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O processo de municipalização e suas consequências para a educação de Alagoas

O PROCESSO DE MUNICIPALIZAÇÃO DO ENSINO FUNDAMENTAL NO PAÍS E EM ALAGOAS

1.3 O processo de municipalização e suas consequências para a educação de Alagoas

Em Alagoas, é caracterizada como uma situação que, por sua singularidade, merece estudo acurado, pois, sem a existência de Fundos para Manutenção e Desenvolvimento do Ensino, foi fácil para Municípios e Estado perceberem que juntos poderiam garantir o cumprimento das suas obrigações com os três níveis da educação, assim distribuídos: os Municípios assumiram a Educação Infantil e o ensino fundamental, nas séries iniciais, e o Estado, o ensino fundamental, nas séries finais, e o ensino médio. No entanto, gradativamente foi-se observando que havia uma redução de matrícula nos municípios, em relação ao que estes entregavam ao Estado na 5ª série, o que até então seria conveniente para os municípios passou a ser motivo de preocupação, por conta dos recursos que estes representavam.

A Emenda Constitucional nº14/1996 e a Lei 9.424/96 que estabeleceram a criação do Fundef e determinavam que 15% do FPE (Fundo de Participação dos Estados) ou do FPM (Fundo de Participação dos Municípios), do IPI (imposto sobre

produtos industrializados) e do ICMS (imposto sobre circulação de mercadorias) deveriam ser usados no ensino fundamental, de acordo com os alunos matriculados em cada sistema, vinculados ao custo mínimo anual por aluno; em Alagoas, parece ter contribuído para a piora da situação do ensino ministrado pelos municípios, em razão da forma improvisada em todos os aspectos, sobretudo no que tange à gestão e à docência, proporcionados pelos municípios alagoanos – com pouquíssimas exceções, pelo que se percebe pelos resultados das avaliações como a Prova Brasil, realizada a cada dois anos e que contribui para fixar a média do IDEB de cada escola e, consequentemente, do município.

Mesmo existindo a lei que estabelece o que constituía objeto dos recursos do FUNDEF – a manutenção e o desenvolvimento do ensino – de modo a evitar o uso que, até então, era feito desses recursos pelos municípios; dos 25% obrigatórios, o atendimento escolar não parece ter melhorado. Segundo o art. 70 da LDBEN/96, consideram-se como manutenção e desenvolvimento do ensino as despesas realizadas com vistas à consecução dos objetivos básicos das instituições educacionais de todos os níveis, compreendendo as que se destinam à/ao:

I- Remuneração e aperfeiçoamento de pessoal docente e demais profissional da educação;

II- Aquisição, manutenção, construção e conservação de instalações e equipamentos necessários ao ensino;

III- Uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao ensino; IV- Levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas visando precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à expansão do ensino;

V- Realização de atividades - meio, necessárias ao funcionamento dos sistemas de ensino;

VI- Concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas públicas e privadas;

VII- Amortização e custeio de operações de crédito destinadas a atender ao disposto nos incisos deste artigo;

VIII- Aquisição de material didático-escolar e manutenção de programas de transporte escolar (BRASIL, 1996).

Diante de definições apresentadas, não sabemos como explicar por que o ensino fundamental oferecido pelos municípios alagoanos não se tem dado de forma a revelar qualidade expressa em aprendizagem.

Até o momento, não se tinham estudos e dados precisos que comprovem a afirmação de que a implementação do Fundef, em Alagoas, desde 1998, parece ter motivado os dirigentes públicos municipais a assumirem o máximo do ensino fundamental (1ª à 8ª série), desfazendo, inclusive, em alguns municípios, acordos históricos, mantido com o Poder Público Estadual, para o atendimento compartilhado aos estudantes do ensino fundamental, revertendo uma situação que, se não era a desejável da 1ª à 4ª série, era, pelo menos, aceitável nas últimas séries, consolidando o que Lira (2001) chama de “prefeiturização” do ensino, em oposição ao que deveria ser um movimento de democratização, via desconcentração da escolarização no nível fundamental.

O que parece é que, de fato, essa “corrida ao ouro” levou os municípios a promoverem chamadas e realizarem matrículas nas praças públicas, até mediante sorteios de bens, a fim de garantir o maior número possível de alunos (“afinal eles valiam por cabeça”). A alegação era de que isso significava mais recursos para a educação e, consequentemente, para a escola, criando grande expectativa nos profissionais da educação e, em especial, nos docentes que vislumbraram a possibilidade de melhorar seus vencimentos e ver os investimentos na educação aumentarem a motivação dos alunos que, finalmente, teriam mais acesso aos materiais didáticos e à melhoria da estrutura física de suas escolas, bem como aos recursos que pudessem favorecer o processo de ensino e aprendizagem e assim garantir a manutenção com qualidade dos alunos matriculados no ensino fundamental que, na sua grande maioria, são extremamente pobres e com IDH abaixo da média.

A cautela com o crescimento das matrículas parece não ter sido levada em conta pelos gestores que, sem reservas, não escondiam a ânsia em abocanhar uma maior fatia do Fundef, levando-os a “operarem” o milagre da multiplicação das matrículas, fazendo com que em 1998 elas subissem muito mais do que a evolução média dos anos anteriores.

É relevante salientar que o crescimento da importância dos municípios na oferta da educação no país verifica-se a partir do processo de significativa ampliação da taxa de escolarização da população brasileira entre 7 a 14 anos, que cresceu de 36%, em 1950; para 67%, em 1970, e atingiu 96%, em 1999. Esse crescimento é consequência da industrialização e urbanização aceleradas e da pressão dos setores populares por acesso aos serviços básicos, entre os quais a educação.

A partir daí, está depositada a esperança de uma maior qualidade no ensino, pois, sem dúvida, são os municípios que estão mais próximos da realidade de cada escola e como bem colocou Cury (1997, p.134) “muitas são as iniciativas exitosas, sobretudo em vários municípios, que tendem a fazer valer a flexibilidade, nas quais a tônica maior é a de democratização do Estado a partir da democratização da sociedade”.

1.4 Compartilhamento de Responsabilidades X Autonomia Municipal da