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1 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

1.2 O que dizem as normativas legais sobre a EJA

1.2.1 A Constituição Federal de 1988

Pela primeira vez, a EJA foi citada na história da educação brasileira na Constituição Federal de 1988, que reconheceu que deve ser promovido o bem de todos sem nenhuma distinção, como determina o artigo 3º, inciso IV: “Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (BRASIL, 1988). Dessa forma, pressupõe-se que o bem de todos deve ser garantido com acesso à saúde, à educação e à igualdade de direitos.

A educação como um direito de todos é da responsabilidade do Estado e da família que devem garantir o acesso e a permanência de todos, como trata um dos princípios da educação, no artigo 206, “I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola” (BRASIL, 1988). Já o artigo 208 discorre sobre definições que são de responsabilidade do Estado e, no inciso, I fica explicitado que a educação deve ser gratuita e de livre acesso a todos, incluindo aqui aqueles que não puderam estudar na idade que a legislação determina como correta. A Constituição estabelece que é dever do Estado ofertar “educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria” (BRASIL, 1988, p. 121).

No inciso VI do artigo 206, a Constituição chama a atenção para as especificidades do alunado que necessitam estudar à noite, determinando que a “oferta de ensino noturno regular [...] deve ser adequada às condições do educando”. Sendo assim, deve- se ter oferta no horário noturno que atenda aos jovens e adultos que precisam trabalhar para ajudar, financeiramente, as suas famílias e, ao mesmo tempo, que desejam retornar à escola para iniciar seus estudos ou dar continuidade a eles. Nesse artigo fica evidente que a educação

de adultos é um direito garantido na Constituição, por isso, deve ser ofertada pela rede pública de ensino para aqueles que não puderam terminar os seus estudos ou não tiveram acesso a ele até então.

1.2.2 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)

Em consonância com a Constituição de 1988, a Lei nº. 9.394/96, conhecida como Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), também determina que o Estado seja responsável pela oferta do ensino noturno, como definido no artigo 4º: “O dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: [...] VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando” (BRASIL, 1996, p. 2). Aponta também para a necessidade de um ensino que atenda às particularidades desse público e que garanta a “oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola” (BRASIL, 1996, p. 2). O não cumprimento do direito de acesso ao ensino poderá levar qualquer órgão ou cidadão a buscar medidas por meio do Ministério Público para que a instituição de ensino cumpra o que está estabelecido no artigo 5º que determina:

O acesso ao Ensino Fundamental é direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída, e, ainda, o Ministério Público, acionar o Poder Público para exigi-lo. I - recensear a população em idade escolar para o Ensino Fundamental, e os jovens e adultos que a ele não tiveram acesso (BRASIL, 1996, p. 3).

Na LDB de 1996, no capítulo II da seção V, dois artigos são direcionados à Educação de Jovens e Adultos. O artigo 37º define que a Educação de Jovens e Adultos é destinada a todos que não tiveram acesso à escola na idade apropriada. No primeiro inciso desse mesmo artigo, encontramos que

os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames ( BRASIL, 1996, p. 15).

Aos sistemas de ensino fica delegada a responsabilidade com a oferta da EJA, assegurando aos alunos dessa modalidade um ensino que atenda às suas especificidades. Como dever do Estado, a lei determina a sua responsabilidade com a educação básica, garantindo, assim, o acesso ao ensino para todos, ou seja, de crianças, adolescentes, jovens e adultos. Apesar disso, a lei não faz nenhuma referência à educação dos idosos. A esses que retornam à escola depois de anos de trabalho e depois da chegada da aposentadoria, que procuram pela oportunidade de aprender a ler e escrever, que não tiveram, até então, devido às condições sociais ou econômicas, o direito de estudar, os aparatos legais não garantem um atendimento especial. É evidente que o público em questão traz experiências de vida que são específicas, o que justifica a necessidade de que o poder público contemple o ensino dos idosos nas políticas públicas.

1.2.3 Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação de Jovens e Adultos

O parecer CNE/CEB nº. 11/2000, que subsidiou as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos (DCNs), enfatiza que

a Educação de Jovens e Adultos (EJA) representa uma dívida social não reparada para com os que não tiveram acesso a e nem domínio da escrita e leitura como bens sociais, na escola ou fora dela, e tenham sido a força de trabalho empregada na constituição de riquezas e na elevação de obras públicas. Ser privado deste acesso é, de fato, a perda de um instrumento imprescindível para uma presença significativa na convivência social contemporânea (BRASIL, 2000, p. 5).

A EJA é uma modalidade de ensino destinada àqueles que não foram alfabetizados e que, por diversos motivos, não puderam frequentar a escola regular ou dar continuidade aos estudos. A busca pela escolarização ou o retorno à escola é impulsionada pelas necessidades profissionais e de ascensão a diferentes espaços: acadêmicos, culturais e políticos da sociedade.

