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5 A QUESTÃO DO ÍNDIO NO BRASIL: RORAIMA UM ESTADO INDÍGENA

6 SUBSÍDIOS AO PLANEJAMENTO SOCIOAMBIENTAL NA COMUNIDADE INDÍGENA BOCA DA MATA NA TERRA INDÍGENA SÃO MARCOS:

6.1 O processo histórico e a legitimação da Terra Indígena São Marcos

A Terra Indígena São Marcos (TISM) - antiga Fazenda Nacional São Marcos – conecta-se, fielmente, aos “meandros” históricos da colonização do rio Branco, que podem ser analisados no subcapítulo 3.2, marcado pela presença dos portugueses no século XVII, e que tem, como marco histórico, a conclusão da edificação do Forte São Joaquim do Rio Branco, em 1778, cuja função era defender a região contra a presença de expedições espanholas e holandesas.

Com a necessidade de desenvolver a economia da região, o então governador da capitania de São José do Rio Negro, Manoel da Gama Lobo

D’Almada promoveu a criação das Fazendas Nacionais (FN’s): São Bento, no ano de 1789; São Marcos, no ano de 1794 e São José, no ano de 1799 (ARAÚJO; PINTO, 2008; ANDRELLO, 2010).

As localizações das FN’s, observado anteriormente na Figura 07, estão relacionadas às condições naturais que contribuíram ao desenvolvimento da pecuária, porém apenas a Fazenda Nacional São Marcos obteve prosperidade, e esta atividade econômica alavancou a ocupação que, paralelamente, proporcionou um empecilho a outros colonizadores, espanhol e holandês, que faziam expedições com objetivos de ocupar, dominar e explorar a região (ANDRELLO, 2010).

O momento histórico relatado faz-se relevante ao entendimento do processo de ocupação e legitimação da TI São Marcos que pode ser compreendido em três períodos, levando em consideração os respectivos acontecimentos que permeiam a política, a economia e a sociedade, conforme mostra o Quadro 06.

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Quadro 06 - Processo histórico de ocupação e legitimação da Terra Indígena São Marcos

PERÍODO ACONTECIMENTOS

a) De 1789 ao início do século XX.

Em 1789, ocorre a criação da Fazenda Nacional São Marcos, onde é introduzido o gado e sua criação é de forma extensiva com a utilização da mão-de-obra indígena;

Invasões de posseiros nas terras e conflitos com os indígenas na região São Marcos.

b) De 1912 à década de 1960

Em 1912, ocorre manifestação indigenista pela demarcação de suas terras;

Em 1915, ocorre a extinção da Superintendência da Defesa da Borracha, do Ministério da Agricultura, e a responsabilidade da região São Marcos é repassada ao SPI; Em 1920, com a SPI administrando São Marcos foram instalados um posto de saúde e uma Escola Agrícola Indígena que passaram a funcionar na sede da fazenda, bem como ocorreu um melhoramento e crescimento sensível do rebanho bovino;

Em 1920, esforços para medição e demarcação da FNSM pelo Serviço de Proteção aos Índios – SPI;

Em 1969, criação da Colônia Indigenista Agropecuária de São Marcos.

c) De 1970 à década de 1990

Em 1972, com a Portaria 93/N de 30/11/72 os indígenas que habitavam a região de São Marcos tema posse permanente e usufruto exclusivo dos recursos naturais e utilidades nela existentes;

Na década de 1970, no período da construção da BR 174 (que liga Manaus ao extremo norte de Roraima) um novo tipo de invasão surge nas terras indígenas na porção norte da região São Marcos (Alto São Marcos);

Em 1976, ocorreu a demarcação topográfica;

Homologação da Terra Indígena São Marcos em Diário Oficial da União - DOU, no dia 29/10/91 com uma área de 654.110 hectares.

Fonte:Cirino e Frank (2010) e Andrello (2010). Elaborado pelo autor.

