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3 AVALIAÇÃO DO CONVÊNIO DAAD/CNPq/CAPES

3.2 O QUADRO DAS POLÍTICAS DE C&T A PARTIR DE 1988

A década de 1980, ou “Década Perdida” (KLEMI, 2012. p. 35), é um período da história recente em que o endividamento externo do Brasil atingiu níveis extremamente elevados. O presidente do Brasil, General João Figueiredo (1918-1999), em visita oficial à Alemanha, expôs estas dificuldades ao governo alemão, que manteve o apoio ao Brasil, seu maior parceiro na América Latina, cuja instabilidade econômica provocou o assombro de empresas alemãs como o Bayer, Krupp, Siemens ou Volkswagen, que foram obrigadas a enfrentar o cenário que se apresentava naquele momento (LOHBAUER, 2013).

A Política de C&T no Brasil, a partir de 1988, ganhou um novo tratamento com a Promulgação da Constituição Federal. O artigo 218 da referida Constituição fortalece o papel do Estado como o primeiro e principal promotor do desenvolvimento científico, da pesquisa e da capacitação tecnológica:

Art. 218. O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológicas.

§ 1º - A pesquisa científica básica receberá tratamento prioritário do Estado, tendo em vista o bem público e o progresso das ciências.

§ 2º - A pesquisa tecnológica voltar-se-á preponderantemente para a solução dos problemas brasileiros e para o desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional.

§ 3º - O Estado apoiará a formação de recursos humanos nas áreas de ciência, pesquisa e tecnologia, e concederá aos que delas se ocupem meios e condições especiais de trabalho.

§ 4º - A lei apoiará e estimulará as empresas que invistam em pesquisa, criação de tecnologia adequada ao País, formação e aperfeiçoamento de seus recursos humanos e que pratiquem sistemas de remuneração que assegurem ao

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empregado, desvinculada do salário, participação nos ganhos econômicos resultantes da produtividade de seu trabalho.

§ 5º - É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular parcela de sua receita orçamentária a entidades públicas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica.

A cooperação técnica quando vista como forma de colaboração para o desenvolvimento, mesmo que a forma instituída após a Segunda Guerra Mundial, em 1949, pelo presidente norte americano Harry Truman (MIRANDA, 2008. p. 178), sofreu inúmeras alterações após as crises da década de 1980 e 1990, e naturalmente trouxe mudanças no entendimento e na forma de execução da cooperação técnica, procurando torná-la mais eficiente e efetiva, visto que vários países viram-se, no período mencionado, com poucos recursos disponíveis (MIRANDA, 2008. p. 182)

O BMZ47 definiu em 1987 três grandes áreas prioritárias para a cooperação técnica com o Brasil (MIRANDA, 2008. p. 183): combate à pobreza, proteção do meio ambiente e fomento à produtividade e competitividade de pequenas e médias empresas brasileiras. No ano da assinatura do acordo, o BMZ definiu cinco critérios para futuras parcerias de cooperação internacional que seriam utilizados não só para novas parcerias mas também como condições primordiais para as parcerias já existentes. Esses critérios são o respeito aos Direitos Humanos, a participação da população no processo político, garantia dos direitos jurídicos, criação de uma ordem econômica favorável à economia de mercado e a atuação do Estado voltada para o crescimento (Ibidem. p. 184).

A posição do Brasil com relação à “transferência de tecnologia” é a de superar o atraso tecnológico, colocando em evidência o aumento da produtividade e o aumento da produção nacional. Num cenário de crescente competição e de busca por um desenvolvimento sustentável, o PPG748 foi um bom exemplo de projeto aplicado nesta sistemática de cooperação entre os países, e nesse caso específico, o apoio do CNPq foi importante na operacionalização

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Bundesministerium für wirtschaftliche Zusammenarbeit und EntwicklungFederal Ministry for Economic Cooperation and development

48 O PPG7 (Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil) “é uma iniciativa do governo e da

sociedade brasileira, em parceria com a comunidade internacional, que tem como finalidade o desenvolvimento de estratégias inovadoras para a proteção e o uso sustentável da Floresta Amazônica e da Mata Atlântica, associadas a melhorias na qualidade de vida das populações locais. O Programa Piloto constitui o maior programa de cooperação multilateral relacionado a uma temática ambiental de importância global.” In http:/www.mma.gov.br/port/sca/ppg7/capa/, acessado em 8 de dezembro de 2013.

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do programa. É preciso destacar que a capacitação para o desenvolvimento utiliza mais recursos humanos que materiais.

