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O programa de Filosofia nos Cursos de Educação e Formação de Adultos

II. 2 – Os Cursos de Educação e Formação de Adultos: Princípios Orientadores, Elementos

II.4- O programa de Filosofia nos Cursos de Educação e Formação de Adultos

. Nesta

perspectiva, um portefólio reflexivo de aprendizagens bem construído é o portefólio que

resulta de um processo de formação no qual o adulto tenha desempenhado um papel

activo na elaboração e selecção do respectivo conteúdo. Assim, o portefólio não será o

mero agregado de materiais resultantes das várias etapas de formação, mas será antes o

documento que espelha, com sentido crítico, a imagem que o próprio autor possui do

percurso formativo por si realizado.

Tal como refere a introdução do Programa de Filosofia para os 10º e 11º anos

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,

a UNESCO tem solicitado e incentivado a introdução ou alargamento da Filosofia nos

diversos níveis de educação, uma vez que considera essencial a relação entre Filosofia e

Democracia e entre Filosofia e Cidadania. Neste sentido, releva-se a ligação entre a

Filosofia e a prática da cidadania democrática, e a própria manutenção desta última,

consubstanciada no reconhecimento da importância desta disciplina no

desenvolvimento e aperfeiçoamento das dimensões cognitiva e ética do sujeito, no

âmbito de um processo de saber de si, do outro e do mundo, dotando-o de juízo crítico e

possibilitando o seu envolvimento na comunidade democrática. Cumprem-se, então,

três funções essenciais

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Deste modo, atribui-se à Filosofia um papel central e imprescindível na

educação dos jovens e adultos portugueses, cumprindo com um dos pilares da educação

: a) Possibilitar o aperfeiçoamento da análise das convicções

pessoais; b) Desenvolver a sensibilidade, respeito e compreensão aos argumentos e

questões dos outros; c) Evidenciar o carácter limitado dos saberes.

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No que diz respeito à história de vida dos formandos, e ao contrário do que acontece nos processos de RVCC, esta é explorada apenas no sentido de determinar as motivações e expectativas pessoais que se projectam na formação, podendo, no entanto, resultar num documento autobiográfico, no qual vão sendo integradas e contextualizadas todas as aprendizagens desenvolvidas durante o percurso formativo. Assim, nos percursos tipificados, o passado do formando surge apenas, e caso este o deseje, para enquadrar o momento presente e as razões que o levam a procurar a formação.

22 Cf. BASTOS DE ALMEIDA (coord.), Maria Manuela, HENRIQUES, Fernanda, VICENTE, Joaquim N., BARROS, Maria do Rosário, Programa de Filosofia (10º e 11º anos), Ministério da Educação, Departamento do Ensino Secundário, Fevereiro de 2001, p. 4.

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apresentados no Relatório Delors: aprender a viver juntos

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No desenvolvimento de uma cultura geral alargada, a qual inclua

necessariamente uma dimensão ética e crítica, que permita a compreensão, integração e

participação crítica de jovens e adultos na construção e transformação da sociedade, a

Filosofia surge como a área de saber que permite, a jovens e adultos, aprender a

reflectir, problematizar e relacionar diferentes formas de interpretação e representação

do mundo: a Filosofia como actividade de pensar a vida e não como exercício

meramente formal. Assim sendo, a Filosofia relaciona-se com o exercício da razão, o

desenvolvimento de uma atitude crítica relativamente ao dado, mas simultaneamente

compreensiva e integradora, sublinhando o seu papel na manutenção e aperfeiçoamento

de uma sociedade democrática.

. Este pilar essencial

corresponde à necessidade de formar jovens e adultos numa perspectiva de

interdependência mútua da humanidade e valorização das estruturas comunitárias e

culturais e suas diferenças, as quais consubstanciam o enriquecimento do património

comum.

Ora, esta é, no essencial, a concepção que subjaz às áreas de Cidadania e

Profissionalidade e de Cultura, Língua, Comunicação, dos Cursos de Educação e

Formação de Adultos, os quais constituem um instrumento fundamental na qualificação

da população adulta.

