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CAPÍTULO II – ENQUADRAMENTO TEÓRICO-CONCETUAL

4. Características do Projeto Eixo Verde e Azul

4.5. O Projeto EVA

O Projeto EVA é um projeto criado em 2016 pelos três municípios envolventes (Sintra, Oeiras e Amadora) - nos quais passaram a ver as suas funções, relacionadas com a intervenção no território, mais reforçadas - e assinado no Palácio Nacional de Queluz, estando ainda no seu estágio inicial. Trata-se de um programa de intervenção pós-crise, em que esta passou a ser vista como uma oportunidade para as autoridades nacionais, regionais e municipais, numa perspetiva de mudança de foco, destinado à criação de políticas que visassem a qualidade de vida da população, da qualificação do território urbano e da valorização das áreas naturais. Surge também num período em que os desafios relacionados em que as alterações climáticas, os riscos ambientais, os desafios da energia, a perda da biodiversidade, a vulnerabilidade da paisagem e das áreas naturais tomam proporções preocupantes (Vale et. al, 2017).

O problema relacionado com o crescimento urbano nos subúrbios de Lisboa, é outro motivo para a concepção deste projeto. Como havia sido referido anteriormente, o crescimento urbano desgovernado é um fator para impermeabilização do solo que, por sua vez, desencadeia inundações. Para além disso, propicia a fragmentação do espaço natural, pelas infraestruturas cinzentas, tal como as estradas, exemplificando a IC19, que vai desde Sintra até Lisboa. Tendo em conta estes aspetos, põem em causa da preservação do património construído e arquitetónico, devido à carência de espaços verdes e de equipamentos em seu redor que visem a sua proteção (Vale et. al, 2017).

Como tal, o Projeto EVA pode ser classificado enquanto impulsionador de uma infraestrutura verde, tendo a finalidade de preservar elementos biofísicos, culturais, recreativos e paisagísticos, através de um planeamento, ordenamento e gestão do território, que têm em conta os atuais desafios. Esta forma de atuação tem a preocupação de potenciar espaços verdes no tecido urbano, estabelecendo a harmonia entre a atividade humana e a natureza (Ferreira, 2010). Deste modo, visa a consagrar os princípios defendidos no programa PT2020, supra referidos (Vale et. al, 2017):

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- adaptação às alterações climáticas; - gerir eficientemente os recursos hídricos; - reduzir a prevenção de inundações;

- tornar eficiente energia e redes inteligentes.

Na área de intervenção do projeto EVA está presente a bacia hidrográfica do rio Jamor, que nasce na Serra da Carregueira (concelho de Sintra) e desagua na foz da Cruz Quebrada (concelho de Oeiras), em direção ao rio Tejo. Como tal, abrange estes municípios e o da Amadora, cobrindo uma área de 44,5 km2 e com um comprimento de 15,4 km2 (Figura 20) (Câmara Municipal de Sintra, 2017).

Baseia-se em corredores verdes e multifuncionais, que correspondem a todas as tipologias: fluvial, ecológico, recreativo e histórico. Estesirão percorrer as linhas de água, atravessando diversos elementos culturais e naturais pelo caminho, como o Palácio Nacional de Queluz, a Quinta da Matinha, o Outeiro das Forcadas, a Quinta Nova - em Queluz – e o Complexo Desportivo do Jamor, entre outros (Figuras 21 e 22) (Câmara Municipal de Sintra, 2017). Sendo transversais a todas as ribeiras do rio Jamor, estes corredores verdes podem ser pedonais e/ou cicláveis, combatendo assim a fragmentação urbana, permitindo uma estrutura de mobilidade alternativa e sustentável que liga os três municípios envolventes no projeto, como é demonstrado na Figura 23.

Figura 20-Projeto EVA – Enquadramento da bacia hidrográfica do Jamor e a localização do PNQ. Fonte: Biodesign, s.d.

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Figura 21-Elementos naturais e culturais cruzados pelos corredores pedonais, no âmbito do

Projeto EVA

Figura 23-Previsão da aplicabilidade de corredores verdes, por áreas rurais e urbanas, em Queluz. Fonte: Biodesign, s.d.

