavam sua produção.

A Figura 19 indica que 52,94% dos produtores fazem o beneficiamento/processamento de suas matérias-primas, ao passo que 47,06%, não. Segundo Coutinho (2000), essa transformação das matérias-primas nas propriedades proporciona melhor alimentação pela diversificação do consumo familiar e pela disponibilização do alimento durante a entressafra de modo que evita o desperdício e, também, favorece a renda familiar.

Wesz Junior; Trentin (2006), consideram que o número de agroindústrias familiares vem aumentando constantemente, sendo que esses empreendimentos têm contribuído, significativamente, para a dinamização e fortalecimento das economias locais, principalmente por três motivos: a) agregação de valor aos produtos até então in natura - o produto final, que agora é acabado dentro do próprio domicílio rural, passa a ter um valor adicional que permanece com o agricultor e não mais com os grandes complexos agroindustriais de fora da região e com os intermediários; b) a maior parte dos produtos são comercializados de forma direta e em um ambiente local - os produtores fornecem aos consumidores um produto de origem (re)conhecida, fazendo com que os artigos cheguem a um valor menor pela proximidade entre produção, processamento e venda e c) geração de novos postos de trabalho nas comunidades rurais - ganha peso as ocupações por parte da família, que é a responsável pela agroindústria, como também pelos agricultores próximos ao empreendimento que, pelos laços de sociabilidade, auxiliam nas atividades em condição sazonal, ou mesmo, fornecem parte da matéria-prima para o beneficiamento/processamento na agroindústria familiar.

Dos produtores que beneficiavam/processavam as suas matérias-primas, buscou-se conhecer quais os produtos eram fabricados em suas propriedades, como mostra a Figura 20.

Figura 20. Produtos beneficiados e/ou processados nas propriedades visitadas.

A Figura 20 apresenta os produtos que eram beneficiados/processados nas propriedades bem como o número de produtores que os produziam.

Em se tratando dos produtos beneficiados/processados, pode se afirmar, analisando a Figura 20, que a diversidade de produtos não é a mesma identificada na produção agropecuária. Foram encontrados poucos produtos beneficiados/processados produzidos nas propriedades do município.

62 Verificou-se nas propriedades, durante as visitas, pomares com grande variedade de frutas, como apresentado no item 4.3.2 e pode-se concluir que não há uma efetiva utilização dessa produção para a fabricação de doces diversos. Ao conferir os produtos que são processados, identifica-se somente a utilização de goiaba por 3 produtores que fabricavam goiabada e 1 produtor que fabricava além da goiabada, geleia de goiaba, também.

Constatou-se, nas propriedades, que há grande desperdício de frutas. Um exemplo é que na época em que as visitas estavam sendo realizadas, era período de safra do caqui e, frequentemente, verificou-se que estava se perdendo no chão. Não houve nenhuma citação de que essa produção era destinada ao processamento ou mesmo à comercialização in natura.

Também faz-se referência, aqui, à produção de banana, que foi identificada em 13 das 18 propriedades que possuem produção de frutas, não sendo encontrado nenhum produto processado derivado de banana.

Por não se tratar do objetivo deste trabalho, não consultou-se o motivo pelo qual não há, nas propriedades, o aproveitamento das frutas para a produção de doces. Considera-se importante que seja ofertado aos produtores rurais do município, cursos de curta duração sobre o processamento de vegetais como atividades de extensão do CANP/IFRJ. A oferta de cursos, além de capacitar os produtores, pode estimulá-los a transformar a sua matéria-prima, agregando valor a ela e evitando o desperdício desses produtos na safra.

O produto processado mais encontrado nas propriedades foi o queijo minas frescal. Das 15 propriedades onde há produção de leite, 11, ou seja, 73,33% fabricam o queijo minas frescal, e somente 1 fabrica iogurte.

Aos produtores que informaram fabricar queijo, perguntava-se como era fabricado, mesmo não estando no roteiro da entrevista esta questão. Considerou-se preocupante o fato de que para a fabricação do queijo minas frescal, nenhum produtor faz a pasteurização do leite, como se observa nos relatos a seguir.

