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2 O PROEJA NO CONTEXTO DAS CONQUISTAS LEGAIS

2.2 O PROGRAMA NACIONAL DE INTEGRAÇÃO DA EDUCAÇÃO

E ADULTOS – PROEJA

O Governo Federal, através do Ministério da Educação e da Secretaria Nacional de Juventude, vem desenvolvendo diversas ações educativas com vistas à reestruturação e à consolidação de uma Política Pública voltada para a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Dentre essas ações, está incluído o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA).

Como parte integrante de uma política de inclusão social, o PROEJA surge com a pretensão de reinserir no sistema educacional brasileiro milhões de jovens e adultos que não tiveram condições de concluir a educação básica nas faixas etárias consideradas próprias, o que contribui para superar o quadro da educação brasileira explicitado pelos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD – que divulgou, em 2003, que 68 milhões de jovens e adultos

trabalhadores brasileiros com 15 anos e mais não concluíram o ensino fundamental, e apenas, 6 milhões (8,8%) estão matriculados em EJA. (IBGE, 2003).

Inicialmente denominado Programa de Integração da Educação Profissional ao Ensino Médio na Modalidade Educação de Jovens e Adultos, o PROEJA foi instituído no âmbito das Instituições Federais, no ano de 2005, por meio do Decreto nº 5.478, de 24 de junho de 2005, com a proposta de atender à demanda de jovens e adultos pela oferta de educação profissional técnica de nível médio, da qual, em geral, são excluídos.

Na verdade, a criação do PROEJA é justificada com base em três demandas: as demandas por universalização do ensino médio, as demandas para a educação de jovens e adultos, que vivenciam trajetórias escolares descontínuas, e as demandas por profissionalização de nível médio.

Moura (2006a), ao mesmo tempo em que critica as descontinuidades e contradições que marcaram a modalidade EJA no Brasil, em especial, no âmbito do ensino médio, defende que o surgimento do PROEJA tem por finalidade enfrentar essas descontinuidades e, ainda, unir a educação básica a uma formação profissional que contribua para a integração sociolaboral dos excluídos do sistema educacional nas faixas etárias denominadas “regulares”.

No início de sua implantação, o PROEJA foi muito questionado, inclusive pela própria Rede Federal, devido ao fato de o seu decreto de criação restringir a oferta do programa aos Centros Federais de Educação, às Escolas Técnicas Federais, às Escolas Agrotécnicas Federais e às Escolas Técnicas vinculadas às Universidades Federais. Em julho de 2006, o Decreto 5.478/2005 foi revogado e substituído pelo Decreto 5.840/2006, que trouxe algumas mudanças para o referido programa, entre elas, a ampliação da abrangência em relação ao nível de ensino, com a inclusão do ensino fundamental, bem como em relação à origem das instituições a serem proponentes, por admitir que os sistemas de ensino estaduais e municipais e as entidades privadas nacionais de serviço social, aprendizagem e formação profissional, vinculadas ao sistema sindical (“Sistema S”), pudessem oferecer o PROEJA. Contudo, a obrigatoriedade em relação à oferta dos cursos e programas regulares do PROEJA continuou recaindo sobre a Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, que teve o limite de prazo até 2007 para implantá-los nas suas instituições.

Com o Decreto 5.840/2006 (BRASIL, 2006b), o PROEJA passa a denominar-se Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e adultos. Conforme expressa a nova denominação, o Programa passou a contemplar não apenas o ensino médio integrado à educação profissional, segundo defendia o Decreto 5.478/2005, mas também o ensino fundamental, integrado à formação inicial e continuada de trabalhadores.3

Assim, conforme os Decretos 5.840/2006 (BRASIL, 2006b) o PROEJA poderá oferecer os seguintes cursos e programas de educação profissional:

 Formação inicial e continuada articulada ao ensino fundamental e ao ensino médio, com o objetivo de elevar o nível de escolaridade do trabalhador;

 Educação profissional técnica de nível médio destinado a quem já cursou o ensino fundamental e pretende adquirir uma habilitação profissional técnica e ainda concluir o ensino médio.

O Decreto 5.840/2006 ainda estabelece que os cursos que se referem à formação inicial e continuada têm uma carga horária mínima de 1.400 (mil e quatrocentas) horas, sendo que dessas, no mínimo, 1.200 (mil e duzentas) devem ser destinadas à formação geral e um mínimo de 200 (duzentas) para a formação profissional. Já os cursos voltados para a educação profissional técnica de nível médio devem oferecer uma carga horária mínima de 2.400 (duas mil e quatrocentas horas), das quais, 1.200 (mil e duzentas) são destinas à formação geral, e o restante deve assegurar o cumprimento da carga horária mínima estabelecida para a respectiva habilitação profissional técnica, que deve observar “[...] as diretrizes curriculares nacionais e os demais atos normativos do Conselho Nacional de Educação para a educação profissional técnica de nível médio, para o ensino fundamental, para o ensino médio e para a educação de jovens e adultos” (Art. 4, inciso III). (BRASIL, 2006b, p. 15).

