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FICHA DE AVALIAÇÃO 1. Sexo:

6 O QUE ALCANÇAMOS

A elaboração do presente trabalho possibilitou minha mudança de visão sobre a perniciosidade do racismo estrutural, tão profundamente enraizado em nossa percepção de realidade, que ao se visibilizar, toma aspectos de normalidade. Para além dessa descoberta a constatação na execução da própria pesquisa, de que os resultados nem sempre saem como suporíamos que sairiam, durante a aplicação do questionário sobre a percepção do lugar social do negro no que se refere a empregos ligados a áreas de ciência, o surgimento de informações aparentemente discrepantes demonstraram a importância da representatividade e ainda que tais papeis são mais reforçados entre o público a que se presta o produto didático elaborado.

Durante a testagem da história em quadrinhos elaborada segundo os parâmetros de influência cultural na pesquisa científica, apresentação das etapas do método, decolonialidade e representatividade, certos aspectos destacados foram ignorados por um grupo de voluntários em prol da defesa do mito da democracia racial e da neutralidade da ciência. Apesar de serem minoria entre as críticas apresentadas, a manutenção desse pensamento é bastante previsível e esperada, todo o desenvolvimento histórico das relações etno-raciais no Brasil, bem como incorporação governamental do mito da democracia racial, tem efeitos até hoje em nossa sociedade, principalmente no momento político atual quando visões reacionárias da realidade se voltam contra o academicismo e a defesa da inexistência de racismo no país é apregoada pelo próprio Presidente da República. Em tal panorama, é reconfortante que tais apreciações não tenham aparecido como a maioria dos comentários.

Dessa forma, além do papel da representatividade e da necessária compreensão do método, oferecidos de forma parcial pelo produto educacional confeccionado, necessário é que se atente para o fato de que se torna fundamental os esforços por permitir que outras realidades sejam possíveis. E isso só será possível com a superação da monovisão da realidade eurocentrada, para que verdadeiramente todos os diversos aspectos da multicultural formação brasileira tenham espaço. Isso é fundamental não só para que se inicie a alteração das estruturas sociais como para a ampliação das

dinâmicas de criação em nossa sociedade, uma vez que mais referências incutem novas ideias possíveis.

Como já dito, durante a elaboração dessa pesquisa foi patente que o mito da igualdade racial permanece vivo e atuante entre alguns alunos que não conseguem perceber o modo como a sociedade trata determinados indivíduos. Isso revela a importância da utilização das diversas fontes de dados para essa pesquisa, muito provavelmente o uso de apenas uma técnica de captação de dados prejudicaria a obtenção das informações, uma vez que em certos momentos as informações dos questionários não se repetiram no trabalho em grupo. Dessa forma, a coleta de informações teria sido dificultada se fossem realizadas as interações em grupo que deixaram os alunos mais à vontade.

No que se refere ao uso da HQ com mídia, ficou evidenciado em ambas as interações a ideia do seu uso para transmitir os conteúdos como sendo interessante, pela facilidade de entendimento e pela novidade da representatividade, apesar da já mencionada presença do mito da igualdade racial. Mostrar essa realidade de forma clara não se dará em termos imediatos e nem fáceis, mas fundamentalmente através de iniciativas que não só chamem a atenção para a ausência do protagonismo negro, como do lugar de privilégio imposto pelo eurocentrismo. A superação dos estereótipos raciais e a inserção de negros e negras na sociedade passa pela ampliação da representação e apresentação de negros e negras em determinados espaços de protagonismo, de forma que gerações em formação possam ter seus horizontes de acessibilidade e busca ampliados.

No entanto, a ampliação da representatividade, apesar de fator necessária a alteração da estrutura racista, está longe de ser suficiente. Tomando o modelo estadunidense como exemplo, podemos verificar que a ascensão social e econômica de alguns negros (representatividade) não foi suficiente para alterar as condições de degradação e preconceito imposta a essa população. Apenas, a superação do modelo colonialista de percepção do outro e de si imposto tanto pelo currículo oficial, que determina os conteúdos a serem transmitidos, quanto pelo currículo oculto, que determina o proceder e a percepção do elemento étnico em nossas escolas, pode iniciar a alteração dessa estrutura historicamente construída e socialmente reforçada a partir da reprodução acrítica.

A escola como reprodutora e propagadora da estrutura hegemônica e da ideologia racista é ambiente propício ao início dessa mudança, e é nesse sentido que o produto do presente trabalho tenta apresentar tanto a existência da metodologia de aquisição do conhecimento, quanto a importância da luta contra a opressão racial. Nesse sentido, alguns alunos que participaram como voluntários na aplicação do produto educacional desenvolvido, quando tiveram a oportunidade de selecionar patronos para o projeto de final de ano para a escola, escolheram Diop, e sua bibliografia como referência, além, dos painéis mostrados na figura abaixo, que foram apresentados por duas turmas, o projeto também envolveu na mesma a apresentação de peças de teatro relacionadas ao tema racial, bem como exposição mediada pelos alunos dos diversos aspectos da vida do patrono, tendo como fio condutor os quadros que ilustram as imagens a seguir com as quais finalizamos.

Fig. 41

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