É relevante compreender que a ocupação do território, o

“desenvolvimento econômico” e a sociedade nas áreas indígenas – AI’s do rio Branco, em especial a região do São Marcos, tem em sua gênese um ambiente ambíguo onde se estabelecia na relação direta entre os conflitos, por parte de fazendeiros e indígenas, e a prosperidade, com a criação de gado. Nessa perspectiva, Andrello (2010, p. 69) corrobora afirmando que:

[...] De modo importante, a atividade pecuarista marcou fortemente a história do contato dos povos indígenas da região até os dias atuais, ensejando a fragmentação de seus territórios, a permanência de pendências jurídico-administrativas quanto à definição das AIs e, o que é

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mais grave, um quadro crônico de invasões das terras indígenas por fazendas de criação.

Conforme informado no quadro anterior, a TISM tem sua área demarcada pela FUNAI com Decreto Homologatório no. 312 de 29 de outubro de 1991, pelo então presidente da República, Fernando Collor de Melo, com uma área de 654.110 hectares, como apresenta no (Anexo A).

No que se refere à localização da TI São Marcos, pode-se afirmar que seu território está no setor norte do estado de Roraima, inserida nos municípios de Pacaraima, com uma maior extensão territorial, e Boa Vista, com uma menor proporção.

Seu território limita-se em quatro principais porções extremas, são elas:

Setentrional - marcada pelas fronteiras entre os territórios brasileiro e venezuelano,

com seus limites definidos pelos marcos de fronteira que, respectivamente, separam as cidades de Pacaraima e Santa Elena de Uairén; Oriental - com a TI Raposa Serra do Sol e o município de Normandia; Ocidental - com a TI Ponta da Serra que está inserida no município de Amajari e Meridional - com a TI Jaboti onde está inserida no município de Bonfim e Boa Vista que com o rio Uraricoera e o rio Tacutu vão formar o rio Branco.

Ainda, a TISM possui 45 comunidades indígenas conforme ilustra o Mapa 05, com base no regime jurídico brasileiro, é considerada uma área de Dupla

Afetação, por encontrar-se justaposta por dois elementos de sobreposição: uma

terra indígena (TISM) e uma faixa de fronteira (Venezuela), conforme explicitado na tese de doutorado - Meio Ambiente, Terra Indígena e Defesa Nacional: Direitos Fundamentais em Tensão nas Fronteiras da Amazônia Brasileira (SILVEIRA, 2009).

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Segundo dados coletados, in loco, a TISM está dividida, culturalmente e geograficamente, em três sub-regiões: Alto, Médio e Baixo São Marcos, com suas respectivas comunidades, conforme apresenta o Quadro 07.

Nesse sentido, o Alto localiza-se ao norte do estado, concentrando 24 comunidades indígenas marcadas por uma região serrana com presença de uma área de contato, entre a Floresta ombrófila e a Savana (Lavrado); ao centro da TISM, o Médio São Marcos, com 09 comunidades, que estão envolvidas por uma vegetação típica de Lavrado, acompanhada de mata ciliar na presença de recursos hídricos; e ao sul, Baixo São Marcos, com 12 comunidades, ambas caracterizadas, predominantemente, pelas fisionomias das Savanas, partilhando com algumas áreas alagadas que abrolham no período chuvoso.

Quadro 07 - Divisão das sub-regiões e suas comunidades indígenas da Terra Indígena São Marcos

Alto São Marcos Médio São Marcos Baixo São Marcos

1. TarauParú 1. Perdiz 1. Bom Jesus

2. Ouro Preto 2. Carangueijo 2. Lago Grande 3. Nova Morada 3. Monte Cristal 3. Milho

4. Kauê 4. Lagoa 4. Mauixi

5.Nova Esperança 5. Xirirí 5. Vista Nova

6. Ingarumã 6. Maruwai 6. Ilha

7. Aldeia Samã 7. Roça 7. Campo Alegre 8. Nova Jerusalém 8. Pato 8. Akam

9. Samã II 9. Tigre 9. Darôra

10. Samã I 10. Vista Alegre

11. Arai 11. Trê irmãos

12. Bananal 12. São Marcos

13. Guariba 14. Sorocaima I 15. Sorocaima II 16. Boca da Mata 17. Santa Rosa 18. Curicaca 19. Sabiá 20. Sol Nascente 21. Cachoeirinha 22. Aleluia 23. Novo Destino 24. Entroncamento

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