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2.2 Conhecendo o campo de Tecnologia da Informação

2.2.2 O profissional de Tecnologia da Informação

Tendo em vista a evolução do setor de Tecnologia da Informação, há de se supor que, em cada um dos momentos evolutivos anteriormente citados o perfil dos profissionais que neles atuaram/atuam também tenha se transformado ao longo do tempo. Afinal, se no início eram comuns as atividades operacionais, relacionadas aos serviços da informática apoiando, por exemplo, um usuário no uso de computadores (hardware), com o passar dos anos foram se tornando possíveis, por exemplo, atividades de criação, desenvolvendo produtos e serviços (software), trabalhando operacionalmente ou no plano estratégico, em atividade individual ou em equipe (MOURA Jr.; HELAL, 2014).

Segundo Moura Jr. e Helal (2014), o olhar funcionalista sobre as profissões em TI aponta para a existência de cargos específicos e a exigência de uma formação profissional para a ocupação desses cargos. Em se tratando de Tecnologia da Informação é possível pensar em cursos superiores como Ciência da Computação, Sistema da Informação, Engenharia da Computação, além de cursos tecnólogos como Redes de Computadores, Análise e desenvolvimento de sistemas, Jogos Digitais, dentre outros; além de cursos técnicos e certificações que formam profissionais atuantes no setor de TI. Com essa formação, é possível ao profissional de TI ocupar cargos como pesquisador científico, engenheiro da computação, analista de sistemas, analista de negócios, analista de suporte, programador, dentre outros.

Ainda segundo Moura Jr. e Helal (2014), entre as décadas de 1950 e 1990, era possível analisar esses profissionais por meio dos cargos (títulos dos cargos e atribuições) por eles ocupados, podendo ser organizados em cinco categorias principais, que eram: analistas de sistemas, analistas de suporte, programadores, operadores de computador e funções específicas por área - vendas, instrução etc.. Contudo, ainda segundo esses autores, após a década de 1990, uma classificação de cargos e especificações no campo de TI tornou-se complexa, tendo em vista as exigências por competitividade, mudanças nas qualificações e nas tarefas a serem exercidas. A partir desse período, informações referentes aos postos de trabalho, títulos de cargos e atribuições em TI poderiam tornar-se rapidamente obsoletas, dadas as mudanças frequentemente ocorridas no campo.

Apesar das dificuldades, no Brasil, é comum a utilização desses cargos e suas respectivas descrições e atribuições, para denominar as diferentes atividades exercidas pelos profissionais de TI. Cada um desses cargos, a partir dessas descrições, estão atrelados à remunerações e carreiras específicas.

A Classificação Brasileira de Ocupações, por sua vez, prevê que os profissionais de TI podem ser diretores, administradores, gerentes, analistas, consultores ou tecnólogos. Os diretores são responsáveis pelo planejamento e coordenação de atividades de TI, definindo objetivos, metas, acompanhando tendências tecnológicas, dirigindo e administrando equipes, dentre outros. Administradores de TI administram ambientes computacionais, em termos de rotinas e projetos e níveis de serviço de sistemas operacionais, banco de dados e redes. Fornecem também suporte técnico no uso de equipamentos e programas computacionais e no apoio a usuários. Gerentes de TI planejam atividades de TI, gerenciam projetos e operações de serviços, e identificam oportunidades de aplicação dessa tecnologia. Analistas e consultores de TI desenvolvem e implantam sistemas informatizados, administram ambiente informatizado, prestam suporte técnico ao cliente, elaboram documentação técnica. Já os tecnólogos de TI executam atividades operacionais, de suporte técnico e implantação de sistemas informatizados (MTE, 2016).

