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O Progestão e as parcerias

No documento MARIA AUXILIADORA MAUÉS DE LIMA ARAUJO (páginas 108-111)

UNAMA CESUPA

23 Destacamos as apresentações de trabalhos feitas em dezembro de 2002, durante o I Seminário Internacional sobre Política Educacional e Currículo, das quais ressaltamos aqueles apresentados no GT de

3.4. O Progestão e a lógica gerencial

3.4.2 O Progestão e as parcerias

O Progestão valoriza as parcerias como estratégia eficaz de construção da gestão escolar democrática, pois possibilita a participação da comunidade na vida da escola. As parcerias são, também, uma estratégia de enfrentamento dos problemas da escola pública (e de introdução da lógica gerencial).

As informações quanto às parcerias já existentes e as possibilidades de parcerias futuras devem estar sempre disponíveis no momento da elaboração do projeto pedagógico e do calendário da escola e das definições curriculares. (...) A equipe gestora é responsável por assegurar a autonomia da escola diante dos novos parceiros, buscar novas oportunidades e articulá-las com os objetivos e as atividades do projeto pedagógico. (...) A participação desses setores na vida da escola é enriquecedora quando eles atendem a objetivos e interesses coletivos expressos no projeto pedagógico da escola (Módulo II. p.50).

Em princípio, portanto, as parcerias seriam feitas em torno dos objetivos da escola, definidos em seu projeto pedagógico.

Quando definem estas parcerias, os autores falam em entidades sócio-culturais e entidades privadas como parceiros. Quando falam das necessidades das parcerias, ganham destaque os objetivos de captação de recursos e serviços, em vez da participação nos processos de decisões pedagógicas.

Apesar de os autores afirmarem que a participação desses setores na vida da escola é salutar, quando reforçam os objetivos da escola, a vinculação com qualquer parceiro pressupõe, sempre, uma relação de trocas.

O Progestão reconhece tais trocas e compromissos, pois enfatiza que:

Hoje, uma das estratégias mais importantes de sobrevivência econômica é a parceria, uma troca de serviços entre empresas ou instituições objetivando benefícios mútuos. No sistema de

parceria, todas as partes envolvidas saem ganhando alguma coisa (Módulo V, p. 98 – grifo nosso).

O caráter destas parcerias para o Progestão fica mais claro quando analisamos o Módulo V.

Que papel desempenham as parcerias na construção da convivência democrática nas escolas? Elas representam importantes suportes na construção do PP das escolas porque promovem a integração escola-comunidade melhorando sensivelmente a qualidade do ensino e, cada vez mais, sua atuação como gestor. Em muitas escolas o PP é planejado por um conselho ou colegiado, formado por pais, professores e estudantes, sob coordenação do diretor (Módulo IV, p. 78). Utilizando como referência uma publicação da Fundação Luiz Eduardo Magalhães, da Secretaria de Estado de Educação da Bahia28, os autores consideram que, entre as parcerias mais comuns nas escolas, destacam-se as campanhas desencadeadas por um parceiro em prol de uma ou mais escolas, a oferta de produtos e de serviços, espaço físico ou recursos humanos e materiais para a escola, a assessoria em projetos ou problemas específicos, patrocínios de equipes esportivas, grupos de teatro, excursões, campeonatos, festivais e feiras de ciências, prêmios oferecidos para alunos ou professores de uma ou mais escolas, oferta de bolsas de estudo para professores, produção de materiais didáticos ou de apoio, auxílios a alunos e suas famílias (Módulo V, p. 87-88). Também a prestação de serviços voluntários é colocada como uma parceria desejada (Módulo VI, p. 103).

Tais parcerias parecem estar bem adequadas à lógica neoliberal que propõe a minimização do Estado e a conseqüente desresponsabilização pelos serviços públicos básicos, como a educação. Essa afirmação fica mais clara na passagem abaixo.

