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Capítulo I Enquadramento Teórico

4. O professor investigador da sua prática

Ser professor é estar em constante formação “para um desempenho profissional consolidado e para a contínua adequação deste aos sucessivos desafios que lhe são colocados” (Decreto-Lei Nº 240 / 2001, p. 5569), é estar em constante reflexão sobre o que faz diariamente. O professor assume-se, assim

(…) como um profissional de educação, com a função específica de ensinar, pelo que recorre ao saber próprio da profissão, apoiado na investigação e na reflexão partilhada da prática educativa e enquadrado em orientações de política educativa para cuja definição contribui activamente; (Decreto-Lei 240/2001, p. 5570). O trabalho de investigação de um professor é importante em vários aspetos, mas essencialmente, este tem como principal finalidade “clarificar os problemas da prática e procurar soluções” (Ponte, 2008, p. 154), sendo que o que está em causa “é reforçar a sua competência profissional, habilitando-o a usar a investigação como uma forma, entre outras, de lidar com os problemas com que se defronta” (Ponte, 2004, p. 38). De acordo com o mesmo autor, sendo a investigação uma forma de construção de conhecimento, então a investigação sobre a própria prática profissional será um processo crucial na construção do conhecimento da mesma proporcionando ao investigador/professor uma forma privilegiada de desenvolvimento profissional. Por outro lado, o Decreto-Lei 240/2001, de 30 de agosto (p.4 / 5572), que nos fornece o perfil do professor do século XXI, preconiza um professor que “reflecte sobre as suas práticas, apoiando-se na experiência, na investigação e em outros recursos importantes para a avaliação do seu desenvolvimento profissional, nomeadamente no seu próprio projecto de formação”. Segundo Tomlinson e Allan (2002, p. 33) “Os educadores e responsáveis educativos mais sensatos questionam as opções que afetam a sua prática profissional” e neste sentido uma

41 reflexão sobre a eficácia da sua ação é imprescindível de forma a continuar a realizar um bom trabalho.

O professor enquanto investigador da sua prática remete-nos para o conceito de desenvolvimento profissional. Este traça-se num percurso contínuo de reflexão, que mune o professor de conhecimentos que lhe permitem tomar decisões importantes em sala de aula. Estas decisões são geradoras de mudança no plano profissional dos professores.

A sociedade em constante evolução coloca desafios de várias ordens ao professor atual, que se vê na contingência de acompanhar o ritmo dos seus alunos sob pena de não conseguir cumprir a sua missão: incentivar a procura de conhecimento. Esta procura de respostas a situações educativas tem como consequência a procura do desenvolvimento profissional através da investigação da prática.

Tal como apresentado por Formosinho (2009), o desenvolvimento profissional constitui-se um processo de aprendizagem e crescimento com um caráter profundo e integrador e que demonstra uma preocupação com a melhoria constante e consequente mudança das práticas dos professores em prol dos alunos. De acordo com esta autora, há três perspetivas de desenvolvimento profissional apresentados por Hargreaves e Fullan (1992) e que são por si referidos. Segundo a mesma autora, Hargreaves e Fullan (1992) referem que estas três perspetivas do desenvolvimento profissional dos professores estão intimamente ligadas não só às oportunidades destes aprenderem para melhorarem a qualidade na educação como estão também ligadas às oportunidades para ensinar, que é onde reside a diferença de cada uma destas perspetivas. Assim, a autora refere que das três perspetivas, aquela que se refere ao desenvolvimento do professor como mudança ecológica é a que mais frutos poderá dar no que diz respeito à mudança de práticas. Isto porque, segundo Hargreaves e Fullan (1992) citados por Formosinho (2009, p. 234)

Os professores aprenderão pouco uns com os outros se trabalharem persistentemente em isolamento. Se a inovação for imposta do exterior por uma

42 administração de mão pesada, será pouco provável que surjam processos de experimentação criativa. O processo de desenvolvimento do professor depende muito do contexto em que tem lugar. A natureza desse contexto pode fazer ou desfazer os esforços de desenvolvimento dos professores.

Esta perspetiva aponta para um percurso de trabalho colaborativo e cooperativo entre os professores e que permite uma mudança nas suas práticas e, consequentemente, na educação. É a partilha de experiências entre pares que enriquece o desenvolvimento profissional dos professores e que os motiva a procurarem melhorar as suas práticas redirecionando-as e centrando-as no aluno. Dizem as autoras Herdeiro e Silva (2011) citando Day e Sachs (2004) que o desenvolvimento profissional docente no futuro deverá assentar na “cooperação e colaboração entre professores”. De facto, Formosinho (2009) referindo-se a (Dewey, 1933; Knowles, 1973) refere os professores dão mais significado ao resultado do seu trabalho se trabalharem em modo de colaboração e cooperação com outros professores, através de projetos que visem melhorar algum aspeto da sua escola ou o desenvolvimento curricular.

O modelo de desenvolvimento profissional baseado num processo que visa a melhoria e a mudança de práticas utiliza a investigação-ação como forma de evolução e parte de uma necessidade real sentida por um professor ou um grupo de professores. A partir da identificação do problema, os participantes planeiam uma intervenção e realizam-na, sendo a parte mais importante desta ação a reflexão / avaliação do que foi realizado de forma a aferir a sua eficácia. A mudança poderá acontecer ou não, dependendo do resultado da reflexão sobre o projeto.

Outro dos modelos de desenvolvimento profissional docente identificados por Formosinho (2009) é o modelo baseado em projetos ou baseado no desenvolvimento curricular ou organizacional. Este modelo parte da tentativa de procurar soluções para situações concretas que podem ser gerais ou específicas, de forma a melhorar o currículo ou as escolas. Neste modelo, o desenvolvimento profissional está sempre ligado à

43 melhoria das escolas e do currículo (Formosinho, 2009). Porém, a autora adverte para o facto desta associação poder não ter os resultados desejados. Sendo reconhecidas as dificuldades atribuídas aos processos de mudança em educação, o desenvolvimento