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Capítulo IV. Comissão de Limites da Plataforma Continental

IV.III. O projecto Português

Portugal, assim como os casos referidos anteriormente, efectou um pedido de extensão da sua Plataforma. Convencidos de que Portugal, nas palavras de Manuel

Pinto de Abreu, “ganha dimensão, ganha recursos, ganha capacidade, ganha

experiência e ganha influência”.

Portugal tinha um prazo de 10 anos para apresentar uma proposta à CLPC de extensão da jurisdição portuguesa às 200 milhas (de acordo com o art. 76.º da CNUDM). Os trabalhos portugueses para o projecto de extensão da P.C. começaram, em 1998 (no ano a seguinte à ratificação da CNUDM), com a criação da Comissão Oceanográfica Intersectorial e da Comissão Interministerial para a Delimitação dos Limites da Plataforma Continental146 (CIDPC). Esta Comissão tinha como objectivos investigar e desenvolver uma proposta para a delimitação da P.C. portuguesa. Para cumprimento dos seus objectivos a Comissão tinha que:

“a) Conhecer, com adequado detalhe, as características geológicas e hidrográficas do offshore de modo a poder vir a fundamentar a pretensão de Portugal em alargar os limites da sua plataforma continental para além das 200

milhas náuticas, (…);

b) Definir, com o maior rigor possível, os limites da plataforma continental, para submeter à aprovação pela Comissão de Limites da Plataforma Continental, em conformidade com o previsto na Convenção; c) Adquirir, aplicar e desenvolver novas tecnologias para conhecimento do fundo dos oceanos.” (Resolução do Conselho de Ministros n.º 90/98)

A comissão era presidida pelo Director-Geral do Instituto Hidrográfico, e composta por membros Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, do Ambiente, da Economia, da Ciência e da Tecnologia, da Educação, da Defesa Nacional e dos Negócios Estrangeiros. A comissão acabou por concluir que as perspectivas de alargamento eram bastante encorajadoras, e que a preparação da apresentação formal deveria ficar a cargo de uma Estrutura autónoma.

Criou-se a Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental147 (EMEPC) com o objectivo de preparar a proposta portuguesa de extensão da P.C. para além das 200 milhas, até Maio de 2009. Era também missão da EMEPC, e de forma a fundamentar a pretensão portuguesa, de “conhecer as características geológicas e hidrográficas do fundo submarino”, segundo Diário da República, assim como de criar um dicionário de dados oceanográficos.

146 Criada por Resolução do Conselho de Ministros nº90/98, publicado em Diário da República n.º

157/1998, Série I-B de 10 de Outubro de 1998;

147 Criada por resolução do Conselho de Ministros n.º 9/2005, publicado em Diário da República n.º

A EMEPC cumpriu com o prazo estipulado, e em 11 de Maio de 2009 entregou à CLPC a proposta portuguesa de extensão da P.C. para além das 200 milhas. No entanto, e apesar da submissão da proposta, os trabalhos da EMEPC não terminaram. A Estrutura continua a recolher dados “técnicos e científicos que permitam defender e

reforçar o estabelecimento do limite exterior da plataforma continental contido na proposta portuguesa.”148 Como prova foi a adenda entregue por Portugal, em 2017, com novos dados batimétricos149, geológicos e geofísicos150 e que incluiu um novo limite, conforme podemos constatar na figura 11, a área reclamada por Portugal aumentou consideravelmente, principalmente a Norte do Arquipélago dos Açores.

Figura 11.Proposta entregue em Maio de 2009 e Adenda entregue em Agosto 2017.

Fonte: Dr.Manuel Pinto de Abreu e EMEPC.

Para além da sua missão, a EMEPC tem como objectivos:

“a) apoiar a realização de projetos de investigação e desenvolvimento, bem como a prospeção de recursos naturais marinhos no âmbito dos projetos a levar a cabo pela EMEPC e outros projetos afins considerados relevantes para a prossecução dos objetivos principais, nomeadamente através de cruzeiros científicos no quadro do processo de extensão da plataforma continental e do

projeto «M@rBis»;

b) Manter e atualizar a estrutura de base de dados de apoio ao projeto de

148 Missão da EMEPC, disponível no site oficial: https://www.emepc.pt/missao. (Data do último acesso:

12 de Maio de 2019);

149 Segundo o EMEPC, os dados batimétricos servem paras se avaliar, com resolução, a profundidade e a

forma dos fundos marinhos;

150 Os dados geológicos e geofísicos, dados de sísmica de reflexão e refracção, entre outros, e que

extensão da plataforma continental, dando continuidade ao Sistema Nacional de Informação do Mar (SNIMar), em coordenação com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, I. P. (IPMA, I. P.), e com a Direção-Geral da Política do

Mar (DGPM);

c) Apoiar a comunidade científica nacional, a participação de jovens estudantes e investigadores nos projetos desenvolvidos pela EMEPC e a colaboração, nas áreas da sua competência, aos Estados com os quais o Governo estabeleça acordos de cooperação, tendo em vista a contribuição para o esforço nacional de valorização do mar de Portugal.”151

Para a concretização dos seus trabalhos a EMEPC conta, com o apoio, de um navio da Marinha Portuguesa, o NRP Almirante Gago Coutinho, e em 2009 adquiriu o ROV Luso, um veículo que permite a recolha de diversos tipos de amostras e que conta com variados sensores que recolhem e disponibilizam em tempo real a informação152. Possuem ainda uma embarcação, “Selvagem Grande”, ROV Observer e um AC-ROV, veículos que permitem observar. Para além da recolha de dados, as equipas da EMEPC também participam em campanhas técnico-científicas conjuntas (por exemplo, a Campanha Mower 14-LEG1, em conjunto com Espanha).

Como podemos constatar, o trabalho da EMEPC é muito mais do que apenas recolher dados dos fundos marinhos para o Projecto de Extensão da P.C. O seu objectivo é conhecer os fundos marinhos portugueses, é a valorização do mar português153.

À proposta Portuguesa entregue à CLPC pode acontecer como às duas situações que sucederam às propostas que apresentei anteriormente. A proposta Portuguesa pode ser aceite como a Filipina, e essa será a situação mais simples para Portugal, depois Portugal pode começar a explorar melhor os seus recursos e a sua nova área de soberania. Ou pode acontecer como à proposta Brasileira, que foi entregue primeiro que a proposta Filipina (o Brasil apresentou a sua proposta em 2004, e as Filipinas em 2009), mas que não foi inicialmente aceite e foram efectuadas recomendações. A Portugal pode suceder-se a mesma situação, assim, Portugal poderá ter que recolher novos dados. Há que ainda ter em conta que Portugal apresentou uma proposta de extensão individual, ou seja, não é uma proposta conjunta com nenhum outro Estado, ou

151 Objectivos da EMEPC, disponíveis no site oficial: https://www.emepc.pt/missao (Data do último

acesso: 12 de Maio de 2019);

152 Informação sobre o veículo ROV Luso disponibilizada pelo EMEPC, disponível no site:

https://www.emepc.pt/rov-luso. (Data o último acesso: 12 de Maio 2019);

que tenha acordos com outros. Nesta situação, a Comissão pode recomendar que Portugal, em conjunto com Estados adjacentes, cheguem a acordos no que toca a extensões de Plataformas154, o que no caso de Portugal, pode vir a acontecer com Marrocos155 e Espanha156.

154 Silva, 2011: 94;

155 Marrocos ainda não apresentou nenhuma proposta à Comissão de Limites;

156 Espanha apresentou três propostas à Comissão: uma em Maio de 2006, já concluída, outra em Maio de

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