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O processo inicial de formação territorial e sua evolução até

3 FORMAÇÃO TERRITORIAL DO BREJO PARAIBANO

3.1 O processo inicial de formação territorial e sua evolução até

Segundo Almeida (1980 apud LIMA, 2008, p. 22),

pouco se sabe sobre os primeiros habitantes do Brejo. Os estudos realizados dão conta de que a região era habitada pela comunidade indígena Kipea-Kariri, conhecida também como tapuias e que ocupava todo Planalto da Borborema. A presença dos cariris no Brejo teria se dado de forma nômade, sem aldeamento, num estágio cultural pouco evoluído. Os índios permaneciam na área apenas no período seco, refugiados na mata.

O processo inicial de ocupação do território pelo elemento colonizador só ocorreu no século XVII. Na porção ocidental da região, onde se situa a escarpa a sotavento do planalto da Borborema, ele se deu de forma subpermanente, uma vez que os habitantes das fazendas da caatinga deslocavam-se até o Brejo para plantar e colher produtos da agricultura, permanecendo, porém na sua região de origem (ANDRADE, 1986; MOREIRA e TARGINO, 1997).

Por sua vez, o gado, na travessia do sertão para o litoral, tinha que ter pontos de parada ou de pouso para descansar da longa caminhada. Nesses locais foram surgindo áreas de produção destinadas ao abastecimento dos vaqueiros que posteriormente originaram núcleos de povoamento.

Sobre essas rotas, em cujos nós teriam lugar os futuros nucleamentos urbanos, se destacaram as de penetração, que transpunham as escarpas da Borborema pelos boqueirões e pelas encostas das “serras”, atravessam os “Brejos” e o Agreste e se prolongam pelos chamados sertões dos Cariris, do Curimataú, do Seridó e as das Espinharas, espaços com os quais se daria o maior relacionamento econômico (ALMEIDA. 1994, p. 19).

Para Almeida (1994), a economia do Brejo iniciou-se com as travessias que os vaqueiros e gado faziam no sentido litoral-sertão ou sertão litoral. No entanto foi a cana-de-açúcar que constituiu a primeira atividade monocultora da região.

A atividade canavieira desenvolveu-se, inicialmente, ao lado da agricultura de alimentos, voltada inicialmente para a produção do açúcar mascavo destinado ao autoconsumo e posteriormente, para a produção de rapadura e de aguardente.

A cana era produzida nas áreas serranas do brejo e processadas em engenhos rústicos onde dominou o sistema de morada. Desde sua introdução conviveu com a agricultura alimentar praticada pelos moradores e escravos (MOREIRA e TARGINO, 1997). Posteriormente, uma sucessão de culturas, inclusive a própria cana, se revezou na “organização do espaço regional dando origem ao que alguns historiadores e cronistas denominam de ciclos econômicos do Brejo” (MOREIRA e TARGINO, 1997, p. 85).

A primeira lavoura cultivada em maior superfície no Brejo foi o algodão, que era “uma cultura passível de ser plantado em associação com as lavouras de alimentos, sobretudo o feijão, o milho e a fava, produtos tradicionais da região” (MOREIRA e TARGINO,1997, p. 85).

O algodão teve uma forte expansão no Brasil no século XVIII, em decorrência do afastamento do mercado dos Estados Unidos, maior fornecedor de algodão para a Inglaterra durante a Guerra de Secessão.

A produção de algodão na região do Brejo paraibano teve a função de consolidar certas povoações que se encontravam no cenário brejeiro, a exemplo de Bananeiras, Pilões, Alagoa Nova e Areia (ALMEIDA, 1994). Com o declínio da atividade algodoeira, resultante do retorno dos Estados Unidos ao mercado mundial e da retração da importação do produto pela Inglaterra, “a zona brejeira manteve o crescimento econômico apoiado na agroindústria açucareira e na atividade agrícola em geral, estimulada pela facilidade de comercialização proporcionada pelas feiras regionais” (ALMEIDA, 1994, p.22).

A hegemonia do algodão sobre a organização do espaço agrário brejeiro prolonga-se até a década de sessenta do século XIX. Nesse momento, assiste-se ao fim da “febre do algodão” motivada, basicamente, pelo retorno dos Estados Unidos ao mercado internacional desse produto após a Guerra de Secessão (MOREIRA e TARGINO, 1997, p. 86).

