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Considerando todo esse contexto de mudanças que, naturalmente, traz consigo tantos impactos, sejam eles positivos ou negativos e que o processo de expansão das universidades não pode ocorrer de forma dissociada, sem contemplar a manutenção da política proposta e a qualidade dos cursos oferecidos aos estudantes, torna-se relevante uma breve abordagem sobre mecanismos de acompanhamento e monitoramento utilizados na fomentação das políticas relacionadas à assistência estudantil.

A assistência estudantil está inserida no campo das Políticas Públicas de Educação Superior. Foi estruturada para atender às necessidades sociais básicas de uma população de estudantes que vem tendo sua participação ampliada neste nível de ensino, aqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade social. Nesse sentido, tem por objeto ações que assegurem a permanência do estudante na universidade e possibilitem melhor desempenho nas questões acadêmicas e, consequentemente, melhor qualificação.

Dessa forma, a proposta inicial para esse tópico era a de discutir de que maneira o PNAES tem respondido às demandas que surgem com o processo de democratização das universidades federais. Entretanto, em entrevista concedida à pesquisadora pelo atual Gestor Nacional do PNAES, Diretor de Políticas e Programas para a Graduação da Secretaria de Educação Superior do MEC, o Prof. Dr. Dilvo Ilvo Ristoff (Apêndice A), a informação obtida é de que ainda não existe, no MEC, nenhuma iniciativa no sentido de instituir alguma ferramenta ou processo de aferição ou avaliação dos resultados acadêmicos dos alunos atendidos com as ações do PNAES.

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Ao buscar pesquisas sobre a avaliação do desempenho da assistência estudantil, foi possível constatar que a literatura sobre o tema ainda é escassa, conforme registrado por Oliveira (2011). Em dezembro de 2010, a autora pesquisou em alguns bancos de dados combinações entre as palavras avaliação, desempenho e assistência estudantil e verificou a ausência de estudos específicos sobre a avaliação de programas sociais. Após 5 (cinco) anos da implementação da política de assistência estudantil, o cenário não está muito diferente, as publicações são reduzidas e as informações sobre o tema incipientes, sobretudo quando se verifica a importância que esta temática passou a ganhar ao longo dos últimos anos.

Vale registrar que a relevância da avaliação de políticas e programas governamentais vem sendo reconhecida nas últimas décadas. A avaliação é percebida como um instrumento que contribui para o processo de modernização da gestão governamental, utilizada para o planejamento e gestão das instituições. Segundo Ala-Harja e Helgason (2000), a avaliação, quando utilizada apropriadamente, tem a possibilidade de aumentar a eficiência e a eficácia do setor público e, consequentemente, fortalecer a base para as atividades da iniciativa pública.

Nesse sentido, a Secretaria de Educação Superior (SESu), unidade do Ministério da Educação responsável por planejar, orientar, coordenar e supervisionar o processo de formulação e implementação da Política Nacional de Educação Superior, apresentou, em 2014, um breve resumo dos principais avanços obtidos em face dos desafios encontrados no período 2003 – 2013 ao buscar atingir a expansão, qualidade e democratização da educação superior.

Visto que o estabelecimento de diretrizes e padrões mínimos de qualidade compete ao Governo Federal por meio do MEC e de suas entidades vinculadas específicas, dentre os avanços registrados destaca-se a implantação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), criado pela Lei nº 10.861, de 14 de abril de 2004. Embora o sistema não trate especificamente do PNAES, ele compreende a avaliação das instituições, dos cursos e do desempenho dos estudantes, a fim de traçar um panorama da qualidade dos cursos e instituições de ensino superior no país.

Os resultados são obtidos a partir das informações do Censo da Educação Superior e do cadastro institucional das instituições, dos cursos e do desempenho dos estudantes. Os dados são utilizados na elaboração do panorama da qualidade

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das IFES e dos cursos, bem como para a orientação das políticas públicas definidas pelos órgãos oficiais na área educacional. Para as instituições, os resultados do processo avaliativo podem ser aproveitados para a orientação da eficácia e efetividade acadêmica e social de suas ações, enquanto o público, em geral, pode se utilizar das informações para auxiliar nas decisões relacionadas à realidade dos cursos e Instituições do Sistema de Ensino Superior.

Dentre as principais políticas e programas que possibilitaram o avanço do processo de democratização e expansão da Educação Superior encontra-se o Programa Nacional de Assistência Estudantil. De acordo com o balanço realizado pela SESu,

Em 2013, o programa proporcionou mais 1,4 milhão de benefícios a estudantes distribuídos em todas as instituições federais de educação superior. Os critérios de seleção dos estudantes levam em conta o perfil socioeconômico dos candidatos e requisitos estabelecidos por cada instituição, segundo sua realidade individual. (p. 64, Portal MEC, 2014).

Além de não existir ferramenta específica para avaliar os resultados dessa política, o prof. Dilvo desconhece estudos específicos sobre a eficácia do PNAES no que diz respeito à redução das taxas de retenção e evasão. Entretanto, em seu entendimento,

Há dificuldade de se estabelecer uma correlação direta entre o PNAES e o sucesso ou fracasso estudantil, pois são muitos os fatores contribuem para isso. Os índices de evasão, [...], mostram que nos últimos anos, com o agressivo processo de democratização do acesso à educação superior, em curso, a taxa de sucesso vem caindo, apesar do enorme crescimento do Pnaes. É provável que sem o Pnaes, ou seja, com condições de permanência no campus menos favoráveis, os índices de evasão seriam ainda maiores do que os hoje observados (Apêndice A).

Quanto ao papel de minimizar os efeitos das desigualdades sociais e regionais na permanência e conclusão da educação superior, o professor foi enfático ao registrar que não tem dúvidas em relação a isso. “Considerando-se o grande contingente de estudantes de baixa renda que nos últimos anos chega à universidade federal, é bem provável que a evasão causada por dificuldades financeiras de permanência no campus seria bem maior” (Apêndice A). O fato de disponibilizar recursos atenua as dificuldades de permanência no campus que os estudantes teriam que enfrentar. Para ele, as ações desenvolvidas no âmbito do

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PNAES (o subsídio dos restaurantes universitários, o auxílio moradia, o auxílio transporte, o auxílio saúde, o apoio pedagógico) “têm impacto direto sobre a vida no campus e melhoram as condições de permanência dos estudantes mais pobres” (idem).

Contudo, o professor chama a atenção para o fato de que mesmo com um programa tão importante como o PNAES, “a taxa de sucesso não tem melhorado nas IFES nos últimos anos” (Apêndice A). Destaca também, a necessidade de estudos mais aprofundados que permitam verificar que outras causas são determinantes no processo de evasão, já que este fenômeno ocorria mesmo antes da existência do PNAES e da implantação das políticas de inclusão na educação superior.

Enfim, diante das diferentes possibilidades de atuação previstas no Decreto 7.234/2010, pode-se inferir que instituir um processo de avaliação unificado para as ações do PNAES nas diversas IFES tem como principal obstáculo a não uniformização do programa nas universidades, haja vista que cada instituição, no âmbito de sua autonomia, interpretou e implementou de maneiras distintas as ações. Entretanto, esse fato não impede que cada universidade acompanhe os resultados internos alcançados com seus programas.

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