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3. GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS

3.6. A REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA E A BACIA DO ALTO

3.6.1. Região Metropolitana de Curitiba

3.6.1.2 O processo de ocupação irregular na RMC

O crescimento populacional na RMC foi e ainda é marcado pelo aumento da população de baixa renda.

Na década de 80, configurou-se uma série de invasões de terras, fenômeno até então raro e que se revestiu de uma característica de importância crucial por atingir áreas de mananciais de abastecimento público (LIMA, 2000, p. 106). O número de domicílios em favelas passa de 7.716 em 1982 para 18.442 em 1988 (IPEA, 2001, p. 168). A COHAB-CT, órgão cujo objetivo é viabilizar moradias populares na RMC enfrentou uma grave crise, pois ao mesmo tempo que aumentou a demanda por este tipo de programas, foi extinto o BNH (Banco Nacional de Habitação) que financiava o setor. A crise econômica somou-se a falta de oferta de programas de habitação para a população de baixa renda ocasionando um aumento significativo nas invasões de áreas públicas e particulares da RMC.

Na década de 1990, 8,53% da população total vivia em áreas de ocupação irregular, perfazendo mais de 160 mil pessoas (IPEA, 2001). Em 1994, são mais de 50.000 domicílios considerados em áreas de subabitação. LIMA (2001, p. 101), cita que entre 1992 e 1997, o número de ocupações irregulares nos municípios do leste metropolitano, Pinhais, Piraquara e São José dos Pinhais, cresceu cerca de 4.5 vezes, ou seja, 5.783 pessoas, representando 2,9 vezes maior do que o valor apresentado por toda a RMC no mesmo período. A autora ainda afirma que ao reverso do que preconizava o Plano de Desenvolvimento Integrado da RMC, aprovado em 1978, verifica-se que os maiores números de assentamentos irregulares encontram-se no município de Piraquara, com uma taxa de 69.81%, seguido por São José dos Pinhais e Bocaiuva do Sul. Três grandes ocupações surgiram nesta década: Zumbi dos Palmares, no município de Colombo, às margens do Rio Palmital, Jardim Alegria em São José dos Pinhais e Guarituba, em Piraquara esta última situada em área inundável pelo rio Iraí, com lençol freático aflorante e área de manancial (LIMA, 2001, p.108).

Na década de 2000, verifica-se ainda crescimento do número de ocupações irregulares e da população de baixa renda. O IPEA (2001, p. 53) afirma com base em dados fornecidos pelo IBGE, que “em termos de rendimento, há um maior percentual de concentração nas classes até três salários mínimos tanto em Curitiba, quanto nos

demais municípios da RMC o que contribui sem dúvida nos processos de ocupações irregulares”32.

Muitos foram os fatores que promoveram as atuais ocupações irregulares e dentre eles pode-se citar:

a) o fato de que antes de 1979, o parcelamento do solo era regulado pelo decreto-lei nº. 58/37 cujas exigências eram pequenas e pouco observadas (SCHUSSEL, 2001, p.27). A partir desta data é criada a legislação específica para parcelamento do solo urbano, a Lei Federal nº. 6.766/79, que reduziu consideravelmente o parcelamento legal do solo, pois instituiu uma série de exigências e penalidades, sendo a primeira lei no âmbito federal a abordar restrições quanto a ocupações em área de várzea33. Na

época da criação da Lei nº. 6.766, alguns municípios tais como São José dos Pinhais, Piraquara e Colombo já estavam com seus territórios parcelados por loteamentos, que na época eram considerados legais segundo o decreto nº 58/37, mas que atualmente estão atingindo áreas de mananciais de abastecimento, causando um grande prejuízo a qualidade ambiental destas áreas.

b) a demora de mais de três décadas para início das obras do Contorno Leste e da represa do rio Irai, deixando estas áreas livres e sem possibilidade de implantar outros investimentos.

c) áreas de riscos e inapropriadas são as que oferecem menor valor de mercado por possuírem restrições ambientais aos processos construtivos, segundo estudo realizado pelo IPEA, Banco Mundial e IPPUC34. O baixo interesse pela compra destas áreas

tornam-nas passíveis de invasão, por não serem foco do mercado e por permanecerem anos desocupadas.

A cada dia as invasões em áreas impróprias recebem novas famílias, aumenta ndo a contaminação das águas superficiais e subterrâneas, comprometendo as condições de salubridade de boa parte da população, seja por estarem habitando lugares desprovidos de infra-estrutura, seja por contribuírem com o processo de poluição. Cada vez mais aumenta a disparidade da oferta da água com qualidade e sua

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São muitas as formas de irregularidade: favelas, ocupações, loteamentos clandestinos ou irregulares e cortiços, cuja especificidades se referem às formas de aquisição da posse ou da propriedade e aos distintos processos de consolidação dos assentamentos, frequentemente espontâneos ou informais, já que não foram fruto de uma intervenção planejada pelo Estado nem foram formalmente porpostos por empreendedores privados no interior do marco jurídico e urbanístico vigente. (INSTITUTO POLIS, 2002, p. 14).

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Essa lei promove às discussões sobre as relações do meio urbano e do meio natural ao dispor que deve-se preservar uma faixa non edificant de 15m (quinze metros) de cada lado ao longo de águas correntes e dormentes e é mais restritiva ao Código das Águas até então vigente.

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Análise do mercado do Solo Urbano: Cidade de Curitiba e Região Metropolitana Conurbada. Relatório Final. BANCO MUNDIAL, IPEA, IPPUC., novembro 2003.

demanda, prejudicando a vida de seus habitantes, o desenvolvimento regional e sua capacidade de concorrer com outras regiões brasileiras.

Por ser de fundamental importância na qualidade de vida e no desenvolvimento, a água deve ser pensada tanto na gestão dos recursos hídricos, como no planejamento ambiental e territorial, e neste caso urbano. Para isso, o uso e ocupação do solo deve ser coordenado com as instâncias do planejamento ambiental, seja municipal, estadual ou federal, bem como da gestão dos recursos hídricos, atribuída aos governos estaduais e federal.