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De acordo com o Perfil de Sustentabilidade da Usina São Francisco sobre o Projeto Cana Verde, disponível em (NATIVE PRODUTOS ORGÂNICOS, 2012), temos:

“Adquirida pelo Grupo Balbo em 1956 e localizada no município de Sertãozinho, no Estado de São Paulo, a Usina São Francisco tem capacidade atual (2012) de moagem de 1,5 milhões de toneladas por safra e produz açúcar VVHP (do inglês, Very Very High Polarization - o açúcar utilizado como matéria-prima para outros processos e destinado ao refino devido a sua alta polarização, geralmente exportado para países que o utilizam como matéria-prima para a produção de açúcar branco ou refinado), açúcar orgânico, etanol hidratado, etanol neutro orgânico e etanol neutro. A Usina é 100% automatizada em todas as suas etapas de produção e tem capacidade de produção por safra de 2.092.000 sacos de 50 kg de açúcar e 52.870 m³ de etanol. Iniciado em 1984, o Projeto

Cana Verde teve como objetivo principal o desenvolvimento de um sistema mais sustentável de produção, colheita e processamento industrial de cana-de-açúcar (cana crua), buscando implementar ações que pudessem direcionar e levar à um outro patamar de sustentabilidade, ações estas bem diferenciadas e avançadas em relação ao convencional praticado pelo setor, notadamente na época do seu início. Para ser implantado satisfatoriamente, o Projeto Cana Verde incluiu uma fase dedicada à pesquisa e desenvolvimento de máquinas e equipamentos adaptados ao processo orgânico, na qual foi preciso estabelecer parcerias com várias empresas fabricantes de equipamentos para a realização de um estudado trabalho conjunto. Uma das maiores preocupações de todo o projeto foi a não-compactação do solo pelo trânsito de máquinas e caminhões. Dessa necessidade se originaram as colheitadeiras especiais, que trabalham por linhas e, no momento da colheita, já separam a palha da cana, devolvendo-a ao solo, provendo então sua cobertura orgânica. Essas máquinas têm seu peso distribuído pelas grandes esteiras de borracha, tornando viável a colheita da cana crua e minimizando o impacto sobre o solo. De nada adiantaria essa providência se os caminhões também não atendessem aos cuidados com o canavial orgânico. Dotados de caçambas menores e muito mais leves, desenvolvidas em alumínio, os caminhões têm a mesma capacidade de carga dos veículos tradicionais, que usam reboques atrelados para essa tarefa. Pneus especiais de alta flutuação, importados da Suécia e de Israel, eliminam o excesso de pressão sobre o solo. O Projeto Cana Verde da Usina São Francisco integra e aplica conhecimentos agronômicos diferenciados, aliados a um conjunto de práticas, técnicas e diretrizes da agricultura orgânica. O manejo dos recursos naturais nas áreas agrícolas de cultivo de cana-de-

açúcar se deu através de uma série de medidas combinadas e complementares, adotadas e implementadas nas quais, buscou-se a sustentabilidade ambiental, a conservação, a preservação e a regeneração dos recursos naturais locais. Desde o preparo de solo para plantio até o processamento industrial da cana, foi promovida então a integração da mais avançada tecnologia disponível com antigas e tradicionais técnicas naturais de cultivo. As medidas de acordo com o ciclo de produção foram:

- Preparo do solo; - Plantio direto da cana;

- Tratos culturais e manejo integrado da estrutura física do solo; - Reciclagem de efluentes orgânicos;

- Rotação de culturas com adubos verdes; - Manejo integrado de nutrição;

- Produção de mudas; - Colheita da cana crua;

- Cobertura do solo com a palha remanescente

- Condução das soqueiras (brotações subseqüentes);

- Manejo integrado de pragas e plantas espontâneas (adventícias);

