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Entende-se hoje que todo o património arqueológico, para além de se inserir num tempo, se insere num espaço, que é fundamental para a sua total compreensão (Tilley, 1994). Pelas suas características, o património do Vale do Côa, sobretudo o rupestre, encontra- se profundamente vinculado ao território envolvente, o que levou mesmo a defender-se que o monumento é o próprio vale (Zilhão, 2000).

Obtida a protecção legal do conjunto de sítios, através da sua classificação como Monumentos Nacionais (Decreto n.º 32/97, de 2 de Julho), bem como o reconhecimento internacional da sua valia, através da sua integração na lista de Património Mundial em Dezembro de 1998 (UNESCO, 1999), seguiu-se no sentido da protecção do território en- volvente, que os enquadra e dá significado.

Neste sentido suspenderam-se, pelo prazo de dois anos, os Planos Directores Municipais dos concelhos de Vila Nova de Foz Côa, Pinhel, Figueira de Castelo Rodrigo e Meda, numa área de cerca de 200 km2, em torno dos núcleos de arte do curso final do rio Côa, sujeitando-se esse território a um conjunto de medidas preventivas (Lei n.º 50/99, de 16 de Fevereiro). O prazo de suspensão foi entretanto prorrogado, pelo prazo de seis meses (Decreto-Lei n.º 95/2001, de 23 de Março).

Tratava-se aqui apenas de medidas preventivas com um prazo definido. A figura de parque arqueológico continuava ausente da lei portuguesa e a sua expressão territorial. O Parque Arqueológico do Vale do Côa existia apenas enquanto serviço dependente do IPA, com a função de gerir, proteger, musealizar e organizar para visita pública os sítios arque- ológicos inseridos na zona especial de protecção(art.º 13.º do Decreto-Lei n.º 117/97, de 14 de Maio).

Foi então necessário esperar pela nova lei do património cultural (n.º 107/2001, de 8 de Setembro) para a definição da figura de parque arqueológico enquanto um instrumento do regime de valorização dos bens culturais. Um parque arqueológico passa a ser defi- nido como “qualquer monumento, sítio ou conjunto de sítios arqueológicos de interesse nacional, integrado num território envolvente marcado de forma significativa pela inter- venção humana passada, território esse que integra e dá significado ao monumento, sítio ou conjunto de sítios” (n.º 4 do art.º 74.º). O n.º 7 do art.º seguinte definia que “com vista a assegurar o ordenamento e a gestão dos parques arqueológicos (…) a administração do património arqueológico competente deve, nos termos da lei, elaborar um plano especial de ordenamento do território”.

Ficava assim legalmente definido o que era um parque arqueológico, o que era o seu território e o instrumento para a sua gestão, o plano de ordenamento de parque arqueo- lógico. A forma de criação e gestão do plano eram deixados para definir em legislação de desenvolvimento, concretizada no Decreto-Lei n.º 131/2002, de 11 de Maio. Tratou-se de um processo ímpar, em que uma realidade arqueológica andou à frente e influenciou a construção do edifício legal (Pau-Preto e Luís, 2003). O desenrolar destes aconteci- mentos influenciou de forma determinante todo o processo de construção da carta arque- ológica do PAVC, conferindo-lhe uma nova importância, enquanto instrumento de gestão de um território, ao abrigo de uma nova figura do ordenamento do território.

Com vista à elaboração do Plano de Ordenamento do Parque Arqueológico do Vale do Côa, o PAVC iniciou um projecto SIG (POPAVC), realizado com recurso ao pro- grama ArcView GIS (ESRI)4, no âmbito da colaboração com o Instituto de Ambiente e

Desenvolvimento (IDAD), da Universidade de Aveiro, responsável pela realização do plano.

O IDAD iniciou assim um projecto onde, num primeiro momento, implantou as várias con- dicionantes (REN, RAN, ZPEs, áreas urbanas, estradas, etc.) e características do território (geologia, uso dos solos, culturas e matos, tipologias homogéneas da paisagem, zonas de qualidade e fragilidade da paisagem) sobre cartografia digital. Inseriu-se igualmente a localização dos núcleos de arte rupestre e restantes sítios arqueológicos.

Contudo, nesta primeira fase, o projecto apresentava uma forte limitação, pois resumia- se a uma apresentação gráfica, através de imagens raster e vectoriais, da realidade do território em questão. Não havia assim uma a relação entre os pontos que marcavam os sítios arqueológicos e toda a informação dados a eles respeitante.

Tínhamos então, por um lado uma base de dados, e por outro a sua expressão gráfica, expressão essa que era realizada com recurso a um programa informático que podia inte- grar ambas as realidades.

Partimos então para a criação de um novo projecto (BD_PAVC), que tem por base grá- fica a Carta Militar de Portugal (esc. 1:25.000), mas também os ortofotomapas (esc. 1:10.000) da região, devidamente geo-referenciados. Nele integrou-se a totalidade da informação produzida pelo IDAD, e que apresenta relevância em termos arqueológicos. Finalmente integrou-se a base de dados do PAVC (PAVCsitios) no SIG, o que foi realizado através de uma ligação por ODBC (Open DataBase Connectivity).5 Desta forma, cada

ponto implantado numa das bases gráficas (carta ou fotografia aérea) corresponde a um conjunto precioso de informação (fig. 4). Constituiu-se assim um verdadeiro Sistema de Informação Geográfico-arqueológica.

4 Numa primeira fase recorreu-se à versão ArcView

GIS 3.2. Mais recentemente o IPA adquiriu licenças de utilização do ArcGIS 9, versão que, apesar dos ajustes necessários aos projectos realizados em versões anteriores, se revela mais intuitiva e fácil de utilizar, e vem potenciar as funcionalidades do programa.

5 Para além do trabalho realizado pelo IDAD, então

chefiado pelo Professor João Cabral, a realização deste projecto contou com a participação inicial de Fernando Pau-Preto, e posteriormente de Karen Reed (estagiária US/ICOMOS), Joaquim Pinto da Costa (IPA) e Nuno Caldeira (IPA), na compatibilização e integração da base de dados no projecto SIG.

Ponto da situação, potencialidades