Desse modo, a função reparadora da EJA, no limite, significa não só a entrada no circuito dos direitos civis pela restauração de um direito negado: o direito a uma escola de qualidade, mas também o reconhecimento daquela igualdade ontológica de todo e qualquer ser humano. Desta negação, evidente na história brasileira, resulta uma perda: o acesso a um bem real, social e simbolicamente importante [...] (BRASIL, 2000, p. 7).

No que se refere às especificidades dos alunos da EJA, a Resolução CNE/CEB nº. 1, de 5 de julho de 2000, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação e Jovens e Adultos apontam para a relevância de se considerar as particularidades desses alunos, as diferentes faixas etárias e a diversidade de experiências profissionais.

Parágrafo único. Como modalidade destas etapas da Educação Básica, a identidade própria da Educação de Jovens e Adultos considerará as situações, os perfis dos

estudantes, as faixas etárias e se pautará pelos princípios de equidade, diferença e

proporcionalidade na apropriação e contextualização das diretrizes curriculares nacionais e na proposição de um modelo pedagógico próprio, de modo a assegurar:

I - quanto à equidade, a distribuição específica dos componentes curriculares a fim

de propiciar um patamar igualitário de formação e restabelecer a igualdade de direitos e de oportunidades face ao direito à educação;

I- quanto à diferença, a identificação e o reconhecimento da alteridade própria e inseparável dos jovens e dos adultos em seu processo formativo, da valorização do mérito de cada qual e do desenvolvimento de seus conhecimentos e valores;

III - quanto à proporcionalidade, a disposição e alocação adequadas dos componentes curriculares face às necessidades próprias da Educação de Jovens e Adultos com espaços e tempos nos quais as práticas pedagógicas assegurem aos seus estudantes identidade formativa comum aos demais participantes da escolarização básica (BRASIL, 2000, p. 4).

A legislação indica que as instituições educacionais devem ser organizadas a fim de que possam atender a esta demanda. As atividades educacionais, segundo o parecer CNE/CEB nº. 11/2000, não poderão ser desvinculadas das especificidades que se apresentam nesta modalidade de ensino. Para isso:

A rigor, as unidades educacionais da EJA devem construir, em suas atividades, sua identidade como expressão de uma cultura própria que considere as necessidades de seus alunos e seja incentivadora das potencialidades dos que as procuram. Tais unidades educacionais da EJA devem promover a autonomia do jovem e adulto de modo que eles sejam sujeitos do aprender a aprender em níveis crescentes de apropriação do mundo do fazer, do conhecer, do agir e do conviver (BRASIL, 2000, p. 35).

Sendo assim, a Educação de Jovens e Adultos deve se pautar nos quatros pilares da educação: aprender a conhecer, aprender a conviver, aprender a ser e aprender a fazer. Esses pilares objetivam propiciar aos sujeitos um aprendizado que possa contribuir com seu desenvolvimento pessoal, social e político. A Educação de Jovens e Adultos representa, para todos os jovens, adultos e idosos, um caminho de possibilidades de inserção ao ensino, o qual poderá lhes oferecer novas oportunidades de aprendizagem.

Nela, adolescentes, jovens, adultos e idosos poderão atualizar conhecimentos, mostrar habilidades, trocar experiências e ter acesso a novas regiões do trabalho e da cultura. Talvez seja isto que Comenius chamava de ensinar tudo a todos. A EJA é

uma promessa de qualificação de vida para todos, inclusive para os idosos, que muito têm a ensinar para as novas gerações (BRASIL, 2000, p. 10).

A resolução contempla também a formação inicial e continuada dos profissionais da Educação de Jovens e Adultos.

Art. 17 – A formação inicial e continuada de profissionais para a Educação de

Jovens e Adultos terá como referência as diretrizes curriculares nacionais para o Ensino Fundamental e para o Ensino Médio e as diretrizes curriculares nacionais

para a formação de professores, apoiada em: I – ambiente institucional com

organização adequada à proposta pedagógica; II – investigação dos problemas desta modalidade de educação, buscando oferecer soluções teoricamente fundamentadas e

socialmente contextuadas; III – desenvolvimento de práticas educativas que

correlacionem teoria e prática; IV – utilização de métodos e técnicas que

contemplem códigos e linguagens apropriados às situações específicas de aprendizagem (BRASIL, 2000, p. 3).

A formação do professor de EJA ofertará, então, subsídios para que o educador possa compreender o ensino e aprendizagem nessa modalidade de ensino. Compreende-se, assim, que conhecer a organização, as práticas pedagógicas, a metodologia de ensino e as concepções de ensino e aprendizagem que estão associadas a essa modalidade é prioridade na formação ofertada aos educadores de EJA.

Enfim, a Constituição de 1988, a LDB e as Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e Adultos são legislações que asseguram o direito à educação para jovens e adultos, por isso, trazem finalidades e proposições que devem ser cumpridas pelo sistema nacional de ensino. É evidente que a EJA é um direito assegurado a todos os jovens, adultos e idosos que, por diferentes motivos, não puderam terminar os seus estudos. A finalidade das políticas públicas é garantir o acesso de todos à escola, sem distinção de idade, sexo, raça ou condição social.