- Programa de reflorestamento e proteção à vida silvestre. Como resultado dessa iniciativa, a Usina São Francisco recebeu, em outubro de 1996, o certificado de produtor orgânico. A certificação orgânica é concedida a produtores de alimentos que realizam processos de produção que não utilizem quaisquer agrotóxicos ou fertilizantes minerais industrializados. A colheita mecanizada da cana-de-açúcar promove ganhos ambientais ao passo que as áreas queimadas têm sido reduzidas em algumas das regiões produtoras do Estado de São Paulo. Em contraponto ao ganho ambiental, gera-se o desafio social de ocupação da mão-de-obra rurícola

que está ficando ociosa em decorrência da queda na colheita manual. O projeto de Qualificação de Rurícolas tem atuado no sentido de capacitar estes trabalhadores para assumirem novas funções dentro da empresa. Além disso, houve também o desenvolvimento do Projeto "Cana Verde MDL". A Bioenergia Cogeradora S/A, empresa do Grupo Balbo, desenvolveu com o apoio do PNUD (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO) o Projeto de MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo). Este projeto visou, em última instância, a emissão de CERs (CERTIFICADOS DE EMISSÕES REDUZIDAS), tendo como base duas unidades de cogeração de energia elétrica a partir de bagaço de cana-de- açúcar, localizadas nas Usinas Santo Antônio S/A e São Francisco S/A. O projeto do PNUD que tornou possível o apoio oferecido à Bioenergia surgiu do processo intergovernamental da CQMC (CONVENÇÃO-QUADRO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS), em uma proposta abrangente intitulada CBS/CDM (CAPACITY BUILDING SUPPORT FOR A CLEAN DEVELOPMENT MECHANISM), preparado conjuntamente pelo Secretariado da CQMC e diversas agências/programas das Nações Unidas, tais como PNUD, UNCTAD (UNITED NATIONS CONFERENCES ON TRADE AND DEVELOPMENT) e UNIDO (UNITED NATIOS INDUSTRIAL DEVELOPMENT ORGANIZATION). Custeado pela UNF (UNITED NATIONS FOUNDATION), tem ainda o WBCSD (WORLD BUSINESS COUNCIL FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT), como seu parceiro implementador. A participação da Bioenergia no referido projeto do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento aconteceu no contexto da elaboração da "Componente Brasil", mediante a qual o PNUD visa obter a sensibilização e o engajamento do setor privado nas atividades de MDL. Dentro dessas premissas, foi

selecionada a Bioenergia Cogeradora S/A, que recebeu assistência técnica do PNUD no desenvolvimento do conjunto de procedimentos necessários para a criação de um projeto de MDL, em base comercial, a ser implantado em conformidade com os procedimentos definidos em nível nacional (COMISSÃO INTERMINISTERIAL DE MUDANÇA GLOBAL DO CLIMA) e internacional (COMITÊ EXECUTIVO DO MDL) (NATIVE PRODUTOS ORGÂNICOS, 2012). Para esse fim foi contratado pelo PNUD o consórcio técnico CCN (CLIMATE CHANGE NETWORK), o qual foi encarregado de elaborar o Projeto de MDL da Bioenergia. A Usina São Francisco é “auto- suficiente” em produção de energia elétrica, a partir da combustão do bagaço da cana. Caldeiras de alta eficiência garantem a queima limpa dessa biomassa, sem emissão de enxofre. As caldeiras produzem vapor, convertido nas energias térmica, mecânica e elétrica. O vapor movimenta um turbogerador que atende às necessidades de energia elétrica da Usina. Em junho de 1987, a Usina São Francisco, pela primeira vez no Brasil, comercializou um pequeno excedente de energia elétrica junto à rede de distribuição local, inaugurando o fornecimento à população de energia oriunda do bagaço de cana. A partir da implantação da nova termoelétrica na Usina São Francisco, em 2010, a produção total eleva-se para 215 GWh, com excedente de 146 GWh. A expansão do modelo de cogeração para outras usinas poderia atenuar o risco de blecaute do fornecimento de energia elétrica na região Nordeste do Estado de São Paulo. A safra de cana-de-açúcar ocorre entre maio e novembro, período de estiagem, quando o nível dos reservatórios das hidrelétricas é baixo. Além dessa vantagem estratégica, o sistema de cogeração de energia elétrica a partir da combustão do bagaço da cana (combustível oriundo da biomassa) é neutro em emissão de gases do efeito

estufa, em oposição à geração de energia em termelétricas movidas por combustíveis fósseis, altamente emissoras. O projeto de cogeração do Grupo Balbo, analisado e aprovado no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Kyoto, já propiciou a comercialização de créditos de carbono referentes a 111 mil toneladas volume de emissões evitadas entre 2002 e 2007” (NATIVE PRODUTOS ORGÂNICOS, 2012).