O fato é que para exercer essas diferentes ocupações cabe aos profissionais de TI desenvolver várias e distintas habilidades, sejam elas técnicas, gerenciais ou comportamentais. Analisando a evolução do setor de Tecnologia da Informação é possível perceber, inclusive, a mudança na

exigência de diferentes habilidades e competências. Sobre isso, Rezende (2002, p. 2) menciona:

“No tempo do „processamento de dados‟, os usuários eram tímidos, hesitantes, indecisos e superficialmente envolvidos com tecnologias. Na fase da „informática‟ os usuários já se posicionavam como responsáveis pelos sistemas e estavam mais engajados nos processos que utilizavam tecnologias. Os usuários na „tecnologia da informação‟ são chamados de “clientes”, atuando com postura participativa e integrativa, focando seus esforços na gestão dos processos e consequentemente nos dados, informações e conhecimentos que utilizam. O uso de comitês ou de equipes multidisciplinares em projetos de TI faz com que os usuários e/ou clientes participem mais efetivamente dessas atividades, da concepção e do desenvolvimento à implantação total de soluções empresariais”.

Esse trecho permite entender como ao longo do tempo foi sendo exigido que os profissionais de TI tivessem não apenas habilidades técnicas e operacionais, mas também habilidades gerenciais e comportamentais, para lidar com as mudanças dos “usuários” que passaram a ser “clientes”. Com isso, os profissionais de TI precisaram investir em uma formação profissional cada vez mais completa, para além de cursos acadêmicos e complementares referentes a metodologias, técnicas e certificações específicas da área. O foco passa a ser também o desenvolvimento das habilidades gerenciais, preocupando-se com o desenvolvimento de soluções para as empresas, a partir dos serviços de TI. Para tanto, cursos como os de língua inglesa, gestão estratégica, gestão da informação e do conhecimento passaram a ter importância ímpar ao profissional de Tecnologia da Informação.

Além disso, com o aumento da responsabilidade e participação estratégica dos seus serviços no negócio das empresas, o profissional de TI relaciona-se mais com seus clientes, de modo a atender as suas necessidades. Esse movimento implica desenvolvimento de habilidades comportamentais como melhor relacionamento pessoal, trabalho em equipe, comunicação, negociação, organização, planejamento, proatividade, criatividade, dentre outros.

Para Rezende (2002), a mudança no perfil dos profissionais de TI significou também uma mudança na forma de gerir esses profissionais: de uma postura autoritária, alquimista, ancorados em modelos antigos de gestão, os quais vigoraram nos chamados “Centros de Processamento de Dados (CPD)”, até as “Unidades de TI” em que prevalecem a gestão moderna, transparente, departamental e sistêmica, marcada pela prestação de serviços a clientes internos e externos.

Para Luciano et al. (2012), CEO de TI precisam ter várias competências organizadas em dimensões que incluem características comportamentais, relacionamento interpessoal, visão estratégica, visão de tecnologia, processos e técnicas gerenciais e visão de negócio. Tais competências sinalizam a amplitude de olhar que um gerente precisa ter para atuar no campo de TI na atualidade.

Isso significa dizer que os profissionais de TI, desempenhando atividades operacionais ou de gestão, viram-se diante de exigências notórias de melhoria de suas capacitações e habilidades, englobando aspectos técnicos, comportamentais e gerenciais. Ou seja, viram a responsabilidade pelo planejamento e pelo desenvolvimento de suas próprias carreiras profissionais aumentar, já que o movimento de busca por novas e diferentes habilidades deveriam partir desses profissionais.

Para Castro (2013), a partir da década de 1990, no contexto brasileiro, as alterações no mercado de trabalho e as novas legislações aplicadas ao setor de TI deram mais liberdade às empresas no que tange às condições de trabalho, contratação e remuneração oferecidas, na tentativa de reduzir custos. Segundo a autora, essas alterações tiveram implicação direta na remuneração, na jornada de trabalho, bem como nas formas de contratação e alocação do trabalho dos profissionais de TI, contribuindo para o advento de novas configurações de carreira e aumento da responsabilidade desses profissionais para se manter no mercado de trabalho cada vez mais exigente. Tais alterações podem se dar de maneira ainda mais ampla frente à Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017, que entrou em vigor em 11 de novembro de 2017.

Nesse âmbito, o planejamento e o desenvolvimento de arranjos não tradicionais de carreira tendem a tornarem-se mais comuns, assim como aumentaram os desafios colocados às pessoas e também às empresas. Tal aspecto será melhor discutido no item seguinte.