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1 – O roteiro das atuações do professor 53 

No documento Luiz Fernando Costa de Lourdes (páginas 53-58)

Neste capítulo serão apresentadas e analisadas algumas das concepções de Boaventura à frente da diretoria da secção técnica do Departamento de Educação Física de São Paulo, da cadeira de Educação Física Masculina da Escola Superior de Educação Física, bem como representante dos professores de Educação Física de São Paulo pela Associação de professores de Educação Física de São Paulo. Também se apresentarão algumas das ações de Antonio Boaventura que refletem sua interpretação do que seria a Educação Física na escola, identificando questões como o valor educativo das atividades físicas, a postura do professor perante seus alunos, aulas para os homens e mulheres, o caráter lúdico das aulas e o diálogo com os diferentes dispositivos e padrões de educação física, dos quais se apropriou e divulgou-os como docente formador de professores de educação física para as escolas primárias, secundárias e de ensino superior.

Como foi visto no capítulo anterior, na década de 1950, Boaventura ocupava o cargo de Diretor da secção técnica do DEFE-SP, era professor catedrático da ESEF-SP, e estava se articulando para presidir a APEF-SP (Gestão 1952/53). Em 1951, foi o organizador do primeiro curso de aperfeiçoamento técnico e pedagógico para professores de Educação Física48, com professores de São Paulo e de outros estados. Em 1947, fora a Buenos Aires, como representante da APEF-SP para a III conferência de Professores de Educação Física49, trocar experiências e idéias sobre a Educação Física no Estado de São Paulo, bem como o campo profissional quais eram as virtudes e “desafios”50 para a legitimação da área. Em 1949, mesmo sob crítica de alguns professores da Escola de Educação Física51, é:

      

48 Extraído da Ficha Funcional datada em 12 de junho de 1956 pelo Departamento de Educação Física e

Esporte de São Paulo e entrevista do professor.

49 Idem.

50 Leia-se: dificuldades, vícios, e o confronto com outros projetos de Educação Física que pudessem

prejudicar o “bom andamento profissional”.

54  autorizado a ausentar-se do país, nos termos do Artº 47, pelo prazo de quarenta (40) dias, a contar de 14/7/1949 [...] a fim de representar o Estado na II Linguiada a realizar-se em Estocolmo, na Suécia (DEFE-SP, 1966).

Esse evento é significativo em seu itinerário de formação, na confrontação com os padrões internacionais e no estabelecimento de um grupo de trabalho no exterior, pois nessa experiência que teve contato com profissionais da área e os convidou para virem ao Brasil, “dividirem seu conhecimento”, pois acreditava que a Educação Física no Brasil necessitava de um “novo ar” para se estabelecer como um elemento da Educação Geral.

Na Suécia, realizou o curso de especialização em Ginástica Sueca, no Real Instituto Central de Ginástica de Estocolmo. Conheceu o professor do curso, Curt Jonhasson, que convidou em 1952 para ministrar um curso de Ginástica Sueca no curso técnico pedagógico de Santos e um curso de especialização em Ginástica Sueca na Escola Superior de São Paulo.

Durante essa viagem à Europa, tomou contato com outros profissionais e representantes de Divisões de Educação Física e institutos de Esporte, como Margarette Frohlich, da Áustria, a quem convidou para, em 1953, ministrar um curso de ginástica feminina moderna em Santos; Illona Poulker, da Hungria, que veio a seu convite ministrar o curso de Ginástica Rítmica; Auguste Listello, da França, a quem também convidou ao Brasil em 1950, de quem se tornou companheiro de publicações e cursos ministrados em diferentes estados brasileiros e países sul – americanos.

Nessa mesma viagem Boaventura associou-se à Federação Internacional de Educação Física (FIEP), entidade internacional, com sede na França, que congregava universidades que possuíam faculdades de Educação Física, Departamentos e Institutos de pesquisa em Educação Física. Essa entidade representava o órgão agregador dos diferentes profissionais de educação física em diversos países.

