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2. A CELERIDADE COMO MEIO DE EFETIVIDADE NO PROCESSO

2.3. CELERIDADE E SUMARIZAÇÃO PROCESSUAL

2.3.1. O PROCESSO INSERIDO EM UMA REALIDADE DINÂMICA

Conforme esposado em linhas anteriores, observa-se na atualidade que o Direito vem sofrendo importantes mudanças que podem, até mesmo num primeiro momento demonstrarem de certo modo sensíveis, mas que implicam em um novo olhar dos institutos jurídicos.

Um primeiro ponto que deve ser considerado é demonstrado na grande capacidade da sociedade mudar o Direito, bem como de reclamar uma postura diferenciada do mesmo na solução de litígios.

Assim, pode-se dizer que até mesmo por um esforço do legislador constituinte ordinário, o sistema do direito, ou para aqueles que preferem, o ordenamento jurídico não mais representa a antiga noção de um todo completo e que não se comunica com outras realidades. Do mesmo modo, isso implica a análise do Direito sob uma outra perspectiva, a de

que o mesmo não compete a fragmentação e análise por ramos contraditórios destoantes e dotados de princípios próprios.

Ademais, observamos que constantemente as relações humanas tem se mostrado, até mesmo entre os particulares, dotadas de constante fluidez de modo que os laços então estabelecidos, cada vez mais são instantâneos.

Do mesmo modo, se transferida essa perspectiva com relação aos comportamentos, verificamos que as necessidades individuais, além de se mostrarem cada vez mais abrangentes, também se operacionalizam de forma ágil e, por muitas vezes inconstante e de forma intensa.

Cada vez menos a sociedade se contenta com as relações processuais tanto no âmbito judicial como no âmbito administrativo, por deveras vezes essas relações não de amoldam as necessidades individuais e coletivas. Observamos que algumas situações realmente são reveladoras de desagrados socialmente degenerados. A título de ilustração a própria procrastinação dos feitos, que sob a análise da etimologia da expressão já causam repulsa social.

Enfim, para alguns que defendem a pós-modernidade, posição esta na qual não nos aventuramos a defender, o feixe que entende estar a sociedade inserida corresponde uma realidade líquida, ou seja, uma situação pela qual as organizações sociais (estruturas que limitam as escolhas individuais, instituições que asseguram a repetição de rotinas, padrões de comportamento aceitável) não podem mais manter a sua forma por muito tempo, afinal, eles se decompõem muito mais rápido que o tempo para amoldá-los .

Ora, a partir dessa situação, observamos a intensificação que os indivíduos passam a ter sobre as relações particulares, gerando um descrédito em relação a situação anteriormente amoldada pelo aparato estatal implicando que o princípio de cunho social que passa a imperar perante os individuais seria o da flexibilidade e não mais de conformação às regras instituídas. Talvez por esse sentimento, o legislador constituinte derivado entendeu pela necessidade da instituição da EC 45/2004, que de certo modo possibilitou a tentativa do resgate dessa conformação a partir da tentativa de instituição de processos judiciais e administrativos mais céleres.

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BAUMAN, Zygmunt; tradução Carlos Alberto Medeiros. Tempos Líquidos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007. p. 7.

Naturalmente essa perspectiva não passa apenas pelo alavancar processual que simplesmente representa vazão processual e formas de extinção dos feitos sem a devida preocupação na reserva das garantias individuais e da coletividade. Certamente, a celeridade deve ser compreendida num contexto de análise conjunta com outros princípios e garantais fundamentais.

De qualquer forma, o que acusamos no Brasil, de forma diversa, outros países se limitam apenas à busca da aludida rapidez, mas mantém como obrigatória a necessidade de cumprimento dos outros princípios do modelo constitucional de processo.

Desse modo, se apontarmos a celeridade na sua devida interpretação, qual sejam na busca de correção normativa do sistema, a mesma será vista como um importantíssimo princípio, mas jamais poderá ser considerado hierarquicamente superior aos demais, nem conduzir, mesmo, à supressão e implicação destes. Dessa forma não poderemos chegar a outra conclusão senão a de que a duração razoável do processo, a celeridade, não corresponde a tão somente a uma rapidez procedimental .

O que se tem observado é que o Direito tem tentado se amoldar a situações que de fato permitam a sua efetivação aos anseios sociais promovendo a chamada noção de abertura sistêmica e valorativa.

De qualquer forma, em que pese invariadas situações a noção processual deve conduzir ao ponto de encontrarmos uma tutela satisfativa à pretensão ali desenhada, ainda que pesem noções de abertura social.

