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3.2 O PTB local e os Grupos de Onze

No documento 2006ClaudioBraun (páginas 95-99)

Pesquisar sobre os Grupos de Onze, não é uma tarefa fácil, principalmente quando se almeja um resgate dos acontecimentos regionais, especificamente falando da cidade de Carazinho.

A primeira grande dificuldade está exatamente na falta de documentação, isto é, fontes escritas as quais poderiam retratar os principais acontecimentos que envolveram estes grupos em âmbito regional. Como uma das principais fontes de pesquisa deste trabalho é o jornal Noticioso, que se demonstrou totalmente oposicionista ao PTB e mais especificamente a Leonel Brizola, não encontramos notícia referindo-se a atuação dos Grupos de Onze.

Desta forma, uma das soluções encontradas foi a consulta as fontes orais, as quais também se revelavam restritas, pois poucas foram as pessoas que admitiram ter sido integrantes dos grupos. Nas entrevistas realizadas, vários foram os nomes citados, mas à medida que se entrava em contato com estas pessoas, recebia-se a negativa de sua participação nos Grupos de Onze,

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sendo que alguns até mesmo procuravam afirmar que estes grupos nem teriam existido em Carazinho.

Apesar disso, através da história oral conseguiu-se coletar alguns dados importantes. Romeu Barleze188, do PTB local, engajado principalmente na ala representada pelos Centros Cívicos João Goulart, identificou-se como uma das principais lideranças que deram início à formação destes grupos em Carazinho. Segundo Barleze, a base dos Grupos de Onze na cidade de Carazinho surge dentro do Centro Cívico João Goulart, onde alguns integrantes formaram o primeiro Grupo de Onze local. Barleze aponta o seguinte:

Como isso foi um movimento nacional, nós do Centro Cívico João Goulart formamos a primeira célula dos Onze. O Beba fez um, o José Maria Medeiros fez outra, eu fiz outra e cada um que tinha certa liderança assumia e juntava onze pessoas e formava uma célula. São esses nomes assim que eu me lembro bem, são nomes que posso recordar – José Maia Medeiros, Frederico Beba e eu acho que o Felisbino Barlette. Foram aqueles assim do PTB mais avançados, eram os que lideravam. Outro foi o Quevedo na Vila Floresta, eram operários, trabalhadores, gente comum.189

Assim, percebe-se que o primeiro Grupo de Onze surge dentro do Centro Cívico João Goulart, uma corrente dentro do próprio PTB local o que indica que o Centro Cívico João Goulart não era socialmente homogêneo. Havia alas formadas por profissionais liberais e operários, sendo que estes predominavam. Em janeiro de 1964 os membros dos Centros Cívicos João Goulart mudam o nome do seu patrono. “De acordo com o previsto foi mudado

o ‘patrono’ dos centros, sendo alijado o Sr. João Goulart, considerado pouco atuante, e adotado o Sr. Leonel Brizola”.190 Desta forma, o novo nome passou para Centros Cívicos Leonel Brizola. A pauta da reunião realizada pelo ainda Centro Cívico João Goulart foi a seguinte:

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Entrevista de Romeu Barleze para o autor. 10.09.2005.

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Entrevista de Romeu Barleze para o autor no dia. 19.09.2005.

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Fonte: Noticioso, 09 de janeiro de 1964.

Figura 6 - Edital de convocação da Assembléia Geral Extraordinária realizado pelos Centros Cívicos João Goulart no dia 09 de janeiro de 1964.

Analisando o edital de convocação da assembléia realizada em janeiro de 1964, é possível afirmar que, além da mudança do nome, a pauta número quatro refere-se aos Comandos Nacionalistas, comprovando o depoimento de Barleze de que estes grupos ganharam espaço nos Centros Cívicos João Goulart. A pauta número seis abordava a revisão dos cargos da diretoria dos Centros Cívicos. A nova diretoria ficou assim composta: Presidente, Romeu Barleze; secretário geral, José Figueiredo: tesoureiro geral, João Ribeiro da Luz. Também foram escolhidos os nomes dos conselheiros.191.

A ligação entre os Grupos de Onze com os Centros Cívicos Leonel Brizola está bastante clara, pois era pauta de reunião dos Centros. Somente não se pode afirmar que todos os nomes que aparecem na lista (anexo IV), publicada pela imprensa local faziam parte dos Grupos de Onze, em virtude da precariedade das fontes.

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Para Quevedo,192 “Os Grupos de Onze foi uma unidade para reunir as pessoas em favor dos seus direitos que vinham sendo cerceados pelos grupos econômicos nacionais e internacionais”.193 Quevedo recorda que foi o décimo primeiro membro do primeiro Grupos de Onze que foi criado na cidade de Carazinho. “Eu sei que faltava um para formar os Onze, aí foram me buscar lá

na firma Fritz, onde eu trabalhava tornando-me o número onze do Grupo para assinar a ficha.”194

Assim que o primeiro grupo foi formado, cada membro partiu para a arregimentação de novas adesões. Segundo Quevedo, até o dia 31 de março, havia sido formado na região de Carazinho em torno de 20 a 25 Grupos de Onze. Sobre os grupos que ele mesmo fundou, comenta:

Eu fui um dos organizadores, formei um Grupo de Onze no Bairro Floresta e assim procurei formar mais grupos, chegando a cinco grupos no nosso bairro. Formei outro inclusive em Almirante Tamandaré do Sul e assim nós fazíamos, porque era para se reunir e dialogar sobre a situação política que vinha acontecendo e da necessidade de se libertar das garras dos grupos internacionais que sufocaram o povo brasileiro. Essa era a finalidade e foi esta a minha participação.195

Barleze revela que uma das finalidades dos grupos era: “O Grupos dos

Onze, o objetivo dele era participar das eleições, se cada Grupo de Onze fosse um comitê político, você tinha um bom resultado eleitoral”.196 Barleze também admite que alguns membros imaginavam que poderiam, em caso de necessidade, tornar-se grupos armados, tendo para isso a referência da Legalidade. No entanto, para Barleze essa era uma hipótese difícil de ser consumada, pois o objetivo dos grupos era especificamente político.

A rápida expansão dos Grupos de Onze em Carazinho deve-se a força do PTB local e da organização dos Centros Cívicos, que se tornou a base dos

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Delfino Siqueira de Quevedo, era metalúrgico e integrante dos Grupos de Onze

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Entrevista de Delfino Siqueira de Quevedo para o autor. 12.10.2005.

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Entrevista de Delfino Siqueira de Quevedo para o autor. 12.10.2005.

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Entrevista de Delfino Siqueira de Quevedo para o autor. 12.10.2005.

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Grupos, pois foi no seu interior que se preencheu a primeira lista dos onze. Cada integrante desta primeira lista partiu para a formação de novos grupos, ação facilitada pelo grande prestígio de Leonel Brizola em sua terra natal.

No documento 2006ClaudioBraun (páginas 95-99)