Em 1950, foi a Montevidéu como representante da APEF-SP, participar do 2º. Congresso Panamericano de Educação Física. Lá apresentou um trabalho intitulado “Educação Física na Universidade”, que se constituía de um relato de experiência na

       Universidade Estadual de Campinas – Unicamp em 1980, relata que os professores das áreas esportivas criticavam a viagem, dizendo que “era mais um passeio”.

Universidade Americana52, na análise de sua experiência como docente do ensino superior e Diretor da secção técnica do DEFE-SP. Em 1951, pouco antes do curso de Santos, foi a Montevidéu para o 3º. Congresso Panamericano de Educação Física, no qual em assembléia foi aprovado o plano de Educação Física Panamericano, que ele próprio divulgou no II curso de Aperfeiçoamento Técnico e Pedagógico de Educação Física.

O Curso Técnico e Pedagógico de Educação Física de São Paulo constituiu importante veículo para a disseminação entre os professores brasileiros dos valores, projetos e padrões internacionais e nacionais de Educação Física pertinentes ao grupo a que Antonio Boaventura pertencia. Boaventura foi o primeiro e o principal organizador desses cursos, realizados durante as décadas de 1950 e 1960, em sua maioria, na Escolástica Rosa, na cidade de Santos. Os cursos ocorriam anualmente, eram gratuitos53e de forma semelhante foram realizados em diferentes partes do estado de São

Paulo, em estados brasileiros e países sul-americanos, variando em sua regularidade.

      

52 A experiência na Universidade de Michigan e também de visitas técnicas a outras Universidades para

conhecer o sistema esportivo universitário dos Estados Unidos da América, era docente da ESEF-SP desde 39. Nesse período a Escola já era considerada um Instituto Superior Isolado.

53 Boaventura e sua esposa Elza Fleury foram responsáveis por conseguir recursos junto ao Secretário do

56    Foto do grupo feminino participante do Curso de aperfeiçoamento técnico e pedagógico na Argentina, Buenos Aires, 1958 (professor Boaventura ao centro). Fonte: Acervo Professor Antonio Boaventura da Silva

    Sobre a circulação das concepções e de como perfazem os caminhos, pode se observar que no curso havia a presença de diversos professores de escolas públicas e particulares do interior e da capital de São Paulo, e de certo modo chegou a esses professores o que se havia discutido “internacionalmente”. Esta é uma das mais significativas formas pelas quais Boaventura atuou na divulgação e adaptação ao país de modos de pensar e praticar a Educação Física de outros lugares do mundo. Esses cursos também recebiam daqueles que participavam o nome de Curso Internacional de Santos ou Estágio Internacional de Santos.

Na lista de professores convidados54 para ministrar cursos e palestras estão Auguste Listello, do “Institut des Sports” da França, com o Método Desportivo Generalizado; Curt Jonhasson, do Instituto Real Central de Ginástica de Estocolmo- Suécia, com a Ginástica Sueca Moderna ou Ginástica Balanceada; Nestor e Nelly Ybarra do Centro de Educação Física de Montevidéu – Uruguai, com a Ginástica de Solo; Gerhard Schimdt da Divisão de Educação Física da Áustria, com o Método       

54 As informações foram retiradas de partes de cartas encontradas no acervo com esses sujeitos, relatórios

de atividade e atas de reunião desses eventos técnico-pedagógicos. Está nos anexos uma carta enviada por Margarette Frohllich.ao professor Antonio Boaventura.

Natural Austríaco; Alberto Dallo do Instituto Superior de Educação Física da Argentina, com a Ginástica Geral; Margarette Frohllich da Áustria, com a Ginástica Feminina Moderna e Illona Poulker da Hungria, com a Ginástica Rítmica Feminina.

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No documento Luiz Fernando Costa de Lourdes (páginas 53-58)

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