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Formação inicial refere-se a cursos que “iniciam” os trabalhadores numa área profissional como uma primeira formação. A formação continuada implica todas as experiências formativas depois de o trabalhador ter adquirido uma primeira formação profissional, tais como atualização, desenvolvimento, aperfeiçoamento, especialização, entre outras – seja na mesma área profissional ou em áreas diversas (FRIGOTTO, CIAVATTA; RAMOS, 2005).

Os cursos relacionados ao PROEJA que são articulados ao ensino médio podem ser oferecidos de forma integrada ou concomitante. Porém, “[...] na busca de priorizar a integração, os maiores esforços concentram-se em buscar caracterizar a forma integrada, que se traduz por um currículo integrado” (BRASIL, 2007, p.36), ou seja, a formação profissional e a formação geral são unificadas, e cada aluno tem apenas uma matrícula.

Na forma concomitante, a formação profissional e a formação geral são oferecidas de modo complementar, podem ocorrer na mesma instituição ou em instituições distintas, mediante convênios de intercomplementaridade. Nesse caso, o aluno faz sua matrícula separadamente em cada curso. Entretanto, o Documento Base do PROEJA (BRASIL, 2007) orienta para que, mesmo quando o curso for oferecido na forma concomitante, é fundamental que se tenha um projeto político- pedagógico interinstitucional único, construído pelas instituições parceiras, sendo necessário incorporar nessa proposta as concepções, os princípios e as diretrizes estabelecidas para a oferta integrada. “O que se pretende é uma integração epistemológica, de conteúdos, metodologias e de práticas educativas. Refere-se a uma integração teoria-prática, entre o saber e o saber fazer” (idem, ibidem, p.41).

A forma integrada como se organizam os cursos, no âmbito do PROEJA, tem suas bases no Decreto 5.154, de 23 de julho de 2004. Esse documento surgiu em meio a um contexto de luta pela superação da dicotomia entre formação profissional e educação geral, com maior expressão no nível médio. Essa dicotomia, embora presente na história da educação no país, teve sua consagração com o Decreto 2.208/1997, que regulamentou a separação radical entre o ensino técnico e a formação geral, por entender que o ensino técnico pudesse desenvolver-se de forma subsequente ao ensino médio, ou, ainda, de forma concomitante, porém não integrado em um único curso.

De acordo com Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005, p.52), o Decreto 2.208/97, “[...] expressava, de forma emblemática, a regressão social educacional sob a égide do ideário neoconservador ou neoliberal e da afirmação e ampliação da desigualdade de classe e do dualismo na educação”. Por esse motivo, travaram-se fortes embates para a sua revogação.

como as formas para a organização de um currículo integrado em consonância com os pressupostos da Educação de Jovens e Adultos, estão contemplados em um Documento Base (BRASIL, 2007) que, elaborado a partir de várias representações, tendo por base os pressupostos do Decreto nº 5.840/2006, orienta as ações para a implantação do PROEJA no país. O referido Documento esclarece que a proposta do programa não está restrita à formação de mão de obra para atuar no mercado de trabalho, mas para proporcionar a formação integral dos educandos através de uma educação básica sólida que também oportunize a continuidade de estudos.

Sobre a formação integrada, Ciavatta (2005) enfatiza que, em se tratando de preparação para o trabalho, a educação geral não pode se separar da educação profissional, uma vez que “[...] a ideia de formação integrada sugere superar o ser humano dividido historicamente pela divisão social do trabalho entre a ação de executar e a ação de pensar, dirigir ou planejar” (idem, ibidem, p.85) Nessa perspectiva, a preparação para o trabalho não se reduz ao domínio de técnicas operacionais, destituída da formação humana. Isso significa que não se trata de preparar o individuo estritamente para as atividades laborais, mas formá-lo integralmente, de modo que ele possa dispor de conhecimentos que lhe permitam atuar “[...] como cidadão pertencente a um país, integrado dignamente a sua sociedade política. A formação, nesse sentido, supõe a compreensão das relações sociais subjacentes a todos os fenômenos” (idem, ibidem, p.85).

