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3 BIOMASSA FLORESTAL COMO RECURSO RENOVÁVEL

4.1 CRESCIMENTO ECONÔMICO E DESENVOLVIMENTO

4.1.4 O RELATÓRIO BRUNDTLAND

A tese ambientalista da sustentabilidade foi incorporada pela Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) da ONU e convertida em ponto central do relatório Nosso Futuro Comum ou Relatório Brundtland. Esse relatório, que resultou de pesquisa realizada entre 1983 e 1987 sobre a situação de degradação ambiental e econômica do planeta, serviu como ponto de partida para as discussões que antecederam a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92 (UNCED ou CNUMAD).

Nos termos do Relatório Brundtland a sustentabilidade se acopla a um novo padrão de crescimento econômico que deve ser garantido. Nesse sentido,

“desenvolvimento sustentável” seria “uma correção, uma retomada do crescimento, alterando a qualidade do desenvolvimento, a fim de torná-lo menos intensivo de matérias- primas e mais eqüitativo para todos”.

A preocupação básica é que o crescimento econômico para todos não fira os direitos das gerações futuras a terem acesso a recursos naturais para a sobrevivência. Trata-se de alterar as formas de exploração da natureza, de maneira a legar recursos para os que virão.

“Desenvolvimento Sustentável é, portanto, definido como um “processo de mudança no qual a exploração dos recursos, a orientação dos investimentos, os rumos do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional estão de acordo com as necessidades atuais e futuras”.

A proposta do Relatório Brundtland é uma conciliação entre as teses de crescimento zero e as do desenvolvimento a qualquer preço (ZHOURI et al, 2005), debatidas no contexto da Conferência Internacional de Meio Ambiente Humano em Estocolmo (UNCHE, 1972).

Àquela época, enquanto os “zeristas” advogaram uma parada no crescimento econômico mundial, a fim de evitar uma catástrofe ambiental generalizada, as delegações do Terceiro Mundo defendiam o direito de percorrer a trajetória do crescimento econômico já trilhada pelo Primeiro Mundo. Zerar o crescimento era, nessa perspectiva, uma proposta iníqua dos países ricos, que só se lembravam da natureza depois de a terem degradado para alcançar patamares superiores de desenvolvimento (VEIGA, 2010).

O teor conciliatório de Nosso Futuro Comum se evidencia logo nas primeiras páginas, quando frisa a garantia de manutenção do crescimento para todos – os seres humanos e os países – a ser obtido aceleradamente pela reorientação tecnológica e institucionalização de meios de fiscalização internacionais, de controle populacional e de política de ajustes e de ajuda financeira dos países ricos aos pobres. A causa primordial da deterioração ambiental é a pobreza e, nesse sentido, “desenvolvimento sustentável” é algo proposto para “aliviá-la”, “reduzi-la”, “mitigá-la”.

Pobreza e deterioração ambiental são percebidas pelo Relatório Brundtland como que formando um círculo vicioso no qual cada termo é causa e efeito do outro, e não como características e resultado histórico de um modo de produção altamente concentrador, econômica e espacialmente.

Dadas essas premissas, algumas soluções propostas tornam-se questionáveis, uma vez que mantém os elementos que acirram as contradições: assim o relatório sugere um sistema de políticas de ajustes e correções, num regime de cooperação mundial integrada no qual as “empresas multinacionais têm um importante papel a desempenhar”, pois é “pura ilusão que os países em desenvolvimento possam viver por seus próprios meios. (CASTRO, 1986).

Nosso Futuro Comum é o resultado do trabalho de uma comissão formada por 21 pessoas, oriundas de países de diferentes continentes e em diferentes “estágios de desenvolvimento”. Essa diversidade poderia explicar, em parte, a ambigüidade e a incoerência às quais foi levado.

