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O sentido do trabalho

No documento 2015TatianeFranceschini (páginas 98-101)

1.7 PALAVRAS-CHAVE

6 Revisão da literatura

6.2 O sentido do trabalho

Na literatura verifica-se que a definição de sentido e significado do trabalho são tratadas como sinônimos ou como distintos, dependendo da abordagem utilizada, mas a relevância é que todos com seus estudos contribuem para a discussão teórica sobre a importância do trabalho para a vida das pessoas. Na interpretação de Silva e Tolfo (2012) e Tolfo e Piccinini (2007), significado seria a representação social que a tarefa executada tem para o trabalhador, e sentido seria uma dimensão mais pessoal, evocando sentimentos como auto realização, satisfação, autonomia, desenvolvimento pessoal e profissional. Neste estudo, os termos sentido e significado do trabalho serão usados como sinônimos.

O sentido que se atribui ao trabalho é muito amplo e subjetivo. Estudos comprovam que cada pessoa atribui valores próprios ao trabalho, conceitualizando-o por meio de suas visões, realizações e frustrações. Borges e Tamayo (2001) e Tolfo e Piccinini (2007) afirmam que o trabalho é cheio de sentido individual e social, é responsável pela produção da vida de cada pessoa ao prover subsistência, criar sentidos existenciais, colaborar para estruturação da personalidade e da identidade. Contribuindo com a colocação, Muchinsky (2004) argumenta que o trabalho possui múltiplos sentidos: o sentido psicológico que fornece uma fonte de identidade e união com outras pessoas e realização pessoal; e sentido econômico, que são os recursos financeiros para o sustento da vida.

Os psicólogos Hackman e Oldhan são os pioneiros nos estudos sobre o sentido do trabalho. Eles identificaram três características que contribuem para que o trabalho tenha sentido: tarefas variadas, que possibilitam o uso de várias competências; a identidade do trabalho, com a possibilidade de realizar algo do começo ao fim; e o significado do trabalho sobre o bem das pessoas, da organização e da sociedade (MORIN, 2001; TOLFO; PICCININI, 2007).

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Tatiane Carla Reginatto ppgEH

Os estudiosos do grupo Mow (1987) definem que o trabalho possui três dimensões que lhe atribuem sentido: a centralidade, entendida como o nível de importância que o trabalho representa para a vida humana; as normas sociais, vistas como as regras derivadas de valores morais, éticos; os resultados valorizados, os quais abrangem os valores que levam a pessoa a trabalhar como o prestígio, o relacionamento social, o poder econômico entre outros.

Para Morin (2001), o sentido do trabalho é constituído pelo significado, que são as representações e o valor que a pessoa atribui ao trabalho; pela orientação, que é o que a pessoa busca com o trabalho e o que direciona suas ações no trabalho; e pela coerência, ou seja, a harmonia e equilíbrio que o trabalho proporciona.

Em um estudo realizado com estudantes de administração e com administradores da França e do Quebec, Morin (2001) aponta que, para um trabalho ter sentido ele deve: ser realizado de forma eficiente, proporcionando resultados úteis e rentáveis; ser intrinsecamente satisfatório, trazendo prazer e novos desafios para quem o realiza; ser aceito moralmente; ser fonte de experiências de contatos sociais satisfatórios; garantir segurança e autonomia; manter a pessoa ocupada. Seguindo os estudos, Morin, Tonelli e Pliopas (2007), em uma pesquisa realizada com jovens administradores da cidade de São Paulo, sobre os sentidos que atribuem ao trabalho, chegaram a três dimensões fundamentais: dimensão individual, que apresenta aspectos como satisfação pessoal, autonomia, sobrevivência, aprendizagem, crescimento; dimensão organizacional, com aspectos relacionados com a utilidade e as relações interpessoais; e dimensão social, caracterizados pela inserção e contribuição para a sociedade. Confirmando a importância do trabalho para a vida das pessoas, Morin (2001) conclui, baseado em seus estudos, que mesmo as pessoas tendo condições de viver sua vida confortavelmente sem a necessidade de trabalhar, elas permaneceriam trabalhando, pois além da situação financeira, o trabalho proporciona uma ocupação, uma fonte de relacionamentos, um objetivo na vida e a integração com a social.

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Para que um trabalho tenha sentido é essencial que quem o realize saiba para onde ele conduz, que os seus objetivos sejam claros e valorizados e que seus resultados tenham importância (MORIN, 2001). Um trabalho com sentido é aquele que realiza, satisfaz e motiva a pessoa, e um trabalho sem sentido seria alienante, a pessoa faria o trabalho sem saber por que e sem realizações (PICCININI et al., 2005).

Para Dejours, “o trabalho precisa fazer sentido para o próprio sujeito, para seus pares e para a sociedade.” (1992, p.49). De acordo com o autor, o sentido do trabalho é constituído por dois componentes: o primeiro refere-se ao conteúdo significativo em relação ao sujeito, o qual diz respeito à dificuldade prática para realização da tarefa, a significação da conclusão da tarefa para determinado profissional e a posição social relacionada ao cargo profissional; o segundo conteúdo refere-se ao conteúdo significativo do objeto, ao qual Dejours define:

[...] ao mesmo tempo em que em que a atividade de trabalho comporta uma significação narcísica, ela pode suportar investimentos simbólicos e materiais destinados a outro, isto é, ao Objeto. A tarefa pode também veicular uma mensagem simbólica para alguém, ou contra alguém. A atividade do trabalho, pelos gestos que ela implica, pelos instrumentos que ela movimenta, pelo material tratado, pela atmosfera na qual ela opera, veicula um certo número de símbolos. A natureza e o encadeamento destes símbolos dependem, ao mesmo tempo, da vida interior do sujeito, isto é, do que ele põe, do que ele introduz de sentido simbólico no que o rodeia e no que ele faz. (1992, p.50).

Portanto, Dejours (1992) entende que toda atividade contém os dois termos, e que separar os dois conteúdos seria arbitrário, pois o investimento narcísico somente pode renovar-se graças ao investimento objetal e vice-versa, sendo o sentido atribuído ao trabalho próprio de cada pessoa.

Assim sendo, pode-se afirmar que o trabalho, além de ser é um fator de constituição do sujeito ele contribui para dar sentido à vida. Para Antunes “uma vida cheia de sentido fora do trabalho supõe uma vida dotada de sentido dentro do trabalho.” (1999, p.175).

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