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3. PRODUÇÃO CULTURAL EM CINEMA NA BAHIA

3.3 O Produtor

O produtor é co-responsável pelo filme, juntamente com o diretor. Suas atribuições incluem, principalmente, o planejamento estratégico do filme como um todo. Irá acompanhá-lo desde o roteiro até a sala de exibição. Irá definir as estratégias de captação de recursos, de viabilização do filme de modo geral e também de divulgação e exibição. Buscará equilibrar as necessidades do filme com as possibilidades logísticas e financeiras. Este conceito de produtor corresponde ao apresentado por Chris Rodrigues (RODRIGUES, 2007: 68). Entretanto, é importante pontuar que alguns entrevistados relataram entendimentos que não se igualam ao de Rodrigues sobre essa função.

37 Póla Ribeiro afirma que, no cenário brasileiro, a função cujas atribuições de representação institucional e planejamento estratégico do filme como um todo caberia ao profissional nomeado produtor executivo, não produtor. Embora apresente esta nomenclatura, sua descrição é a mesma usada pelos autores Marques e Rodrigues e por outros entrevistados como Solange Lima e Sylvia Abreu. Para Póla Ribeiro, chama-se de produtor executivo o que há de mais próximo da figura do produtor, apresentada pelo cinema americano:

[...] essa equipe, de alguma forma, já vem de um conceito da produção executiva, à qual cabem mais as decisões estratégicas do filme: captação de recursos, planejamento, a visualização do filme como um todo, desde o início do roteiro até quando vai para o cinema. Seria o mais próximo da figura do produtor que banca o filme, como tem nos EUA o Dino de Laurentis (Póla Ribeiro, 2009).

Assim como em outros relatos já citados, Ribeiro afirma que esse profissional deve ter ferramentas de planejamento, de contabilidade, saber ler formulários, etc. Deve ter noções de administração e conhecer arte e cultura. Acredita que o profissional deve ter um conhecimento refinado das relações humanas, capacidade de escuta e jogo de cintura. Traduz esses últimos atributos como uma capacidade de comunicação. Ribeiro acredita que é importante aliar tal capacidade com os conhecimentos técnicos. É importante perceber como essas atribuições são recorrentes nos relatos dos entrevistados, o que indica que são comumente necessárias às funções dos produtores culturais de Salvador. Defende a existência de um curso de produção cultural por propiciar conhecimentos técnicos ao profissional, especialmente por trabalhar a capacidade de planejamento. ―[...] hoje a gente tem um curso de formação e vai aprender todos os enquadramentos, formas de captação, prestação de contas, formas de liberação, contratos, enfim, todas as demandas do filme‖ (Ribeiro, 2009).

38 Para Lula Oliveira, o produtor deve ter perfil empreendedor e bom relacionamento com as pessoas. Afirma que o produtor deve conhecer, também de legislação específica para o setor:

Tudo é contrato. A partir do momento em que você ganha um edital com o Ministério da Cultura ou capta o recurso via lei de incentivo com a empresa que vai passar aquela grana até quando você estiver distribuindo ou fazendo o home vídeo do seu projeto. Você vai estar envolvido num esquema de contrato o tempo todo. Não quero dizer que isso substitui um advogado. Mas você precisa ter conhecimento para dialogar com o seu advogado. E conhecer a legislação em torno do cinema. É preciso ter conhecimento da legislação que rege a sua área. [...] Na DOCDOMA eu trabalhei com um contador, um advogado e um administrador (Lula Oliveira, 2009).

Chris Rodrigues afirma que a idéia do que é ser um produtor foi apresentada pela primeira vez por um autor americano chamado Thomas H. Ince, que introduziu em Hollywood o conceito do produtor criativo (RODRIGUES, 2007: 69). Esse conceito o identifica como o homem que conhece o suficiente de filmes para planejar, executar e supervisionar todas as etapas desenvolvidas pelos outros. lnce logo percebeu a necessidade de produzir vários filmes ao mesmo tempo e cada vez mais se afastou da criação, explica Rodrigues. De criador, Thomas H. Ince passou a produtor, a supervisionando todos os seus filmes. Especializou-se em westerns mantendo sob contrato o mais popular astro de faroeste da época, William S. Hart. Rodrigues afirma que Ince analisava criteriosamente os roteiros e teria sido o responsável por desenvolver a estrutura de filmagens como conhecemos hoje, com decupagens e cronogramas. Tratava-se de um produtor que assumia a posição de chefe. Ince montou diversas unidades de produção, cada uma sob a chefia de um diretor de produção submetido diretamente a ele, enquanto ele próprio trabalhava com os roteiros. Rodrigues explica que Ince realizava um cronograma de filmagens, indicando quando e onde cada cena devia ser filmada. ―Isso também não podia ser violado. Era um sistema de produção que, pelo menos nas mãos dele, resultou em muitos filmes excelentes‖ (RODRIGUES, 2007: 70).

De acordo com o autor, o produtor é aquele que disponibiliza os meios para a realização de um filme. O produtor tanto pode investir seu próprio capital como conseguir o capital necessário com outros investidores e bancos de investimento. É sabido que, no Brasil, o mais comum é que o produtor de cinema faça captação de recursos junto à empresas patrocinadoras através de leis de incentivo fiscal. Para Rodrigues, o produtor é o

39 responsável final junto ao público e aos investidores pelo sucesso ou fracasso do projeto. Entre as tarefas desse profissional, Rodrigues (2007: 77) cita as seguintes:

• Escolher o roteiro, preparar o projeto, levantar recursos, contratar o diretor e, com ele, contratar o resto da equipe e o elenco;

• Administrar os recursos e a comercialização;

• Controlar os rendimentos junto à distribuidora e supervisionar o marketing do projeto.

É importante apontar que, entre as funções do produtor citadas por Rodrigues, contratar o diretor não corresponde à uma atribuição dos produtores de cinema de Salvador. Este é um modelo mais comum nos estados unidos, conforme relatou anteriormente o entrevistado Póla Ribeiro. Os relatos dos entrevistados não apontam para a figura de um produtor que está hierarquicamente acima de toda a equipe do filme. Isso será melhor aprofundado no capítulo ―A relação entre a produção e a direção‖.

Aída Marques traça um perfil do produtor e entra no mérito das suas atribuições. Para a autora, a visão desse profissional é o que permite transformar um roteiro numa realização possível de ser filmada. A distribuição e a comercialização do produto final cabem ao produtor. É um olhar sobre o filme que difere do diretor, explica Marques, ―especialmente no Brasil, onde frequentemente a cada etapa ou filme é necessário encontrar novos caminhos e soluções, dada a descontinuidade da produção cinematográfica‖ (MARQUES, 2007: 60). Entre as funções do produtor, a autora cita: escolher o roteiro, escolher o roteirista, escolher o diretor, escolher a equipe técnica, negociar os direitos do filme, aprovar um orçamento, escolher os atores e músicos, elaborar os direitos do filme, elaborar e executar a estratégia de comercialização e vender o filme. Segundo Marques (2007: 61), o produtor deve ter as seguintes capacidades:

•Capacidade de negociação •Sensibilidade artística

•Bom relacionamento e comunicação •Trânsito no mercado financeiro •Bom tino comercial.

40 É importante observar que, nesse modelo de produção apresentado por Marques, o produtor está acima do diretor, semelhante ao apresentado por Rodrigues. O que acontece, na prática, nem sempre corresponde a isso. Muitas vezes, o diretor é também roteirista e produtor, acumulando funções. Especialmente em obras de menor porte ou menor custo.