Os Cursos de Educação e Formação de Adultos apresentam como princípios

orientadores a abertura e flexibilidade, a pluralidade e diversidade, e a integração e

contextualização, assentes em dois pressupostos fundamentais: a) aprendizagem ao

longo da vida e b) saberes, competência e aprendizagem. Estamos, portanto, perante um

modelo de formação baseado numa perspectiva de aprendizagem por competências,

centrada nas histórias de vida e opções pessoais, sociais e profissionais dos adultos, que

visa estimular e incentivar a aprendizagem ao longo da vida, sublinhando a necessidade

de uma mudança de atitude relativamente à aquisição de saberes, conhecimentos e

competências por parte daqueles, procurando, assim, promover uma postura de

evolução, aperfeiçoamento, participação e contribuição na construção de uma cidadania

plural e democrática.

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As finalidades identificadas no Programa de Filosofia de 10º e 11º Anos

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, as

quais visam a) o desenvolvimento da reflexão e raciocínio científico, b) o

aperfeiçoamento da análise crítica das convicções pessoais e construção de um diálogo

aberto com o outro e o mundo, c) proporcionar o desenvolvimento de um pensamento

ético-político crítico e responsável, catalisador de uma participação na vida democrática

e de respeito pelos princípios orientadores desta, d) promover o desenvolvimento de

uma atitude de respeito e tolerância face à diversidade cultural e estética e possibilitar

uma tomada de posição relativamente ao sentido da existência, em particular no que se

refere à consciência de si, do mundo e de si no mundo, e mais especificamente alguns

dos seus conteúdos / temas, subjazem aos objectivos e conteúdos para as Unidades de

Formação de Curta Duração (UFCD)

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Atendendo à crescente importância dos Cursos de Educação e Formação de

Adultos nos diversos estabelecimentos de ensino, concretizada no aumento do número

de horários do Grupo de Recrutamento de Filosofia com atribuição de horas lectivas no

âmbito deste tipo de oferta educativa, e também numa tentativa de desmistificar a ideia

vigente que afirma a “ausência de conteúdos disciplinares/ programáticos” neste tipo de

oferta, parece-nos relevante estabelecer uma análise entre o referencial de formação de

um Curso de Educação e Formação de Adultos e o programa de Filosofia para os 10º e

11º anos.

da área de Cidadania e Profissionalidade, cujas

horas lectivas são, na maioria dos casos, atribuídas aos docentes do grupo de

recrutamento de Filosofia.

Tendo em conta esse objectivo, e considerando a extensão de conteúdos

presentes em cada uma das Unidades de Formação de Curta Duração que compõem as

áreas de competências nas quais os professores de Filosofia poderão ser convidados a

desempenhar funções docentes (enquanto formadores), tomaremos como exemplo a

área que consideramos mais representativa da presença de conteúdos do domínio

filosófico: Cidadania e Profissionalidade.

Num primeiro momento faremos uma análise geral dos conteúdos das Unidades

de Formação da área numa leitura cruzada com o Programa de Filosofia para os 10º e

25 Cf. Idem, p. 8.

26 Cf. Referenciais de Formação, Catálogo Nacional de Qualificações, 2011, Agência Nacional para a Qualificação, disponíveis em http://www.catalogo.anq.gov.pt/

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11º anos e, num segundo momento, exemplificaremos a elaboração de uma planificação

de uma Actividade Integradora que envolva a Unidade de Formação de Curta Duração

Deontologia e princípios éticos (CP5), com a respectiva planificação da unidade.

Num terceiro momento, assumidamente crítico, desenvolveremos uma reflexão

acerca da organização, estrutura e desenvolvimento dos Cursos de Educação e

Formação de Adultos e as vantagens associadas ao desempenho das funções de

formador por parte de professores com qualificação profissional para a docência.

II.4.1 – A Filosofia na Área de Competências-chave de Cidadania e

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