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O rio na malha urbana do município de Passo Fundo

No documento 2015MaiaraRobertaSantosMorsch (páginas 72-81)

4.1 O rio Passo Fundo

4.1.2 O rio na malha urbana do município de Passo Fundo

A cidade foi batizada pelos índios coroados e chamada por eles de “GOIO-EN”, que em sua língua indígena significa muita água, rio fundo e é traduzida por Passo Fundo. Para evitar a volta e demais inconvenientes da antiga estrada por Viamão e Santo Antônio da Patrulha, os tropeiros entraram pela campanha, ainda deserta, fazendo o trajeto da viagem do sul rio-grandense para São Paulo e vice-versa, passando pelo território da cidade. Originada muito depois em pequeno núcleo de moradores formado junto à estrada, no centro da atual Av. Brasil em 7 de agosto de 1857. O nome estendeu-se ao nome do rio, que foi sempre um marco referencial importante para a passagem dos tropeiros que abriram esse novo caminho para encurtar o trajeto (Prefeitura Municipal de Passo Fundo).

Em 1898 foi inaugurado o ramal ferroviário ligando Passo Fundo à Cruz Alta e posteriormente à Marcelino Ramos, que incentivou o crescimento da cidade dando um novo rumo ao transporte que antes dependia do tropeirismo e de carros de bois, trazendo assim dinamismo a cidade e marcando sua característica como polo econômico regional. Por volta de 1910 a urbanização da cidade alcançou a ponte do rio Passo Fundo, local denominado de “passo”. Na época, muitos espaços ainda não estavam arruados, devido a passagem do rio e das grandes propriedades particulares (MIRANDA, 2005). A figura 52 apresenta um mapa da cidade do ano de 1918.

A urbanização se intensificou por volta de 1940 em toda a região. Com a migração do campo para a cidade, a densidade demográfica do município quase triplicou nos próximos anos, 80.183 habitantes em 1940, sendo 25,67% de população urbana, para 93.176 habitantes com 54,26% de população urbana em 1960. No mapa a seguir é apresentada a evolução urbana até 1959, sobreposta no mapa atual, aonde se pode observar a expansão do territótio neste período. No mapa também se destaca o rios e o arroio que banham a cidade.

Salton (1998) também destaca a importância do rio na memória da cidade, como mostra o mapa da evolução urbana na sequência, aonde os cidadãos pescavam, mergulhavam e se transportavam de canoa, mas com o aumento das moradias em seu entorno as crianças

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foram se afastando e a pescaria foi se extinguindo. A cidade que terminava na importante ponte de pedra inspirada na ponte do rio Sena, em Paris (como se observa no mapa da figura 53, no limite direito da malha de 1929 e na imagem da figura 54) cresceu, a ponte deu lugar a grande via da cidade, a Avenida Brasil. Assim o rio foi sendo esquecido e até hoje o local é o limitador do centro da cidade.

Figura 52- Mapa de Passo Fundo em 1918.

Fonte: Miranda (2005).

Figura 53- Mapa da evolução urbana de Passo Fundo até 1959.

Figura 54- Ponte sobre o rio Passo Fundo, construída por volta de 1925.

Fonte: Miranda, 2005

Na atualidade a cidade está densamente urbanizada com cerca de 200 mil habitantes, sendo 97,45% da população concentrada na área urbana, como já citado na revisão bibliográfica. O mapa abaixo é uma imagem de satélite do Google Earth, atualizada em junho de 2014, do município de Passo Fundo. Nela podemos observar sua densa ocupação e a escassez de espaços verdes abertos e de preservação dos corpos hídricos.

Figura 55 - Imagem de satélite de Passo Fundo.

Fonte: Google (2015)

Já na imagem do Google Maps (figura 56) conseguimos observar representado o Rio Passo Fundo, porém com um trajeto diferente do que o observado no mapa municipal. Os demais arroios não são identificados neste mapeamento.

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Figura 56- Mapa de satélite de Passo Fundo.

Fonte: Google (2015)

Corazza (2006) realizou um diagnóstico dos rios urbanos de Passo Fundo aonde foi desenvolvido um mapeamento dos recursos hídricos, identificando as canalizações e a situação em que se encontravam no meio urbano. Para esta pesquisa cabe analisar os resultados obtidos no levantamento do rio Passo Fundo e seu entorno. O levantamento foi dividido em seis setores, baseados na Planta Cartográfica e Cadastral de 1953, sendo que dois destes setores abrangem o rio Passo Fundo. Eles estão destacados no mapa da figura 57.

Figura 57- Mapa de Passo Fundo com marcação dos setores do diagnostico realizado.

