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No Brasil com a crise do neoliberalismo, o neodesenvolvimentismo surge como sendo um novo projeto de desenvolvimento capitalista no país (ALVES, 2013a). O novo projeto burguês de desenvolvimento alternativo ao neoliberalismo24 denominado como “neodesenvolvimentismo” teve seu primeiro ciclo histórico sob o governo Lula (2003-2008) (Alves, 2013). Foi o ciclo do lulismo que se impôs como novo modelo de desenvolvimento burguês – o neodesenvolvimentismo – tão somente na última metade da década de 2000, como afirmação periférica do reformismo social-democrata que atribuía não apenas ao mercado o papel de indutor da economia (Ibid.). “O objetivo do lulismo demonstrou ser, reorganizar o capitalismo no Brasil e não aboli-lo. Enfim, promover um novo choque do capitalismo nos moldes pós-neoliberais” (Ibid., s/p).

Sampaio Jr. (2012) no texto intitulado “Desenvolvimentismo e neodesenvolvimentismo: tragédia e farsa” avalia que a partir do segundo governo Lula a modesta retomada do crescimento econômico, após quase três décadas de estagnação, a lenta recuperação do poder aquisitivo do salário após décadas de arrocho, a ligeira melhoria na distribuição pessoal da renda, o boom de consumo financiado pelo endividamento das famílias e a aparente resiliência do Brasil perante a crise econômica mundial dão um lastro mínimo de realidade à fantasiosa falácia de que, finalmente, o Brasil estaria vivendo um ciclo de desenvolvimento. Para o autor o que tem sido denominado como neodesenvolvimentismo seria, assim, “uma expressão teórica desse novo tempo” (Ibid., p. 679).

Segundo Castelo (2009), o principal objetivo dos novo-desenvolvimentistas é delinear um projeto nacional de crescimento e desenvolvimento econômicos, combinado a uma melhora substancial nos padrões distributivos do Brasil, o que passa, necessariamente, por um determinado padrão de intervenção do Estado na economia e

23 Sobre a teoria do desenvolvimento desigual e combinado ver Löwy (1998).

na “questão social”, principalmente no tocante a redução da incerteza inerente às economias capitalistas. Para Sicsú, Michel e Paula (2007) a partir do texto: “Por que novo-desenvolvimentismo?”,

essa é uma das diferenças fundamentais entre o velho e novo desenvolvimentismo. Enquanto o primeiro focava suas políticas defensivas na balança comercial, procurando tornar a economia menos dependente da exportação de produtos primários, uma vez que a economia brasileira transitava de uma economia agro-exportadora para uma economia industrial; o segundo — neste particular — está basicamente preocupado em estabelecer critérios de controle da conta de capitais para que o país possa ter trajetórias de crescimentos não abortadas e possa constituir políticas autônomas, rumo ao pleno emprego e à equidade social.

A utilização do termo novo-desenvolvimentismo invés de neodesenvolvimentismo é uma questão de opção dos autores, mas que certamente, referem-se substantivamente ao mesmo debate. Para Sicsú, Michel e Paula (2007) o novo-desenvolvimentismo tem diversas origens teórica-analíticas, entre as quais a visão de Keynes e de economistas keynesianos contemporâneos de complementaridade entre Estado e mercado e a visão cepalina neo-estruturalista que defende a adoção de uma estratégia de “transformação produtiva com equidade social” que permita compatibilizar um crescimento econômico sustentável com uma melhor distribuição de renda. Na concepção dos autores, a alternativa novo-desenvolvimentista não se refere a ter no Brasil uma economia centralizada, com um Estado forte e um mercado fraco, ou então, um mercado que comandaria a economia, com um Estado fraco. Para os autores, entre esses dois extremos existem ainda muitas opções, sendo a melhor delas, aquela em que seriam constituídos um Estado forte que estimula o florescimento de um mercado forte. Frente aos males do capitalismo, os neodesenvolvimentistas defendem “a constituição de um Estado capaz de regular a economia — que deve ser constituída por um mercado forte e um sistema financeiro funcional — isto é, que seja voltado para o financiamento da atividade produtiva e não para a atividade especulativa” (Ibid., p. 512).

Já na síntese elaborada por Castelo (2009, p. 78), o papel reservado ao Estado no projeto neodesenvolvimentista, é definido a partir dos seguintes termos:

deve garantir condições macroeconômicas e salvaguardas jurídicas que reduzam a incerteza do ambiente econômico, propiciando um horizonte mais previsível do cálculo de risco do investimento privado, e aumentando, por sua vez, a demanda por fatores de produção, o emprego e os ganhos dos trabalhadores. Assim, o Brasil reduzirá a pobreza e a desigualdade social. O projeto novo-desenvolvimentista de intervenção na “questão social”, portanto,

baseia-se no crescimento econômico e na promoção da eqüidade social via a igualdade de oportunidades.

