• Nenhum resultado encontrado

O processo histórico de produção do espaço agrário de Teixeira

DE NOVA FLORESTA E TEIXEIRA

3.2 O processo histórico de produção do espaço agrário de Nova Floresta e Teixeira

3.2.1 O processo histórico de produção do espaço agrário de Teixeira

Como já mencionamos, o processo inicial de ocupação do espaço agrário do Sertão deveu-se à atividade pecuária que penetrou e se estabeleceu na região entre o final do século XVI e a primeira metade do século XVII. Esse avanço da pecuária para o interior do território paraibano acha-se relacionado à expansão da atividade canavieira na Mesorregião da Mata Paraibana. Essa atividade, no seu período áureo, provocou a separação da produção de cana- de-açúcar e do gado no interior dos Engenhos determinando uma nova divisão territorial do trabalho na Paraíba, qual seja: o Litoral voltou-se exclusivamente para a produção da cana-de- açúcar enquanto a pecuária passou a ser praticada no Sertão (MOREIRA e TARGINO, 1997).

Conforme Moreira e Targino (1997):

Inicialmente, o gado era criado em currais no interior dos Engenhos do Litoral. Ele destinava-se quase que integralmente ao atendimento das necessidades de trabalho. Os animais de “tiro” eram utilizados para transportar açúcar, lenha e a cana do eito para o picadeiro. Amarrados a

  122

carroças de madeira em pares de dois ou quatro, deram origem aos tradicionais “carros de boi”. Serviam ainda como “animais de tração” para mover os trapiches. (...) O crescimento de animais de tiro em função da expansão da atividade açucareira, o paulatino aumento do consumo de carnes nos Engenhos e centros urbanos em emergência e os conflitos entre criadores e lavradores foram responsáveis pela separação das atividades canavieira e pecuária (p. 65-66).

Os rios constituíram os “caminhos do gado” (ANDRADE 1986; MOREIRA E TARGINO, 1997) no processo de penetração do povoamento para o interior, sobretudo pela disponibilidade de água. Às suas margens foram se instalando currais e ergueram-se fazendas de gado que posteriormente originaram núcleos de povoamento.

O processo inicial de ocupação do interior da Paraíba foi marcado pelo confronto entre os colonizadores e os nativos como lembra Andrade (1986):

Os vários grupos indígenas que dominavam as caatingas sertanejas não podiam ver com bons olhos a penetração do homem branco que chegava com gado, escravos e agregados e se instalava nas ribeiras mais férteis. Construía casas, levantava currais de pau-pique e soltava o gado no pasto, afugentando os índios para as serras ou para as caatingas dos interflúvios, onde havia falta d’água durante quase todo o ano. Vivendo na idade da pedra, retirando o sustento principalmente da caça e da pesca, o indígena julgava-se com o direito de abater os bois e cavalos dos colonos, como fazia com qualquer caça. Abatido o animal, vinha a vindita3 e a reação do indígena e, finalmente a guerra. Guerra que provocou o devassamento do interior e que concluiu com o aniquilamento de poderosas tribos e com aldeamento dos remanescentes. Guerra que possibilitou a ocupação, pela pecuária, do Ceará, do Rio Grande do Norte, e de quase toda a Paraíba (p. 149).

Os índios nativos do Sertão pertencentes ao grupo dos Cariris, lutaram em defesa do seu território e se organizaram dando origem a “Confederação dos Cariris” ou “Guerra dos Bárbaros”. Esta foi considerada a maior guerra anticolonialista travada no Brasil, a qual se expandiu pelos sertões nordestinos desde 1680 até 1730 (MOREIRA E TARGINO, 1997).

A atividade pecuária que se desenvolveu no Sertão paraibano, foi organizada de forma ultraextensiva em campo aberto devido a alguns fatores, tais como: a) a escassez das pastagens naturais da caatinga; b) a existência de secas periódicas; c) a utilização de técnicas muito rudimentares na criação de gado, além de outros. Por essas razões, era preciso muito hectares de terras para alimentar uma rês, fato que explica a organização da pecuária bovina em grandes propriedades: a fazenda (MOREIRA E TARGINO, 1997). Sendo assim, o latifúndio no Sertão surgiu para atender as necessidades da atividade pecuária.