Por se tratar de uma novidade no quadro educacional brasileiro, o PROEJA é um grande desafio para todos aqueles que estão envolvidos na execução dessa proposta. Tal desafio, segundo o Documento Base (BRASIL, 2007), estará a caminho da superação se algumas condições forem satisfeitas, entre elas, a elaboração de um projeto político-pedagógico específico, claro e bem definido, que assegure que ciência, cultura e tecnologia façam parte do currículo de forma proporcional, para garantir que os conteúdos relativos ao ensino propedêutico e ao profissionalizante sejam ministrados de maneira semelhante, sem priorizar uma área em detrimento da outra. Além das implicações emanadas dessa associação, Machado (2006) lembra que é importante considerar a pluralidade que caracteriza a Educação de Jovens e Adultos, uma vez que se trata de uma modalidade educativa específica, que precisa lidar com diferentes sujeitos e diversas formas de aprendizagem. Sob o ponto de vista da autora (idem, ibidem, p.41-42), essa

problemática “[...] indica a necessidade de tomar a especificidade da EJA como principio metodológico primário do desenho e da organização curriculares.” Porém ela deixa claro que não se devem negligenciar as exigências didático-pedagógicas da Educação Profissional.

O Documento-base (BRASIL, 2007) também orienta que é preciso superar os modelos curriculares rígidos, por isso a organização curricular do PROEJA não está dada a priori, mas será construída de forma contínua, processual e coletiva e envolverá todos os sujeitos que participam do Programa. Nessa perspectiva, é preciso promover encontros pedagógicos periódicos

Ainda sobre a organização curricular dos cursos, no âmbito do PROEJA, Machado (2006) ressalta que as instituições precisam exercer a sua criatividade para desenhar e desenvolver currículos inovadores. Para essa construção curricular, a referida autora elege como primeiro desafio:

A elaboração de uma síntese que seja capaz de dar conta de atender a todas as definições e determinações decorrentes da aplicação da legislação educacional concernentes aos três campos envolvidos: Educação básica (Ensino Fundamental e médio), Educação Profissional (formação inicial e continuada e formação técnica) e Educação de Jovens e Adultos (idem, ibidem, p.41).

Considerando a especificidade desse campo de conhecimento, a formação dos professores responsáveis por trabalhar com o público atendido pelo PROEJA é outra condição que precisaria ser satisfeita. Eles devem ser preparados para mergulhar fundo nas questões relacionadas à realidade dos alunos, necessitam investigar seus modos de aprender e interagir com o mundo, ouvir suas histórias, conhecer os seus anseios, suas lutas, considerar as individualidades e, sobretudo, levar em conta os conhecimentos que detêm. Para tanto, promover a formação continuada dos profissionais para atuarem nesse novo campo educacional é uma necessidade urgente. Sobre esta formação, o Documento-base (BRASIL, 2007, p.41) defende que:

A participação dos professores em programas de formação continuada poderá favorecer a compreensão de sua função como mobilizadores das famílias, acolhendo-as nas eventuais participações junto ao projeto da escola, de modo a consolidar participações mais sistemáticas e qualificadas no processo educacional (BRASIL, 2007, p.41).

Cabe lembrar que a formação continuada dos professores é de responsabilidade da Secretaria de Educação Tecnológica (SETEC/MEC), por ser a gestora nacional do PROEJA. Consciente dessa responsabilidade, a referida Secretaria iniciou, em agosto de 2006, a primeira edição da Especialização lato

sensu PROEJA para 14 polos, com cerca de cem estudantes por polo, com o

objetivo de capacitar profissionais para atuarem na educação profissional integrada ao ensino médio na modalidade EJA. Em 2007, aconteceu a segunda edição da referida Especialização, com um número de 21 polos e, aproximadamente, 2.400 matrículas. Já a terceira edição, iniciada em 2008, atendeu a cerca de 3.794 matrículas distribuídas em 33 polos. A quarta edição ocorreu em 2009 e abrangeu um número de 33 polos, com, aproximadamente, 2.789 matrículas.4

Promover a formação continuada dos professores que atuam ou irão atuar no PROEJA é muito oportuno, principalmente quando se trata de profissionais com experiência apenas em educação profissional e que, na maioria dos casos, desconhecem os referenciais teóricos que respaldam a educação e, menos ainda, a Educação de Jovens e Adultos. Entretanto, apesar de o IFPB ter sido contemplado com esse Curso de Especialização, cujo polo foi a cidade de Souza-PB, apenas dois professores do Campus Cajazeiras realizaram o referido curso e não fazem parte do quadro de professores efetivos da Instituição. Apenas um lecionou no PROEJA. Desconhecemos os reais motivos da participação reduzida dos docentes do Campus Cajazeiras nesta especialização.

O PROEJA, apresentando-se como uma inovação dentro do complexo campo da Educação de Jovens e Adultos, representa, na visão de Machado (2006, p. 42), “[...] uma grande oportunidade para a sua exploração como espaço aberto à pesquisa, à experimentação pedagógica, à produção de materiais didáticos e à formação especializada de profissionais da educação.” Isso justifica o desenvolvimento do presente trabalho de investigação.

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Disponível em: portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&task=doc...Acessado em 10-09- 2010.