A incoerência, todavia, parece-residir na discrepância entre o pressuposto implícito – que é o da naturalização do sistema econômico capitalista, tido como o processo civilizatório – e os dados quantitativos e os depoimentos expostos, que evidenciam a pauperização e a espoliação crescentes dos países de um Terceiro Mundo que se insiste chamar de “em desenvolvimento” (BRUSEKE, 1995). Assim é que, embora os dados do relatório atestem com veemência a sangria de recursos drenados em direção aos países ricos, a conclusão “realística” implica a manutenção do mesmo sistema, uma vez que os ajustes sugeridos ficam ao sabor das boas intenções e boa vontade de atores sociais poderosos, que outro motivo não teriam para modificar o comportamento senão o temor de uma grande catástrofe ambiental (ALMEIDA, 2002).

Isso chama a atenção para o segundo pressuposto do Relatório, e se refere à racionalidade e conseqüente bondade dos atores sociais, que corrigiriam o rumo das suas ações tão logo tomassem consciência dos efeitos inesperados e negativos delas.

Os ambientalistas se queixam de que a sua proposta em prol de uma sustentabilidade venha sendo invertida e reinterpretada como uma defesa de expansão do

mercado e do lucro, acabando por propor como solução para a crise ecológica o que em verdade seria a sua causa, ou seja, o expansionismo do sistema (CAMARGO, 2003).

Produzido em 1987 pela Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento o Relatório Nosso Futuro Comum, ou Relatório Brundtland, teve como uma de suas principais recomendações a realização de uma conferência mundial para direcionar os assuntos ambientais – o que culminou com a Rio-92.

O documento ficou conhecido pelo nome de Relatório Brundtland, já que a Comissão era presidida por Gro Harlem Brundtland, então primeira-ministra da Noruega.

Desenvolvimento sustentável foi então definido no mencionado Relatório Brundtland. O que pretende é alcançar uma situação ideal de justiça social, para a humanidade, na qual o desenvolvimento sócio-econômico, em bases eqüitativas, estaria em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra. Em tal situação, ocorreria certa melhoria na qualidade de vida das populações, cujas necessidades (e alguns dos desejos) da presente geração estariam satisfeitas sem prejuízos para as gerações futuras.

O paradigma do desenvolvimento sustentável inclui, nesta concepção necessariamente, equilíbrio de desenvolvimento sócio-econômico, preservação e conservação do ambiente, e também controle dos recursos naturais essenciais, como água, energia e alimentos (CASTRO, 1996).

Os conhecimentos científico e tecnológico necessários para a busca de tal situação ideal já se encontram em grande parte disponíveis. Por exemplo, já são conhecidos muitos tipos de tecnologias limpas com relação ao ambiente, muitos processos de reciclagem de rejeitos industriais, muitas técnicas de agricultura regenerativa. Ainda não se encontra, entretanto, resolvido o problema da disponibilidade de fontes renováveis de energia, em quantidade compatível com as necessidades futuras, e estamos longe de uma solução final para o problema maior, qual seja, o de conter o crescimento populacional, especialmente nos países em desenvolvimento (SACHS, 2002).

Dada à necessidade de redefinir o conceito de desenvolvimento, para que o desenvolvimento sócio-econômico fosse incluído e assim a deterioração do meio

ambiente fosse detida, o Relatório Brundtland concebia que esta nova definição poderia surgir somente com uma aliança entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Tanto o Relatório Brundtland quanto os demais documentos produzidos pelo Clube de Roma, sobre o Desenvolvimento Sustentável, foram fortemente criticados porque creditaram a situação de insustentabilidade do planeta, principalmente, à condição de descontrole da população e à miséria dos países do Terceiro Mundo, efetuando uma crítica muito branda à poluição ocasionada durante os últimos séculos pelos países do Primeiro Mundo.

Segundo Castro (1996), o repto imposto pelo novo ambientalismo ao desenvolvimento foi o prelúdio de um questionamento ainda mais radical: o da nova questão social, amadurecida no final dos anos 80.

A dimensão de sustentabilidade social inerente ao conceito, não diz respeito apenas ao estabelecimento de limites ou restrições à persistência do desenvolvimento, mas implica na ultrapassagem do econômico: não pela rejeição da eficiência econômica e nem pela abdicação do crescimento econômico, mas pela colocação dos mesmos a serviço de um novo projeto societário, onde a finalidade social esteja “justificada pelo postulado ético de solidariedade intrageracional e de equidade, materializada em um contrato social”. (SACHS, 1995).

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