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O rural de áreas metropolitanas

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Capítulo 3. Rural, urbano ou o quê?

3.1.3. O rural de áreas metropolitanas

Normalmente quando se referem ao rural, a imagem que logo é gerada é de lugares distantes dos grandes centros urbanos, das chamadas grandes cidades. O rural toma forma do local onde as atividades econômicas desenvolvidas se diferenciam das existentes nos grandes centros e onde o modo de vida possui particularidades geradas neste meio.

Há uma tendência de se desvincular grandes centros ou cidades de áreas rurais e de se vincular o rural ao interior. Pelo senso comum e de forma bem generalizante, o rural está fora e bem longe dos grandes centros e cravado no interior do país.

Por isso é bastante comum destituir o rural da proximidade com o litoral, como também, de destituí-lo de facilidades (pois as facilidades caracterizam o urbano, são conseqüências da urbanização).

Na História do Brasil está visão é nitidamente marcada com a localização das primeiras cidades nos litorais. Daí, o crescimento destas cidades, uma posterior industrialização, urbanização e em alguns pontos a metropolização. Enquanto que para o lado oposto do litoral, em direção ao interior, o nascimento e permanência das zonas rurais. Surge algo, ainda no Brasil colonial que foi uma divisão espacial do país levando em

consideração mais do que suas características físicas, mas a sua forma de produzir e sua função.

Para Becker e Egler, durante o período colonial começa a se produzir um espaço brasileiro imerso em uma "... dinâmica espaço-temporal do processo de diferenciação/incorporação das regiões brasileiras na economia-mundo."178

A produção deste espaço estava imbuída do poder colonial através das determinações da metrópole do que se faria ou não nestas terras, de acordo com a economia vigente no mundo considerado civilizado. O controle metropolitano estava voltado para a economia agrícola-mercantil (agroexportador). A divisão do espaço foi uma conseqüência das explorações diversas, de terras demarcadas, de agriculturas introduzidas, de trabalho escravo, de exportação (vegetal e mineral). Já nesta época, existia uma evidente separação entre o que no futuro vem a ser o urbano e o rural, impregnados de uma dualidade. Pois, "[c]ada região agroexportadora, integrante do arquipélago, revelava em seu interior a separação entre a cidade mercantil e o campo agropastoril."179

Este espaço que estava sendo produzido na colônia era marcado pela divisão de: marinha, sertão e as minas. Onde a marinha era o litoral, lugar onde o colonizador primeiramente pisa e depois se estabelece. Na marinha ocorrem os primeiros confrontos com os nativos: o indígena. Neste litoral são criadas as primeiras cidades brasileiras habitat da burguesia mercantil e agrícola, é onde surgiram os primeiros portos e o local onde surgiram os primeiros engenhos da economia açucareira. O sertão, adentrando pelo território litorâneo, fazia limite com a região de marinha, local de extermínio de índios remanescentes e formação de quilombos. O sertão foi utilizado para a introdução da pecuária. As minas eram as regiões da exploração de minerais, seria o interior do interior.

Percebe-se que esta divisão espacial faz parte do grupo de primeiras divisões regionais do Brasil, uma proximidade entre o campo e o rural em termos práticos. A região de engenho bem próxima da região pecuária, ambas próximas do porto e do centro comercial. E mesmo que se distinga uma região de marinha de uma região de sertão, ambas estão muito próximas do litoral e interligadas e interconectadas entre si. Sendo assim quando as cidades começam a crescer, tornam-se centros urbanos e metropolizam-se, na

178 BECKER, Berta K., EGLER, Claudio, A. G. Brasil: uma nova potência regional na economia-mundo. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998, p.89

área de abrangência destes pontos encontravam-se os antigos engenhos, as antigas fazendas de pecuária. Boa parte delas foi totalmente destruída pela industrialização, urbanização e modernidade. Algumas sobreviveram, algumas se transfiguraram e pode acontecer que dentre aquelas que sumiram, ainda permaneça no local a sua dinâmica impregnada na cultura local.

No primeiro capítulo deste trabalho é mencionada a divisão das sesmarias em São Gonçalo, nestas, foram construídas fazendas onde se desenvolviam tanto a pecuária como a agricultura. Em um primeiro momento a monocultura açucareira dominou, mais tarde a cultura de frutas, principalmente a citricultura. Esta região de São Gonçalo, no período colonial, poderia se denominar o sertão, em algumas bibliografias é assim que esta área é referenciada, como também, alguns autores a denominam recôncavo da Guanabara. A marinha – o centro – era o Rio de Janeiro e São Gonçalo seria o interior. No processo de conurbação da cidade do Rio de Janeiro e de formação da metrópole, São Gonçalo se transformou em área periférica do centro, assim como tantas outras regiões. Muitas das fazendas e engenhos dessa região de interior foram transformadas em modernas construções, deram espaço a fábricas e a um novo modo de vida. Porém, algumas permanecem.

Sendo assim, o rural faz parte da metrópole, tanto quanto o urbano. A metrópole em seu centro amplamente urbanizado não dá conta que em sua periferia se forma tanto uma periferia urbana como uma periferia urbano-rural. O rural não está em um interiro tão longe assim, existe na metrópole, no interior da metrópole, na fronteira entre a antiga marinha e o sertão.

Contudo, outras formas de perceber um espaço rural dentro de uma região metropolitana podem ser considerados.

A enumeração abaixo, proposta por Peixoto, mostra algumas das várias maneiras de se dividir um espaço:

• região urbana contínua ou conurbação; • subúrbio;

• a divisão do Centro de Pesquisas Urbanas do Instituto Brasileiro de Administração Municipal: a) núcleo; b) periferia imediata; c) periferia intermediaria e d) periferia distante;

• a divisão realizada pela FUNDREM: a) área comprometida com a ocupação urbana; b) área de ocupação progressiva; c) área industrial; d) área impar de utilização; e) área rural e f) área de preservação e proteção;

• periurbano. 180

Apesar de toda essas definições expressarem formas de designação do espaço em áreas metropolitanas, os conceitos que são mais tradicionalmente utilizados: rural e urbano, acrescentando o não tão recente, rurbano, são os que serão abordados neste momento do trabalho.

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