Figura 22-Elementos naturais e culturais cruzados pelos corredores pedonais, no âmbito

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Como tal, o princípio da conectividade está bem patente no Projeto EVA. Para além interconectar espaços verdes e permitir um maior contacto entre a população e o ambiente envolvente, os eixos ecológicos trazem imensos benefícios como a resiliência dos serviços de ecossistema – sua proteção e provisão - e a mitigação do aquecimento da ilha urbana. Estes corredores também se assumem como multifuncionais, na medida em que evidenciam diferentes potencialidades existentes numa mesma área, sejam elas sociais, ambientais e económicas, tais como: gestão de correntes de água, promoção de atividades recreativas, requalificação estética e proteção da biodiversidade – ex: flora autóctone fundamental para consolidar as margens- autodepuração da água e controlo climático (Município de Oeiras, 2017)

Os seus objetivos primordiais inicidem sobre várias temáticas: ambiente, economia, emprego local, social, cultural, urbanístico e patrimonial. Em primeiro lugar, na temática do ambiente, o projeto pretende criar soluções que visem o controlo das cheias das ribeiras do rio Jamor e mitigação das suas consequências negativas, provocadas pelas alterações climáticas. Deste modo, é essencial a manutenção das linhas de água. A proteção da água surge como um elemento natural a ter especial cuidado. É vital para o equilíbrio ecológico das cidades, revitalização do espaço rural e valorização da paisagem, permitindo o equilíbrio dos sistemas naturais e paisagísticos, tornando-se num fio condutor da relação entre componentes naturais e culturais. (Vale et al., 2017).

Ao nível económico, assenta também numa ideia que visa a potenciar o turismo, uma vez que a Paisagem Cultural de Sintra atrai o turismo cultural e histórico de forma intrínseca (Duarte, 2017). A visão da PSML assemelha-se à ideia referida por Carvalho, Ferreira & Figueira (2011), em que a imagem engloba expetativas e perceções que o turista tem sobre o destino e, como tal, todos os elementos que compõem a Paisagem Cultural de Sintra devem ser valorizados, conservados e reabilitados, potenciando o valor acrescentado dos centros históricos. A história é um fator importante para a proteção da integridade cultural e promove a autenticidade do lugar, beneficiando a comunidade local e a experiência turística (Carvalho, Ferreira & Figueira, 2011). Também a crescente urbanização leva a que os destinos turísticos urbanos sejam cada vez mais escolhidos. A cidade, constituída por um conjunto de elementos identitários e diversidades culturais, traduz-se no aumento da procura do visitante por história, marcas do tempo e a busca pelo novo e o diferente (Duarte, 2017), caracterizando deste modo, o fenómeno da turistificação dos espaços urbanos (Henriques, 2013b). Neste caso, é pretendido atrair turistas para Sintra e toda a área envolvente – como Queluz e o seu palácio nacional -

43 estabelecendo relação entre os fluxos provenientes de Lisboa e Sintra. O seu contributo é muito importante para a criação de emprego local, para a valorização dos recursos naturais e culturais, que assumem uma identidade diferenciadora da região suburbana (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo, 2014).

Numa perseptiva de desenvolvimento social, cultural, urbanístico e patrimonial, resolve questões relacionadas com a baixa qualidade ambiental e de vida da população citadina, implementando o recreio e espaços de convívio, aliado à fruição da população com os espaços verdes dentro dos centros urbanos. Exemplificando com o Parque Florestal Municipal da Serra da Carregueira, que irá potenciar vivências com a natureza, proporcionando segurança e conforto, favorecendo as relações sociais e valorizando o património existente (Câmara Municipal de Sintra, 2017).

É deste modo que a proteção do capital natural e a sustentabilidade a longo prazo são conceitos importantes tidos em conta no Projeto EVA, numa perspetiva de aumento da resiliência da bacia hidrográfica do rio Jamor face às alterações climáticas, bem como da recuperação de elementos culturais relevantes na região (European Environmental Agency, 2011).

4.6. O Palácio Nacional de Queluz e o Projeto EVA: introdução ao