Pela noção de abertura sistêmica, acusamos que o “grau de abertura” da sociedade aberta ganhou um novo brilho, jamais imaginado por Karl Popper, que cunhou o termo. Tal como antes, o termo se refere a uma sociedade que admite francamente sua própria incompletude, e portanto é ansiosa em atender suas próprias possibilidades ainda não-intuídas, muito menos exploradas. Mas significa, além disso, uma sociedade impotente, como nunca antes, em decidir o próprio curso com algum grau de certeza e em proteger o itinerário escolhido, uma vez selecionado.

Complementando essa noção, a própria ideia de “sociedade aberta” era originalmente compatível com a autodeterminação de uma sociedade livre que cultivava essa abertura, ela agora traz à mente da maioria de nós a experiência aterrorizante de uma população

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NUNES, Dierle José Coelho. Processo Jurisdicional Democrático – Uma análise Crítica das Reformas Processuais. Curitiba: Juruá, 2009. p. 259.

heterônoma, infeliz e vulnerável, confrontada e possivelmente sobrepujada por forças que não controla nem entende totalmente .

Consequentemente, a justiça na qualidade de condição preliminar de paz duradoura, também não pode ser obtida assim, muito menos assegurada. A perversa “abertura” das sociedades imposta pela globalização negativa é por si só a causa principal da injustiça e, desse modo, indiretamente, do conflito e da violência.

Assim, diante de uma análise da sociedade que, necessariamente passa pela sua dinamicidade, bem como ao fato de que a mesma está inserida em uma realidade globalizada, a prestação da tutela processual deve representar um meio de proteção e segurança social – mesmo considerando todas as dificuldades então evidenciadas.

A tutela processual, desse modo, muito mais deve representar a manifestação da soberania estatal frente a realidade globalizada a qual se impõe constantemente .

O Direito, e nele a tutela processual, não pode ser encarado como mera subsunção dos que realizam o poderio político e econômico, do contrário, deve buscar sempre que possível aplainar quaisquer discrepâncias observadas no bojo social. Do contrário, seria o reconhecimento do também esfacelamento do aparato estatal.

O que se espera dentro de um contexto em sociedade é o aproveitamento das potencialidades individuais formada, naturalmente, dentro de um ambiente que propicie e ordem e a paz interna. Tanto o processo judicial como o administrativo então, servem como agentes de promoção dessa situação, de modo a contextualizar circunstâncias e potencialização dos indivíduos, dentro do entendimento de que a vontade coletiva pressupõe uma moral de inclusão coletiva.

Não obstante as considerações acima, somos cientes de que no Estado Democrático de Direito, muito se tem falado acerca do contraditório, o qual, inegavelmente é o principal pilar de uma concepção democrática de processo. Porém, sem a utilização constante de mecanismos que visem a diminuir a desigualdade dentro do processo, não só o contraditório, mas também os demais direitos fundamentais que formam o denominado processo justo, 162 Ibid. p. 13. 163 Ibid. p. 14. 164

A proposta de trabalho aqui colocada é ciente de que a realidade de um mundo globalizado revela-se irrenunciável, o que não representa dizer e ter como pretexto a necessidade de posturas estatais frouxas e menos garantistas. Assim, mesmo considerando a sociedade em constante transformação, a necessidade de implementação de processos administrativos disciplinares céleres visam, antes de mais nada, estabelecer valoração jurídica capaz de refletir na dinamicidade social.

correm o risco de se tornarem artificiais e insuficientes para assegurar a efetiva participação das partes no processo.

Enfim, não podemos nos furtar da noção de que o exercício de direitos e garantias individuais, na prática, estava, na maioria das vezes, submetido às desigualdades criadas pelo próprio modelo político e econômico. Assim, apenas a partir do Estado Social, começam a avultar algumas mudanças, na medida em que a igualdade deixa de ser apenas um ponto de partida, para ser, também, um objetivo a ser alcançado. Os homens não só têm o direito de serem tratados igualmente, mas também de se tornarem mais iguais .

Desse modo, chamamos a atenção de nessa realidade a, em alguns casos, impossibilidade de se atingir a igualdade no processo mediante fórmulas abstratas. Por mais que o legislador tente estabelecer condições para diminuir as desigualdades, muitas vezes é somente à luz do caso concreto que será possível aquilatar a medida da desigualdade entre as partes. Isso não quer dizer que as normas abstratamente concebidas não possam servir de ponto de partida para a promoção da igualdade. Porem, nessa perspectiva dinâmica, a igualdade está diretamente ligada à atividade do juiz .

A noção de processo assim, deve ser aquela de busca do titular do direito mediante critérios que o aproximarão da justiça. Desse modo, devemos observar as garantias processualmente necessárias, dando a cada uma das partes poderes, bem como a juiz, em se buscar o verdadeiro anseio de justiça.

Pois bem, sob uma perspectiva avessa ao autoritarismo, verificamos que somente desse modo encontraremos a celeridade esperada no processo.