      

Outros fatores também contribuíram para expansão desta atividade em grandes propriedades, quais sejam: a) o baixo nível de capitalização exigida para implantação de uma fazenda, haja vista que bastava construir uma casa e organizar os currais de bois para soltá-los em vastos hectares de terra; b) a organização do trabalho com base na combinação do trabalho livre e escravo, com baixo predomínio deste último, dado que “o criatório não exigia mão-de- obra numerosa, bastava somente dez ou doze trabalhadores para manter o funcionamento de uma fazenda” (MOREIRA E TARGINO, 1997, p. 71); c) o sistema de pagamento do vaqueiro com um quarto da produção a partir de quatro ou cinco anos de trabalho, o qual recebia “(...) de uma só vez, um certo número de animais, suficiente para permitir sua instalação por conta própria em terras que ele comprava, arrendava ou, simplesmente, se apossava” (MOREIRA E TARGINO, 1997, p.72); d) a fraca relação com o mercado exterior, uma vez que era muito pouca a exportação do couro se comparada com a exportação da cana-de-açúcar produzida no Litoral. Por isso que as crises externas não atingiam o sistema criatório como atingiam a atividade canavieira. Como resultado de tais premissas, a região sertaneja teve um processo contínuo e disperso de povoamento.

Neste contexto desenvolve-se a agricultura camponesa associada inicialmente à pecuária. O desenvolvimento da agricultura alimentar realizada por camponeses na região semiárida pode ser explicada entre outras razões: a) pelo isolamento geográfico do Sertão que se encontra muito distante das áreas produtoras de alimentos, como o Litoral e o Agreste; b) por se tratar de uma atividade complementar à atividade pecuária, cujo gado aproveitava os restos das culturas alimentares após a colheita; c) pela capacidade da autoreprodução dos trabalhadores das fazendas que cuidavam ao mesmo tempo do gado e do roçado, proporcionando uma reprodução social através do consumo dos alimentos que plantavam e da carne e do leite do gado que cuidavam (MOREIRA E TARGINO, 1997). Os camponeses recebiam diferentes denominações tais como: vaqueiro, boiadeiro, parceiro, rendeiro e outros.

O espaço agrário da Mesorregião do Sertão se organizou até a primeira metade do século XVIII em função da atividade pecuária extensiva complementada pela agricultura alimentar praticada pelos camponeses. A partir da segunda metade deste mesmo século, o algodão se expande na região reorganizando o espaço agrário sertanejo.

Segundo Moreira e Targino (1997), embora o algodão já se fizesse presente nas combinações agrícolas desde o período pré-colonial e como produto de autoconsumo da Colônia, ele só terá destaque na economia paraibana “(...) nos fins do século XVIII, com o crescimento do progresso técnico da indústria têxtil inglesa e o conseqüente aumento da demanda no mercado internacional, e durante a Guerra de Independência americana, com o

  124

afastamento dos Estados Unidos do mercado mundial (...) (MOREIRA E TARGINO, 1997, p.73-74).

Com a expansão do algodão pelo território sertanejo têm-se a formação do complexo gado-algodão o qual estará fortemente relacionado à policultura alimentar. No decorrer do século XIX, a cultura do algodão se tornou (ao lado da cana-de-açúcar) uma das principais fontes de renda monetária da Paraíba.

O município de Teixeira, integrado a este espaço regional vivenciou as transformações ocorridas no seu quadro agrário. A ocupação do seu território reproduziu a lógica da exploração colonial.

De acordo com Frei Hugo Fragoso (2006), as primeiras famílias colonizadoras que se enraizaram na Serra de Teixeira chegaram expulsando os índios Sucurus que ali viviam para instalar suas fazendas de gado.

A terra dos índios pertencia, segundo os conquistadores, que chegaram à Serra do Teixeira, a quem as tivesse “descoberto”. E tal “descoberta” era um título especial para impetrar ao Governo a carta de sesmaria. A terra “descoberta” ainda não tinha “dono”, afirmavam eles, e por isso os colonizadores se propunham a “povoá-la”. E é impressionante como em mais de um documento de pedido de sesmaria, na região do futuro município do Teixeira, se alega que a terra está “despovoada”, pois só tem índios brabos nela morando. E, por isso, os colonizadores se propõem, como expressam no pedido de sesmaria, a povoá-la com gado (FRAGOSO, não datado)4.