28 O Estado da Bahia vem tendo diferentes governos que se sucedem, desde a década de 90, sob a marca da

influência política do “coronel” da política brasileira Antônio Carlos Magalhães, um dos mais influentes políticos liberais do país. O nome da Fundação citada é uma homenagem ao falecido filho deste líder da direita brasileira.

Sabe-se que os recursos financeiros públicos às escolas públicas são, na maior parte das vezes, insuficientes para cobrir todos os investimentos de que necessita. E, no processo atual de construção de autonomia, cabe à escola não apenas buscar as fontes de financiamento público a que tem direito como, também, procurar na comunidade fontes alternativas de recursos financeiros que possam integrar os montantes necessários ao seu funcionamento em condições de melhor qualidade (Módulo VI, p. 97).

E quais seriam as fontes adicionais de recursos propostas pelo Progestão? “Os pais dos alunos, o comércio local, as indústrias e empresas locais, os agentes comunitários e etc” (Módulo VI, p. 97). Para fazer esta captação de forma eficiente, o Programa sugere que o gestor deva elevar o seu conhecimento da economia de sua comunidade, do comércio e da indústria existente no local. Assim, “reforça seu caráter administrativo e tecnocrático em detrimento de seu papel de educador”, como afirma Krawczyk (2002, p. 65).

Por fim, o Progestão especifica os procedimentos para a melhor captação dos recursos, tais como a capacidade de negociação e o cumprimento dos acordos feitos.

O exemplo de parceria indicado é a experiência do Estado de Minas Gerais (Pacto de Minas pela Educação), em 1994. Esta parceria teria sido criada para obtenção de apoio da comunidade visando melhorar a qualidade da educação e aumentar o nível de conscientização a respeito das necessidades educacionais das crianças. Contou com o apoio do UNICEF, do Banco Mundial, de vários órgãos governamentais e de empresários (Módulo V, p. 89).

Machado (1994) revela que a lógica que se instala nas escolas de Minas Gerais, na década de 1990, é pautada na idéia de qualidade total da educação. Sobre a Pedagogia da Qualidade Total esta autora diz que seus reais objetivos são:

a) favorecer a identificação do trabalhador com a sua atividade de trabalho e com a organização empresarial; b) preparar a organização para as mudanças tecnológicas e organizacionais exigidas pelo regime da produção integrada e flexível; c)

submeter toda a organização aos novos critérios internacionais de competitividade e produtividade; e d) legitimar o mecanismo do mercado como referenciador e orientador das políticas das instituições (Machado, 1994, p.150).

Esta autora, que faz suas análises a partir da realidade de Minas Gerais, onde teria grande influência a pedagogia citada, a identifica-a como “a nova pedagogia do capital”.

Entre os parceiros indicados para as escolas (novamente se apoiando nas indicações da Fundação Luiz Eduardo Magalhães), o Progestão (Módulo V, p. 78) destaca as escolas mais próximas, associações comunitárias, agentes econômicos e associações comerciais e industriais, ONGs, e outras entidades públicas e privadas. Fica evidente a busca pela aproximação com os setores privados e as ONGs29.

Uma escola que prevê em seu PP uma gama de atividades desportivas e ao mesmo tempo um grande investimento em arte e educação em algum momento vai ter que priorizar algo, fazendo alguns cortes em seu orçamento ou mobilizando outros parceiros. (Módulo V, p. 75).

Também no Módulo II estão indicadas as parcerias a serem privilegiadas:

A escola procura sempre parcerias com a comunidade – Sesc, IEL, Sebrae, Universidade Federal de Roraima e Secretarias do Governo Estadual – para suprir as limitações e necessidades de concretizar o seu projeto pedagógico. (Maria Toledo Dutra apud Módulo II, p. 34).

As parcerias, portanto, são apontadas como uma das estratégias de enfrentamento da diminuição dos gastos públicos com a rede de educação básica.

No documento MARIA AUXILIADORA MAUÉS DE LIMA ARAUJO (páginas 108-111)