Com o declínio da produção algodoeira a atividade canavieira volta a ter hegemonia na região. Nesse momento a produção açucareira da Zona da Mata estava estagnada em virtude da falta de desenvolvimento tecnológico da atividade e do esgotamento das terras intensamente utilizadas. De acordo com Almeida (1994, p. 23):

A busca de novas terras com condições favoráveis à agro-indústria açucareira, sobretudo no que dizia respeito à abundancia de lenha, já escassa nas áreas produtoras em crise, faz do Brejo a principal alternativa para a cana-de-açúcar na Província.

Essa fase de expansão canavieira foi contida, segundo Moreira e Targino (1997), a partir do final da última década do século XIX, em virtude: a) da elevação dos impostos cobrados à rapadura que saía do Estado, por determinação da Assembleia estadual que resultou na perda do mercado do Rio Grande do Norte; b) da concorrência com a rapadura que passou a ser produzida no Sertão em pequenos engenhos e; c) das doenças que afetaram os canaviais.

Os Engenhos sofreram o efeito desta destruição e ficaram de "fogo morto" durante duas ou três colheitas. Os senhores de Engenho se endividaram; muitos hipotecaram suas terras. Era o fim do primeiro ciclo da cana na região (MOREIRA e TARGINO, 1997, p. 92).

Para enfrentar as dificuldades financeiras, os senhores de engenho passaram a plantar uma nova cultura de exportação bastante valorizada no mercado internacional: o café.

Segundo Nóbrega (1968, p.16), “a cultura do café iniciou-se depois de 1850”. Todavia, só se expandiu após a derrocada da atividade canavieira, no final do século XIX. Sua expansão propiciou mais uma vez, segundo Moreira e Targino (1997), a sobrevivência da oligarquia rural da região e sua permanência no controle da terra e do poder durante aproximadamente duas décadas. Isto porque, em 1921, segundo Nóbrega (1968), uma praga denominada Cerococus paraibense que apareceu pela primeira vez numa fazenda chamada Gamelas, alastrou-se pelos cafezais e dizimou toda a plantação de café do Brejo em cinco anos.

A região voltou-se para suas atividades agrícolas tradicionais: a produção de alimento, de cana-de-açúcar e a criação de gado (MOREIRA e TARGINO, 1997). Foram ainda realizadas tentativas de introdução de outras culturas comerciais como o fumo, urucum, pimenta-do-reino e a produção da amoreira para cultivo do bicho da seda, mas os resultados não foram exitosos.

Em 1928, com a instalação da primeira usina de açúcar no Brejo Paraibano, a Usina Tanques, no município de Alagoa Grande e dois anos depois com a fundação da segunda usina, a Santa Maria no município de Areia, teve lugar a retomada da atividade canavieira como mola mestra da economia agrícola regional. Em 1948 foi criada a Usina São Francisco no município de Pirpirituba, bem menor que as outras duas e que depois de algum tempo se transformou em uma destilaria. O Brejo voltou-se mais uma vez ao cultivo da cana-de-açúcar.

Esta segunda fase de expansão da atividade canavieira na região foi marcada pela dualidade entre o engenho de rapadura e a usina de açúcar. Isto porque os senhores dos engenhos tradicionais produtores de rapadura e aguardente resistiram durante longo tempo à dominação da usina (MOREIRA e TARGINO, 1997). Para tanto investiram na produção de uma fibra que alcançara um preço elevado no mercado internacional: o sisal. Todo o Brejo passou a produzir sisal tanto nas grandes como nas médias e nas pequenas propriedades.

Com a queda do preço do sisal no mercado internacional na segunda metade dos anos de 1960, em virtude principalmente da concorrência com a fibra sintética, os maiores produtores rurais da região que ainda produziam aguardente e rapadura lado a lado com o sisal e a agricultura alimentar, deixaram seus engenhos de fogo morto e se subordinaram ao sistema usina transformando-se em meros fornecedores de cana (MOREIRA e TARGINO, 1997).

No início dos anos de 1970, “poucos eram os Engenhos ainda em funcionamento na região e o sistema morador, característico da atividade canavieira regional, encontrava-se em processo de decadência” (MOREIRA e TARGINO, 1997, p. 96).

3.2 RECONFIGURAÇÃO TERRITORIAL DO BREJO PARAIBANO A PARTIR DE