Segundo Batista (1933), a Serra do Teixeira se constituía numa “artéria de comunicação” e de comércio por onde passavam estradas de boiadas, fazia-se “intercâmbio do café da Baixa Verde, do açúcar do Cabo de Santo Agostinho e das Alagoas, dos cereais e da pecuária local com o sal riograndense do norte” (p. 14-1 5).

A ocupação inicial desse subespaço regional se deu, portanto com base na atividade pecuária, mas seu povoamento só se efetivou posteriormente com a atividade algodoeira. Todavia, o município, como de resto os municípios da região serrana de Teixeira se diferenciam dos municípios da depressão sertaneja pelo fato de concentrarem uma maior produção de lavouras alimentares e por apresentar uma melhor distribuição da propriedade da terra. De acordo com Moreira e Targino (1997):

      

Merece destaque a maior concentração da produção alimentar nas áreas de exceção, como os brejos de altitude existentes no Sertão, a exemplo de Monte Horebe, Bonito de Santa Fé, Teixeira. Nessas manchas verdes, houve uma maior concentração da produção e da população, bem como um padrão de distribuição de terras menos concentrado do que nas demais áreas sertanejas (p. 78).

Isto se deve em parte ao relevo fortemente ondulado que dificultou uma maior expansão da pecuária, às melhores condições de clima e solo e à fragmentação da propriedade da terra por motivo de herança.

O povoado que deu origem ao município de Teixeira teria sido fundado, segundo alguns historiadores, em 1761 com o nome de Canudos, mais tarde denominado de Serra de Teixeira e finalmente, de Teixeira.

Do ponto de vista político-administrativo, o povoado de Teixeira foi transformado em vila pela Lei provincial nº 4, passando a ser Distrito do município de Patos por força da Lei nº. 16 de 06 de outubro de 1857. Em 1859, o território de Teixeira desmembra-se do município de Patos sendo elevado à condição de município no dia 29 de agosto de 1859, pela Lei provincial nº 45. Em 1949 quando a Lei nº. 318 aprovou a divisão territorial da Paraíba em 41 municípios, Teixeira já se integrava à nova divisão político-administrativa do Estado com cinco distritos, quais sejam: Desterro, Cacimbas, Mãe D’Água, Imaculada e Maturéia. Mas, a partir de 1959, os mencionados distritos se desmembraram de Teixeira dando origem a novos municípios: Desterro e Cacimbas em 1959; Mãe D’Água em 1961; Imaculada em 1965 e Maturéia em 1995.

Até o início do século XX o espaço agrário do município de Teixeira organizava-se com base na produção de alimentos produzidos consorciados ao algodão e na atividade pecuária.

Por volta de 1940, a valorização do sisal no mercado internacional estimulou sua produção no município. Tanto os grandes como os pequenos proprietários passaram a produzir sisal, promovendo mudanças significativas na paisagem rural e nas relações de trabalho uma vez que essa cultura exige muita mão de obra o que obriga o produtor a contratar trabalhadores assalariados.

A desvalorização do sisal no mercado externo foi responsável pela retração da cultura no município a partir do final dos anos de 1960 e pela sua substituição por frutas a exemplo do caju e de hortaliças como a cenoura, a beterraba, cebola e outras leguminosas.

      

  126

A modernização da agricultura que teve lugar na segunda metade dos anos de 1960 no Brasil e de forma atenuada, na Paraíba não promoveu muitas alterações na organização do espaço agrário teixeirense. Isto pelo fato de nele predominar uma agricultura dominantemente camponesa e pela dificuldade de utilização de máquinas em virtude das condições de relevo fortemente movimentado. Não resta dúvida, porém que expandiu-se o consumo de insumos químicos, particularmente dos formicidas e pesticidas e da prática da irrigação verificada na produção do caju e da cenoura (MOREIRA E TARGINO, 1997).