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5. METODOLOGIA

6.1. O processo de recontextualização como prática discursiva

A divulgação científica está se tornando a cada dia um instrumento de comunicação fundamental no mundo contemporâneo e pode ser definida como “o processo pelo qual se faz chegar a um público não especializado e amplo o saber produzido por especialistas em uma disciplina científica” (CALSAMIGLIA, 1997, p. 9)38. Essa autora destaca que a transmissão do saber tem dois canais fundamentais, já que pode ser realizada por meio de instituições (escolas, universidades e centros de investigação, por exemplo) e a partir dos meios de comunicação (diz respeito às mídias em geral, como jornais, revistas, Internet, rádio e televisão).

Assim, nos dias atuais, a busca do homem moderno por informações advindas do âmbito científico tem crescido cada vez mais e, nesse contexto, em que se almeja conhecer sobre os acontecimentos e os avanços tecnológicos e científicos, os meios de comunicação são os principais intermediários entre o mundo da ciência e o mundo cotidiano. Calsamiglia (1997)

38Tradução nossa para: “[...] el proceso por el cual se hace llegar a un público no especializado y amplio el saber

31 observa que nem o fazer científico tem valor sem transcender à vida social, nem a sociedade contemporânea pode permanecer sem informação sobre os avanços da ciência.

No que se refere à necessidade de informar a sociedade sobre o que ocorre no mundo científico, Hoffman (1992 apud VIEIRA, 1999), químico polonês vencedor do prêmio Nobel de Química de 1981, menciona uma das razões pela qual é importante divulgar a ciência:

Acho que os cientistas têm a responsabilidade de ensinar ciência às pessoas. A razão principal para fazer isso não é atrair mais pessoas para a química, por exemplo, mas informar o público geral. Quando as pessoas adquirem algum conhecimento científico, podem compreender melhor as decisões, o que é fundamental numa sociedade democrática. Caso contrário, poderão se tornar vítimas de demagogos e especialistas. (HOFFMAN, 1992 apud VIEIRA, 1999, p. 11)

Em conformidade com Hoffman (1992 apud VIEIRA, 1999), Van Dijk (2011, p. 32) acrescenta que “a razão principal pela qual temos que ‘popularizar’ o discurso é porque a maioria das pessoas não entende os artigos científicos”. Isso ocorre, principalmente, porque o cientista geralmente escreve para seus pares, o que pressupõe um grande conhecimento prévio sobre o assunto.

Dessa forma, reconhecendo que “tanto os cientistas como o público em geral pertencem a distintas comunidades de conhecimento” (VAN DIJK, 2011, p. 19), o que dificulta a compreensão do discurso científico por grande parte da população, torna-se essencial apresentar as informações de forma menos abstrata e teórica para que sejam compreendidas por leitores não especialistas.

Cataldi (2007) destaca que para aproximar dois contextos bem específicos – o conhecimento técnico e científico, por um lado, e o conhecimento social e cotidiano, por outro – se faz necessário a presença de um comunicador que seja capaz de compreender e explicar o discurso das ciências, divulgando aqueles conhecimentos que sejam imprescindíveis e que respondam às necessidades cognitivas e sociais do público em geral.

Ao observar o processo de recontextualização do conhecimento científico, constata-se que esse é um processo dinâmico e complexo, já que a ciência depende da linguagem e essa dos indivíduos e das comunidades. Como as pessoas são diferentes e têm interesses diversos, também se aproximam da ciência desde diferentes perspectivas. Portanto, a tarefa divulgadora não somente exige a elaboração de uma forma discursiva adequada às novas circunstâncias (conhecimentos prévios do destinatário, interesses, canal comunicativo, etc.), mas também à reconstrução – a re-criação – do mesmo conhecimento para um público diferente. Assim, o

32 processo de recontextualização do conhecimento científico na mídia impressa e online caracteriza-se por re-criar esse tipo de conhecimento para cada público (CALSAMIGLIA et al., 2001).

Os procedimentos linguístico-discursivos de expansão, redução e variação utilizados para recontextualizar as informações sobre ciência, com o objetivo de propiciar tanto a compreensão do público em geral como estimular a participação cidadã nas transformações proporcionadas pelos avanços científicos têm uma importância primordial, já que o uso dos recursos mais adequados permitirá o diálogo constante entre ciência, tecnologia e sociedade.

Van Dijk (2011) ressalta que a popularização do conhecimento científico pressupõe o uso de diferentes estratégias discursivas como evitar termos técnicos e, quando isso ocorrer, definir ou explicá-los com termos mais simples de conhecimento do público em geral; pode-se ainda fazer uso de metáforas e comparações que auxiliem na compreensão de fenômenos mais abstratos e técnicos. Assim, nota-se que a atividade de divulgar informações de caráter científico na mídia apresenta-se a partir de uma variedade de estratégias divulgativas como definição, explicação, paráfrase, denominação, exemplificação, comparação, dentre outras (CASSANY e MARTÍ, 1998; CATALDI, 2011).

As estratégias divulgativas são “os distintos tipos de recursos ou procedimentos verbais que utilizam os textos estudados para tornar acessível ao público leigo o conceito técnico” (CASSANY e MARTÍ, 1998, p. 59-60).39 É comum o uso dessas estratégias em notícias de divulgação científica, por serem recursos que tornam o conhecimento científico compreensível ao público. A Figura 8 mostra como se dá o uso das estratégias divulgativas:

39Tradução nossa para: “[...] los distintos tipos de recursos o procedimientos verbales que utilizan los textos

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Figura 8: Diagrama das estratégias a serem utilizadas na composição de um texto divulgativo.

(Fonte: CASSANY e MARTÍ, 1998, p. 61, tradução nossa)

De acordo com Cassany e Martí (1998), a primeira atitude do divulgador de ciência diante do texto deve ser a escolha de manter ou evitar o uso de conceitos técnicos. Caso não seja possível evitar tais conceitos científicos, é necessário explicá-los para que a cientificidade desses termos não comprometa a compreensão do leitor. Assim, diante da necessidade de esclarecer alguns conceitos, o autor do texto jornalístico poderá utilizar estratégias lexicais (sinonímia, paráfrase, definição, etc) e discursivas (contextualização, modalização, etc).

Cada recurso, utilizado pelo divulgador de ciência, contribui de forma específica para a difusão da informação de caráter científico. Segundo Gomes (2007, p. 166), “cada escolha sintática, semântica ou lexical é determinada pela busca da forma mais adequada de se obter o efeito de sentido e a compreensibilidade desejados”. Desse modo, o jornalista divulgador de ciência decidirá quais e como serão utilizados os procedimentos linguístico-discursivos de redução, expansão e variação.

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