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CAPÍTULO 3- A VISIBILIDADE DO FENÔMENO DO ENVELHECIMENTO

3.3 O processo de construção do marco legal de atendimento ao idoso no Brasil

A primeira iniciativa do Governo na prestação de assistência ao idoso ocorreu em 1974, com a portaria do Ministério da Previdência e Assistência Social - MPAS no 82, de 4 de julho de 1974, através do antigo Instituto Nacional de Previdência Social - INPS. Este Instituto realizava ações preventivas, tanto direta como indiretamente, por intermédio dos seus centros sociais ou mediante acordos com instituições comunitárias. Com efeito, a internação custodial era restrita aos aposentados e pensionistas do INPS a partir de 60 anos, tendo como critérios o desgaste físico e mental dos idosos, a insuficiência de recursos próprios e familiares e a inexistência da família ou o abandono pela mesma. (Camarano et al., s/d).

Nesse mesmo ano o Governo Federal criou, em prol dos idosos a renda mensal vitalícia, através da Lei no 6179, de 11 de dezembro de 1974, benefício pelo qual ficava assegurado um auxílio no valor de 50% do salário mínimo vigente no país a todas as pessoas com mais de 70 anos que não recebiam nenhum benefício da Previdência Social e não tinham condições de subsistência. (Camarano et al., s/d).

O valor da renda mensal vitalícia, na época de sua criação, não podia ultrapassar 60% do salário mínimo regional. Desde abril de 1992, ele é de um salário mínimo, conforme a lei no 8.213, de 24/07/91, que dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social, inclusive para as concedidas antes da entrada em vigor da mencionada lei.

Em 1976, o Ministério da Previdência e Assistência Social - MPAS promoveu a realização de Seminários Regionais em São Paulo, Belo Horizonte e Fortaleza, objetivando identificar as condições de vida do idoso brasileiro, bem como o apoio assistencial existente. As conclusões desses seminários permitiram a realização, ainda no final desse mesmo ano de um Seminário Nacional intitulado Política Social da

Velhice, do qual se originaram as diretrizes básicas da “ Política Social para o Idoso”, editada pelo MPAS.

De acordo com Camarano, foram as seguintes as principais propostas :

• implantação de sistema de mobilização comunitária, visando, dentre outros objetivos, à manutenção do idoso na família;

• revisão de critérios para concessão de subvenções a entidades que abrigam idosos;

• criação de serviços médicos especializados para o idoso, incluindo atendimento domiciliar;

• revisão do sistema previdenciário e preparação para a aposentadoria; • formação de recursos humanos; e

• coleta de produção de informações e análises sobre a situação do idoso pelo Serviço de Processamento de Dados da Previdência e Assistência Social ( Dataprev), em parceria com a Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE), dentre outras.( Camarano et alili, sd ) Nesse mesmo período, houve a transferência de todos os programas de assistência social, que estavam a cargo do INPS, através da portaria MPAS 838/77, para a LBA (Legião Brasileira de Assistência). A partir dessa transferência, coube à LBA a responsabilidade de executar a Política Nacional de apoio aos idosos que se efetivou através dos projetos Conviver e Asilar, alcançando cerca de 1200 entidades em 2600 municípios via convênios de cooperação técnica e financeira.

Na década de 80, as preocupações com o envelhecimento populacional já despertavam a atenção de organismos internacionais como a ONU que, em 06 de agosto de 1982, aprovou em assembléia o plano de Ação Internacional de Viena. Este plano objetivava levar os países em via de desenvolvimento e os desenvolvidos a firmarem um acordo para executar e implantar políticas de atenção ao idoso .

Uma das preocupações da assembléia era que os países definissem as recomendações prioritárias para as políticas sociais direcionadas ao idoso, garantindo os fundamentos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Outra questão

proposta foi a de que os países deveriam preocupar-se com o envelhecimento saudável, portanto, a sociedade deveria ser trabalhada no sentido de adotar um conceito positivo, ativo, de envelhecimento orientado ao desenvolvimento. Nessa perspectiva, as políticas públicas direcionadas à sociedade deveriam ser consideradas como um investimento social e não apenas como gasto.

