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O Projeto Político Pedagógico da Escola da SEDUC

2.6 Os fundamentos e estratégias de escolarização

2.6.2 O Projeto Político Pedagógico da Escola da SEDUC

, facilitou este modo de configuração das atividades escolares. Consideram que as atividades sociais e econômicas dos Awá constituem espaços e tempos formativos próprios da educação indígena, aos quais a escola deve se somar (CIMI, 2013, p. 59).

No entanto, a escola tem inserido uma nova dinâmica na aldeia. Um exemplo disso é que os Awá evitam realizar longas expedições de caça para não perder as atividades escolares. FB relatou que observou os homens da aldeia Tiracambu saindo para uma expedição de caça e supôs que retornariam somente no dia seguinte. Ao final da tarde retornaram para não perder a aula. A mesma pesquisadora comentou em decorrência das atividades escolares os Awá incorporaram a divisão do tempo em semanas, com dias úteis e dias de descanso. Os dias de aulas são de segunda a sexta, e sábado e domingo não são dias de aula.

A proposta político-pedagógica da SEDUC para a escola Awá foi elaborada pelo professor NS e por sua esposa. Sustenta-se no argumento que toda escola deve ser movida por uma política pedagógica, devendo ter como norte seus objetivos e finalidades. A partir da vivência que já tinha com os Awá, o professor NS, apresenta as características que deveria assumir uma escola Awá, cotejadas a partir de questões que afirma ter colocado para esse povo.

Nesse Projeto Político Pedagógico da escola está posto que a escola seja defensora, mediadora, valorizadora e inovadora. A escola “defensora” serviria como instrumento de defesa no contato com os não-índios, proporcionando um preparo melhor para a relação com a sociedade envolvente,

A resposta dos alunos à pergunta “por que vocês querem uma escola?” foi unânime: “para não sermos enganados pelo branco”! Vimos por essa declaração que o desejo dos guajá é ter na escola um instrumento de defesa em seu contato com os não- indígenas. (SEDUC, 2007, p.12)

57 A Pedagogia de Alternância é uma proposta usada em áreas rurais para mesclar períodos em regime de

internato na escola com outros em casa. A metodologia foi criada por camponeses da França em 1935. A intenção era evitar que os filhos gastassem a maior parte do dia no caminho de ida e volta para a escola ou que tivessem de ser enviados de vez para morar em centros urbanos. Os alunos têm as disciplinas regulares do currículo do Ensino Fundamental e do Médio, além de outras voltadas à agropecuária. Quando retornam para casa, devem desenvolver projetos e aplicar as técnicas que aprenderam em hortas, pomares e criações. Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/politicas-publicas/modalidades/salvacao-lavoura-497826.shtml. Consultado em, 09/03/2016.

78 A escola “mediadora” remete para a mediação entre o mundo tradicional Awá e o mundo dos não-índios, que se daria a partir da promoção do conhecimento mútuo. Nessa perspectiva, a escola seria uma ferramenta para boas relações sociais e de reconhecimento das diferenças culturais e sociais.

A escola “valorizadora” teria a função de promoção da cultura e língua do povo. Admite que, inicialmente, os Awá não reconheceram a função valorizadora da escola, pois estão mais preocupados em adquirir bens dos não-indios. Mas, acredita que ao longo do processo irão perceber que a manutenção e valorização de seus conhecimentos e elementos culturais e linguísticos se tornarão uma poderosa ferramenta de manutenção e garantia de existência como “grupo social diferenciado”.

A escola “inovadora” sustenta-se no argumento de que não é possível implantar um programa de educação escolar indígena sem trazer em seu bojo elementos de inovação. Alega que a escola formal, por seu caráter externo, é em si mesma uma inovação junto aos povos indígenas. O projeto argumenta que a escola não deve se constituir como uma entidade substituidora de formas tradicionais de transmissão de conhecimento, tendo o papel de valorizar, respeitar e fortalecer os conhecimentos tradicionais, e transmitir outros que possibilitem a incorporação de elementos externos. A característica dinâmica da cultura é utilizada para fundamentar que os povos indígenas poderão absorver as novas formas e incorporar novos elementos em seu próprio beneficio (SILVA e SILVA, 2009).

Resume que o melhor modelo a ser empreendido seria o de uma escola multilíngue multicultural. Mas, não são descritos os preceitos de uma escola com essas características.

O eixo da proposta é de uma Educação Bilíngue Intercultural, que tem como objetivo começar pelo conhecido, a cultura e a língua Awá, sendo o desconhecido, a cultura brasileira e a língua portuguesa, paralelamente, introduzidas, com o uso do material de apoio que são os mesmos livros distribuídos às escolas da rede pública de ensino pela SEDUC. Como já foi criada dentro do Sistema Nacional de Educação, conduzida pela Supervisão de Educação Indígena da SEDUC, deveria pautar-se pelos documentos legais relativos a escolarização indígena.

Diferentemente da escola do CIMI, a da SEDUC não demorou tanto tempo para elaborar o Projeto Político Pedagógico, o que ocorreu em maio de 2007. Consta como sendo de autoria de Norval de Oliveira Silva. No entanto o referido projeto não apresenta uma matriz disciplinar e não faz referencia a sua construção. Está estruturado seguindo três pontos

79 principais: povo e cultura; histórico da educação escolar Awá-Guajá e a proposta político- pedagógica para a escola Awá-Guajá.

O Projeto Político Pedagógico da escola do P.I. Guajá, assim como a proposta preliminar de alfabetização Awá feita pelo CIMI, foi elaborado sob o argumento de que os Awá tem manifestado o desejo de ter um projeto de educação escolar. Assim como nos documentos anteriores, não revela em que ocasiões ocorreram essas manifestações. Cita que o CIMI realiza algumas experiências sem a direção de órgãos governamentais, mas não menciona que esta experiência também foi efetivada na aldeia Guajá, nem discute o motivo de sua não continuidade. Reconhece a iniciativa do CIMI, mas esclarece que se aterá somente ao processo de escolarização conduzido pela Secretaria de Educação do Estado do Maranhão, que considera ser o órgão governamental competente para implementar e manter a “educação escolar indígena”.

Para descrever o povo e a cultura Awá foram elencados os seguintes tópicos: nome e língua, localização, demografia, atividades de subsistência, organização social, religião e situação atual. Apesar de reconhecer a autodenominação Awá, durante todo o projeto o termo Guajá é utilizado para referir-se ao povo, o mesmo acontece com as professoras do CIMI, que alternam entre Awá e Awá-Guajá, e algumas vezes utilizam apenas o termo Guajá para se referir ao povo.