Em 1991 quando o DAAD assinou o primeiro convênio com o CNPq e a CAPES, o Brasil ainda não havia assumido completamente os compromissos ditados no Artigo 218 da Constituição da República Federativa do Brasil. O País ainda enfrentava uma crise que só começou a ser superada concretamente em 1 de julho de 1994, com a implantação do Plano Real49. Os planos econômicos anteriores elaborados e aplicados na tentativa de conter a situação de crise não atingiram seus principais objetivos, nem tampouco viabilizaram o fortalecimento das estratégias do Estado em seu papel de financiador do desenvolvimento científico e tecnológico.

Mesmo o período de 1988 a 1997 sendo descrito como de “poucos registros de uma evolução institucional estratégica do desenvolvimento científico brasileiro no âmbito da Cooperação Internacional” (DUARTE, 2008. p. 30), o Convênio DAAD CNPq CAPES conseguiu enviar razoável número de estudantes de Pós-Graduação para a Alemanha.

Para que a Cooperação em Ciência e Tecnologia exista e seja efetiva é importante que exista “vontade política” mais até que a própria colaboração das partes50. Nas palavras do Prof.

Christian Müller, Diretor do DAAD no Brasil, o que levou o DAAD a formalizar um convênio com a CAPES e o CNPq foi a necessidade legal:

“[...] a necessidade de texto de base com caráter jurídico para dar respaldo à administração de programas de bolsas, sendo que estes são sempre financiados com verbas públicas” (ANEXO 12).

A formalização deste instrumento de acordo entre as três agências se refere à necessidade criada pelo Art.218 da Constituição da República que, ao sinalizar a presença de recursos públicos, exige tais procedimentos para respaldar e garantir a utilização. O Convênio DAAD/CNPq/CAPES sempre esteve em consonância com as políticas públicas de promoção de

49 “O plano Real foi (...) iniciado oficialmente no dia 27 de fevereiro de 1994 através da Medida Provisória nº 434. A

medida determinou a Unidade Real de Valor (URV) e culminou com o lançamento do Real como nova moeda. A implantação do Plano Real se deu através de três etapas: equilíbrio das contas públicas, criação da URV e o lançamento do Real. Durante o debate do nome da nova moeda, cogitou-se chama-la de Cristal, Coroa ou Cruzeiro- Cruzado, mas o nome Real vingou pelas possibilidades publicitárias que oferecia. O programa para estabilização da economia passou pela desindexação da economia, por um amplo processo de privatizações, pelo equilíbrio fiscal, pela abertura econômica, pelo contingenciamento e por políticas monetárias restritivas.” In http://www.historiabrasileira.com/brasil-republica/plano-real/, acessado em 08 de dezembro de 2013.

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JACOB, Gerhard. A Colaboração em Ciência e Tecnologia entre o Brasil e a Alemanha in BANDEIRA, Luiz Alberto

et al. Brasil e Alemanha: A Construção do Futuro. Simpósio realizado em São Paulo, 17 a 19 de agosto de 1995.

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C&T no Brasil. Embora a Constituição Federal de 1988 não especifique como devem ser as formas de cooperação, faz referência ao apoio à ciência básica, e às áreas de interesse que estejam diretamente ligadas ao desenvolvimento brasileiro e ao aumento de seu sistema produtivo.

Nas reuniões da Comissão Mista Brasil – Alemanha (COMISTA) sobre Ciência e Tecnologia não são estipuladas como devem ser as formas de cooperação entre os dois países, limitando-se a indicar as áreas em que eles podem colaborar mutuamente. No caso do Brasil, esta definição é passada pelo Ministério das Relações Exteriores, principal representante brasileiro nas reuniões da COMISTA. O DAAD - assim como o CNPq - é um executor das diretrizes indicadas ajudando na seleção de temas / áreas de conhecimento que terão maior ou menor apoio na cooperação.

As análises realizadas até aqui, com base nas informações obtidas nas entrevistas, permitem afirmar que compete ao CNPq, por meio de sua Cooperação Internacional, ser um órgão mais pró-ativo na identificação de novas formas de cooperação com parceiros da importância do DAAD. É possível afirmar que o esforço de adoção de novas formas de cooperar com o DAAD tem sido muito aquém do esperado e desejável, ou até mesmo inexistentes, quando se considera comparativamente o CNPq às iniciativas colocadas em prática pela CAPES. Existem, nessa área de cooperação, problemas já identificados e ainda não solucionados no âmbito do convênio, mais especificamente na implementação das bolsas por parte do CNPq, como será comentado nesta dissertação.

3.3 NORMATIVAS DO CNPq SOBRE BOLSAS NO EXTERIOR X CONVÊNIO

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