“[...] eu pego o leite lá no curral, côo direitinho, ponho o coalho, deixo coalhar, depois eu bato, depois quando ele subir o soro eu pego e coloco num potinho. Ponho sal [...] não faço pasteurização não [...]” (informação verbal - produtor nº 15).

“[...] eu faço da seguinte forma, pego o leite, côo ele, ponho numa vasilha limpa, coloco uma colher de coalho de acordo com a quantidade de leite e deixa aí uns 45 minutos. Aí depois que coalhou eu vou lá, corto ele bem cortadinho e bato bem batidinho e deixo passar mais uma meia hora, aí ele abaixa, aí eu tiro o soro e jogo fora [...] ponho na forma, aí depois a gente vira o queijo e torna a botar sal do outro lado, aí põe na geladeira e no outro dia já está pronto pra comercializar [...] não faço a pasteurização não, devo ter aprendido mas nem lembro como faz [...] tiro lá do curral e já trás porque está na temperatura certa pro coalho né, porque se esfriar tem que chegar a temperatura dele um pouco pra cima de uns 33graus [...]” (informação verbal - produtor nº 23).

Compete ressaltar que a pasteurização do leite para a fabricação de queijos no Brasil é obrigatória (BRASIL, 1996b).

Ainda, de acordo com Dutra; Munck (2006), uma vez que o calor destrói grande parte dos microrganismos presentes no leite, principalmente aqueles que podem causar enfermidades ao homem, com a pasteurização, cumpre-se o que determina a lei e também

63 garante-se a obtenção de um produto bacteriologicamente saudável com diminuição da carga de bactérias que podem acarretar defeitos no queijo.

Outro aspecto relevante é que pode-se considerar de grande importância e urgente a oferta de cursos de extensão sobre processamento de leite para esses produtores a fim de capacitá-los e sensibilizá-los da importância da pasteurização do leite para a fabricação de queijos.

No tocante ao volume de produtos fabricados, assim como na produção agropecuária, não foi possível estabelecer com precisão o quantitativo produzido, pois os produtores não faziam registro e controle da sua produção.

Verificou-se que a fabricação de goiabada ocorre em pequena escala, somando mil kg/ano a produção dos três produtores que estimaram o quantitativo produzido.

Quanto à produção de queijo minas, pode se assegurar que também é pequena, considerando o quantitativo de leite produzido no município, a sazonalidade da produção e que na maioria das propriedades, a fabricação do queijo se dá com a sobra do leite que não foi comercializado in natura. Assim, alguns produtores informaram produzir, às vezes, somente uma unidade por dia, enquanto outros informaram produzir 60 unidades por semana. Somando se toda a produção informada, chega-se a um total de 200 unidades por semana.

Com base nas informações dos produtores, a produção de cachaça em 2011 foi de 2500 litros, e um dos produtores informou que está investindo na produção e que estima produzir em 2012 10 mil litros.

Dos 52,94% dos produtores que faziam o processamento das suas matérias-primas, 44,12 comercializavam seus produtos, enquanto 8,82% fabricavam somente para o consumo das famílias.

Quanto ao local da comercialização dos produtos processados, foi informado que essa comercialização se dá em estabelecimentos comerciais do município (11,76%), na propriedade (17,65%), e na rua (14,71%).

De acordo com informações do Departamento de Vigilância Sanitária da Secretaria Municipal de Saúde de Pinheiral o Selo de Inspeção Sanitária Municipal – SIM está desde 2009, sendo implementado, mas ainda aguarda autorização do Ministério da Agricultura para ser implantado. Em virtude da ausência do Serviço de Inspeção Municipal na cidade de Pinheiral, para efeito de inspeção o que prevalece é o Serviço de Inspeção Estadual.

Sendo assim, é preciso atentar para o que diz o artigo 5º do Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal do Estado do Rio de Janeiro – RIISPOA – RJ (RIO DE JANEIRO, 2006), “Nenhuma propriedade ou estabelecimento pode realizar comércio intermunicipal com produtos de origem animal, sem estar registrado ou relacionado no órgão de inspeção estadual”

Considerando, então, a informação do RIISPOA - RJ (RIO DE JANEIRO, 2006) e o fato dos produtos não terem nenhum registro de inspeção, não poderiam ser comercializados em estabelecimentos comerciais locais, como informado por 11,76% dos produtores. Então, cabe registrar a ineficiência da fiscalização, que é de responsabilidade da Secretaria de Saúde, através do Departamento de Vigilância Sanitária do município.

