• Nenhum resultado encontrado

O sebastianismo em A Pedra do Reino

No documento Mirella Pereira Diniz Luiggi Oliveira (páginas 91-93)

CAPÍTULO 4 – QUADERNA, A VERIDICÇÃO E A EPOPIA

4.1. O sebastianismo em A Pedra do Reino

A referência a acontecimentos históricos é um dos recursos usados na onstrução da narrativa epopeica presentes na minissérie. Além de ser uma das

onstrução de uma obra fundada m feitos históricos que de fato aconteceram no mundo cultural pode, pela referência explíci

miticamente, através delas em seu esperado e festejado nascimento e na configuração fantástica do seu misterioso desaparecimento em batalha contra os Mouros, em Alcácer-Quibir, no norte da África. Os

As crenças de e apto a estabelecer

para a construção do caráter de Dom Sebastião como herói messiânico” (idem, p. c

características mais marcantes de uma epopeia, a c e

ta a um sistema de valor extratextual, contribuir com a construção textual fazendo com que o destinatário da minissérie compreenda melhor a construção dos personagens em A Pedra do Reino. Uma das referências mais fortes presentes na minissérie é a feita ao rei Dom Sebastião de Portugal e dos movimentos messiânicos que se originaram após o seu desaparecimento no século XVI. Para que compreendamos melhor como essas crenças se constituíram, atentemos para o que diz Godoy:

Dom Sebastião, o Desejado e o Encoberto, não recebeu essas denominações por alcançar ou construir algum feito extraordinário em vida, mas formou sua personalidade e agiu tanto histórico quanto

dois epítetos o eternizaram, pois ele já existia antes de nascer, como Desejado, encarnando as expectativas e vontades de uma nação ávida em manter seu papel especial entre outras nações do mundo. E ele continua existindo mesmo depois de sua morte, ou desaparecimento, como o Encoberto trazendo, ao mesmo tempo, traços humanos e divinos. Além de provocar a possibilidade de se sonhar de se continuar a desejar. (2007, p. 8)

que Dom Sebastião retornaria ao mundo purificado, santificado a salvação do mundo foram “os primeiros passos no caminho

17). Essas crenças provocaram uma série de movimentos populares manifestada por pesso

qualidade, retirados de uma mina encantada. Dizia o fanático que El- rei Dom Sebastião o conduzia todos os dias ao local que ficava à pequena distância de sua residência, para mostrar-lhe pequeno

Pedra do Reino. A começar pelo nome que, em dificuldades, podemos ligar à “Pedra Bonita” dos registros relatados por Valente. as que acreditavam no retorno do rei. Esses movimentos aconteceram não só em Portugal. No Brasil Colonial, muitas manifestações também surgiram. Atentemos para o episódio da Pedra Bonita, ocorrido no sertão nordestino no século XIX, descrita por Valente:

Nos começos de 1836, um mameluco chamado João Antônio dos Santos, que morava em Vila Bela, mostrava aos ingênuos habitantes do lugar, duas pedrinhas que fazia passar por brilhantes da melhor

lago, que guardava, sob encanto, suntuosa mina de brilhantes. Ali apontavam duas lindas torres de um templo, que já começava a ser divisado. Este templo seria a catedral do reino que haveria de surgir com o desencantamento.

Em velho folheto, companheiro inseparável de João Antônio estava todo o sagrado código sebastianista. Nele havia a lenda do misterioso desaparecimento de Dom Sebastião, na batalha de Alcácer-Quibir e de sua esperada ressurreição. Não fora difícil convencer a crédula gente de Flores de que ele era o enviado de Dom Sebastião, encarregado de ajudá-la a conseguir riqueza e felicidade eterna. Para inspirar maior confiança, João Antônio mostrava parte do folheto em que lia: Quando João se casasse com Maria / Aquele reino desencantaria...”. (apud GODOY, 2007, p. 126)

Figuras 44 e 45 – O sebastianismo é retratado como irracional e confuso por meio de cenas desfocadas e com ritmo rápido.

Ao analisar a descrição do movimento que ocorreu no interior de Pernambuco, na cidade de Flores, podemos encontrar diversos elementos que podem ser relacionados com os retratados em A

“As du

nista Pedro Diniz Quaderna aparece em cinco fases diferentes de sua vida: criança, adolescente, adulto, presidiário e velho. O

análise por meio de sua isibilidade em diferentes épocas de sua existência e de seu percurso na narrativa,

as lindas torres de um templo que já começava a ser divisado” podem ser vistas na forma das duas pedras longas, das quais o Rei João Ferreira fazia de seu templo na minissérie. O tema do “desencantamento” também está presente no discurso do personagem que decide sacrificar sua esposa, a rainha Isabel, para poupá-la das “dores do parto e do desencanto”. Ainda considerando as referências ao sebastianismo de uma forma geral, e não apenas no episódio da Pedra Bonita, chegamos ao outro ascendente de Quaderna, o seu padrinho Dom Pedro Sebastião. Além da clara ligação pelo nome próprio e de uma provável descendência que será especulada por Samuel em uma sequência que analisaremos no capítulo 5 desta dissertação, Dom Pedro Sebastião morreu de forma inexplicada, assim como sumiu misteriosamente o rei português. O seu filho mais novo foi raptado na mesma noite em que o personagem morreu, sendo então o retorno deste rapaz, o “príncipo” do cavalo branco, aguardada tanto quanto foi esperado o retorno do Rei Sebastião pelos seus seguidores mundo afora. Nas cenas em que são retratados os ritos messiânicos, o uso de tomadas curtas e ritmadas, o foco embaçado e a pouca nitidez nas imagens reforçam o sentido de caótico, irracional e confuso pelos quais essas práticas nos são passadas. O sangue e a violência tanto por parte do Rei João Ferreira quanto por parte dos guardas que interrompem o ritual, apontam para o ponto de vista do enunciador a respeito das práticas. A forma como os seguidores cegamente atendem aos desejos do messias também mostra a irracionalidade dessas pessoas diante do acontecido.

No documento Mirella Pereira Diniz Luiggi Oliveira (páginas 91-93)

Documentos relacionados