Na análise de Alves (2013) com o projeto neodesenvolvimentista o Estado capitalista assumiria como deus ex-machina, uma função crucial, seja como Estado financiador, seja como Estado investidor (mas diferente, nesse caso, da noção de Estado empresário que caracterizava os projetos nacionais-desenvolvimentistas pretéritos). Trata-se, pois, de uma nova visão de desenvolvimento capitalista baseado na criação de um novo patamar de acumulação de capital por meio da ação do Estado capaz de criar, por um lado, as condições macroeconômicas para o crescimento da economia capitalista e, por outro lado, a ampliação do mercado interno por meio da redução da pobreza e políticas sociais redistributivistas focadas no subproletariado (Idem, 2013a). Por um lado, o Estado no “modelo neodesenvolvimentista” comparece enquanto “financiador que, e a partir dos recursos do BNDES, exerce o papel de indutor do crescimento econômico fortalecendo grupos privados em setores considerados estratégicos” (Idem, 2011, p. 156). Por outro, o Estado comparece como “investidor responsável pelo investimento em megaobras de infraestrutura que se manifesta no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)” (Ibid., 156). Porém, ressalta o autor, “diferentemente do “nacional-desenvolvimentismo” tradicional, o Estado não é o proprietário de empresas, mas se torna a principal alavanca para criar gigantes privados que tenham capacidade de disputa no mercado interno e internacional” (Ibid., 156). Do mesmo modo, no projeto neodesenvolvimentista, o papel do Estado é diferenciar-se daquele da década de 1990, já que “no modelo de desenvolvimento neoliberal o Estado deixou de ser o principal indutor da economia e delegou esse papel para o mercado” (Idem, 2013/s/p). Além disso,

o “choque de capitalismo” ocorrido na década de 2000 intensificou e ampliou as contradições sociais inerentes ao desenvolvimento histórico da sociedade burguesa no Brasil. Dez anos de Lula e Dilma (2003-2014) significaram uma indiscutível atualização histórica do capitalismo no Brasil e o fortalecimento da hegemonia burguesa no país por conta do novo ciclo de modernização neodesenvolvimentista.[...] Apesar da persistência do Estado neoliberal no Brasil, alterou-se o padrão de desenvolvimento capitalista nos últimos dez anos, provocando indiscutivelmente, mudanças internas na morfologia das classes e camadas sociais (Idem, 2014)25.

De certo modo, “os limites do neodesenvolvimentismo são os próprios limites do Estado brasileiro como Estado neoliberal de feição oligárquico-financeira – enfim, um Estado capturado pelo capital especulativo-parasitário” (Idem, 2013c, s/p). Por uma parte, não se pode deixar de “salientar um dos traços “virtuosos” do estilo político do lulismo: combater a miséria sem confronto com o bloco de poder hegemônico do capital” (Idem, 2013d, s/p). Como diz Alves (2013d, s/p): “O lulismo é o espírito hegemônico do projeto da socialdemocracia no Brasil que visa hoje compatibilizar, nos marcos da ordem burguesa neoliberal, um projeto de redistribuição de renda e combate a pobreza extrema e pobreza sem confronto com o capital”. Por outra parte,

A estratégia política do lulismo – talvez justificada pela correlação de forças desfavorável na sociedade civil e sociedade política – optou pelo caminho de menor resistência do bloco de poder do capital. Por exemplo, mais investimentos sociais na educação, saúde e transporte público com qualidade, são investimentos públicos bastante caros que exigem mais de um Estado brasileiro que tem hoje cerca de 42% do orçamento publico comprometido com o pagamento da dívida pública (por exemplo, só em 2014 mais de 1 trilhão serão pagos a este título) (Idem, 2013c, s/p).

Essa estratégia de menor resistência incluirá por sua vez, a massificação da qualificação profissional como forma de aumento da força de trabalho qualificada no país, justificada (como já foi mencionado) tanto por demandas oriundas do mundo da produção, mas como forma de intervir nas sequelas da “questão social”, especialmente no se refere à pobreza. Contudo, é aí que se percebe o comprometimento dos investimentos sociais, principalmente em educação, com uma proposta assentada na formação dos trabalhadores realizada pela iniciativa privada, neste caso, o Sistema S. Uma das contrapartidas da política neodesenvolvimentista é a parceria junto ao empresariado, permitindo que as políticas sociais tenham maior aderência à ideologia da empregabilidade. Isso, com terá consequências não apenas no surgimento de novas formas de controle do capital sobre o trabalho, como também implicará na sofisticação das políticas sociais, tendo por sua vez os mais pobres como prioridade.

4.3 A política neodesenvolvimentista e as estratégias de combate à pobreza e de