É importante ressaltar que perguntados se a produção era legalizada, todos os produtores que processavam a sua produção responderam que não, o que significa que a informalidade rege a produção e a comercialização desses produtos no município.

Convém ressaltar que dos produtores que faziam o processamento dos produtos em suas propriedades para a comercialização 29,41% informaram ter interesse em legalizar a sua produção, enquanto 14,71% não demonstraram interesse.

64 Quando perguntados sobre o motivo pelo qual não legalizavam a sua produção, os 52,94% dos produtores processadores da produção apontaram fatores como: a burocracia (8,82%), a falta de informação (14,72%), a falta de recursos financeiros e linhas de crédito (11,76%), a viabilidade do negócio (2,94%), a dificuldade com mão-de-obra (2,94), a falta de registro da propriedade (5,88%), a dificuldade para escoar a produção (2,94%) e a falta de auxílio da Prefeitura Municipal (2,94%).

Perez et al. (2009), consideram que as barreiras encontradas para a existência das AFRs está principalmente na legislação, que não está adequada a este setor de produção e sim a grandes indústrias. Consideram ainda que as dificuldades em adequar as instalações às normas sanitárias é que dificultam a legalização das mesmas. Chamou a atenção neste estudo o fato de que a questão da legislação não foi considerada pelos produtores um impedimento para a legalização da sua produção. Não se pode afirmar que esse fato se dê pelo desconhecimento das leis que regulam o processamento de alimentos por parte dos produtores, mas é o que fica subentendido.

Os produtores foram questionados se sabiam o que era necessário para legalizar a produção. Ficou comprovado que desconheciam o assunto, pois 70,59% não responderam a questão, 26,47% afirmaram que não sabiam e somente 2,94% responderam que é necessário infraestrutura (fazendo referência a estrutura física) adequada.

Segundo Vieira (1998) a informalidade nesses espaços é frequente, há pouco aporte tecnológico e gerencial, pouca capacidade de assimilar informações técnicas, gerenciais e mercadológicas.

Para Mior (2005), a informalidade nas AFRs se apresenta como uma barreira a transpor e o desafio é viabilizar orientação para a adequação das condições de processamento de alimentos existentes nas unidades de produção agrícola familiares às normas sanitárias, fiscais e ambientais.

O CANP/IFRJ obteve em 2011 junto ao Serviço de Inspeção Estadual – SIE/RJ o registro de sua fábrica de conservas, bem como dos produtos cárneos nela fabricados. Atualmente, tramita na Superintendência de Defesa Agropecuária da Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento – SEAPPA – RJ os processos para registro do seu apiário, da usina de beneficiamento e de um entreposto de ovos e ovos de codorna. Nesse contexto, a experiência do Campus na obtenção desse registro, pode contribuir positivamente com o interesse em legalizar a sua produção, demonstrado pelos 29,41% dos produtores entrevistados.

Investigou-se também neste estudo como os produtores aprenderam sobre o processamento dos alimentos, como mostra a Figura 21.

65 Figura 21. Como os produtores aprenderam a processar alimentos.

Foi gratificante perceber que 5,88% dos produtores entrevistados são estudantes do curso Técnico em Agroindústria do CANP/IFRJ e que estamos contribuindo para a formação desses produtores rurais.

Com relação aos produtores que informaram ter aprendido sobre o processamento em cursos 5,88% disseram que realizaram curso oferecido pelo CANP/IFRJ, a proporção que 20,59% informaram que os cursos foram oferecidos pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural -EMATER, através da Secretaria de Agricultura do Município.

Após a apresentação dos dados caracterizando o processamento da produção agropecuária das propriedades rurais do município de Pinheiral – RJ analisaremos a seguir os ambientes de fabricação e as condições em que esses produtos agropecuários são processados nas propriedades.

4.3.4 O ambiente e as condições do processamento da produção nas

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