Para Nara Rodrigues, não existia no Brasil, até 1994, uma política nacional para a velhice: “ o que havia era um conjunto de iniciativas privadas, já antigas e, a

partir da década de 1970, algumas medidas públicas, consubstanciadas em programas ( Pai; Papi; Conviver; Saúde do Idoso) destinados a velhos carentes. Era mais uma ação assistencial “em favor deles” do que uma política que lhes proporcionasse serviços e ações preventivas e reabilitadoras”. ( Rodrigues Apud

Bandeira 2001, p.22).

A Constituição de 1988 foi o primeiro passo para o reconhecimento dos velhos brasileiros, pois aparecem dois artigos, o 203 e o 204, no capítulo da seguridade social, que incorporaram algumas orientações da Assembléia de Viena e garantem um sistema de proteção. Aparecem também os artigos 229 e 230 que são específicos da velhice.

Nessa década, também foi criada a Associação Nacional de Gerontologia, órgão técnico-científico com atuação em âmbito nacional, voltado para a investigação e prática científica em ações de atenção ao idoso.

A lei Orgânica de Assistência Social - Lei no 8742/93, aprovada em 07 de dezembro de 1993, prevê programas e projetos de atenção ao idoso, co- responsabilidade das três esferas de governo. Estabelece a concessão do BPC ( Benefício de Prestação Continuada), que se encontra no artigo 203 da Constituição Federal, já mencionada, às pessoas maiores de 70 anos de idade e que tenham uma renda per capita de 1/4 do salário mínimo.68

O passo maior, em termos de proteção ao idoso, foi dado em 04 de janeiro de 1994, com a Lei no 8842/94, que promulgou a Política Nacional do Idoso - PNI69 e foi regulamentada pelo decreto 1948, de 3 de julho de 1996. A Política Nacional do Idoso

68 A idade prevista de 70 anos foi revogada pela Lei 9720 ,de 30/11/98, alterando a idade para 67 anos. 69 Não é objeto do nosso estudo a análise dessa política, bem como o conceito de velhice que a mesma traz.

tem por objetivo assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia , integração e participação efetiva na sociedade.

A implantação dessa lei estimulou a articulação e integração dos ministérios setoriais para elaboração de um plano da ação governamental para integração da política nacional do idoso. À Secretaria de Estado e Assistência Social (SEAS) coube a coordenação da Política de Assistência Social, bem como da Política Nacional do Idoso e do Plano de Ação Governamental. São oito os órgãos que compõem este plano: Ministérios da Previdência e Assistência Social, da Educação, da Justiça, da Cultura, do Trabalho e Emprego, da Saúde, do Esporte e Turismo e Secretaria de Desenvolvimento Urbano.

De acordo com o decreto de regulamentação da Política Nacional do Idoso- PNI, compete aos ministérios setoriais elaborar propostas orçamentárias no âmbito de suas competências, visando ao financiamento de programas compatíveis com as demandas da população e em conformidade com a Política Nacional do Idoso.

Com a implantação da PNI, espaços para os idosos foram surgindo em âmbito nacional, com maior ou menor representatividade de estado para estado. Alguns estados e municípios criaram e aprovaram políticas próprias para o idoso. A cidade de São Paulo, desde 1998, possui uma política de atendimento à terceira idade. A PNI prevê a existência dos Conselhos Estaduais dos Direitos dos Idosos como instrumento democrático relevante para esse segmento. Ao todo, são 15 conselhos Estaduais dos Direitos dos Idosos. Em nível municipal, o Brasil possui, hoje, 258 conselhos municipais.70 Em Pernambuco, o Conselho Estadual dos Direitos dos Idosos- CEDI- foi criado em 01/08/94, através da lei 11.119, com o apoio da Secretaria de Saúde do Estado.

Em Pernambuco, somente a partir de novembro de 2001 foi sancionada a lei no 12.109, de 26 de novembro de 2001, que estabelece a Política Estadual do Idoso. Essa lei tem por finalidade “assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para

promover sua autonomia, integração e participação” (D.O, 27/11/2001). De acordo

com a mesma, é considerada idosa a pessoa com idade a partir de sessenta anos.

Após termos apresentado alguns subsídios para compreender o fenômeno do envelhecimento populacional, esperamos ter contribuído para demonstrar a urgência e a importância dessa questão, bem como a urgente necessidade de sua incorporação pelos governos enquanto objeto de política pública. Esperamos também ter criado o cenário para discussão e análise, no capítulo a seguir, do projeto “Idosos em Movimento”, no que se refere ao processo de formulação,implementação e gestão das suas ações.