O setor 1, localizado à esquerda, compreende a parte do rio Passo Fundo que cruza com a Avenida Brasil, local da antiga ponte de pedras, do “passo” dos tropeiros, sendo um local de grande relevância histórica. O rio, que predominantemente compreende o trecho 1, não foi canalizado, diferente do que ocorreu com o córrego do trecho 2. O mapa a seguir, é parte do levantamento realizado no diagnóstico.

Figura 58- Mapa do diagnóstico do setor 01 em Passo Fundo.

Fonte: Corazza (2006)

Apesar de o rio não estar canalizado, a imagem de satélite do setor, da figura 59, nos mostra que as áreas de preservação permanente são ocupadas por edificações em muitos locais, causando prejuízos para a preservação do rio. Por estar localizado em fundos de lote,

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as ruas paralelas ao rio se situam longe do mesmo, deixando o rio passar despercebido no cotidiano dos cidadãos.

Figura 59 – Imagem de satélite do setor 1 em Passo Fundo.

Fonte: Google (2015)

Conforme o zoneamento, uso e ocupação do solo da área determinada legalmente pela Prefeitura de Passo Fundo, fazem parte do entorno do rio neste setor a zona especial de interesse social, a zona de uso especial e predominantemente a zona de ocupação controlada um como mostra a figura 60.

A Zona Especial de Interesse Social foi assim designada por necessitar de regulamentação urbanística diferenciada da zona em que está inserida por suas peculiaridades, como a de áreas vazias destinadas a implantação de lotes de interesse social, assentamentos autoproduzidos em áreas públicas ou privadas e parcelamentos públicos ou privados

irregulares ou clandestinos. Esta zona tem uma taxa de ocupação de 60% e lote mínimo de 200m².

A Zona de Uso Especial, aonde se localiza a prefeitura e a rodoviária (como se observa no mapa de parcelamento do solo), são áreas definidas por lei aonde as edificações obedecerão o regime urbanístico próprio definido por lei, com o parecer favorável dos conselhos municipais pertinentes. Com taxa de ocupação máxima de 60% e lote mínio de 300m².

A Zona de Ocupação Controlada 1, predominantemente no entorno do rio neste setor, é uma das áreas de preservação ambiental destinada predominantemente a proteção do ambiente natural e a sua recuperação. As edificações devem respeitar a taxa de ocupação de 40% e o lote mínimo é de 300m². Pode-se observar que neste setor está inserido o hipermercado junto ao rio que, conforme analisado na imagem de satélite anterior, ocupa cerca de 50% da área do lote.

Figura 60- Mapa de Parcelamento do Solo do setor 1 em Passo Fundo.

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O setor 2, localizado à direita do setor 1, compreende a continuação do rio Passo Fundo, aonde nos interessa o trecho 3, em azul que se estende em bairro residencial. Como se pode observar na figura 61, este trecho também não está canalizado, sendo um ponto positivo a não canalização do rio no meio urbano, apesar da canalização dos seus afluentes córregos e arroios.

Figura 61- Mapa do diagnóstico do setor 02 em Passo Fundo.

A imagem de satélite do setor 2, figura 62, nos mostra que as áreas de preservação permanente foram mais respeitadas do que a anterior, a pesar de também haver edificações e ruas na APP. Este fato ocorreu por ser uma zona de Proteção de Mananciais (à direita da imagem da figura 63), conformando uma área com características diferentes do centro da cidade.

Figura 62– Imagem de satélite do setor 2 em Passo Fundo.

Fonte: Google (2015).

Conforme o zoneamento, uso e ocupação do solo da área determinada legalmente pela Prefeitura de Passo Fundo no setor 2, ilustrado na figura 63, que tange a ocorrência atual, fazem parte do entorno do rio a zona especial de interesse social e predominantemente a zona de ocupação controlada um, assim como observado no setor 1 e ainda a zona de recuperação ambiental e a zona de proteção de recursos hídricos, também destinadas a preservação ambiental com função predominante a proteção do ambiente natural e a sua recuperação.

Na Zona de Proteção de Recursos Hidricos, o lote mínimo é de 2.000m² e as edificações podem ocupar no máximo 20% do lote, sendo que na área constituída de faixa de

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preservação de 30 metros ao longo do curso d’água, medidos a partir da linha de contorno correspondente ao nível máximo de agua no curso, não são permitidas edificações. Segundo o Plano Diretor esta zona prevalece sobre as demais zonas.

Figura 63- Mapa de Parcelamento do Solo do setor 1 em Passo Fundo.

Fonte: Adaptado de Prefeitura Municipal de Passo Fundo (2015).

No documento 2015MaiaraRobertaSantosMorsch (páginas 72-81)