• Nenhum resultado encontrado

O setor têxtil internacional vem passando por muitas transformações, principalmente relacionadas com os avanços tecnológicos e organizacionais, motivados essencialmente pelas mudanças na localização dos processos produtivos, que migraram nos anos 60 e 70 dos países desenvolvidos para os chamados países periféricos. Gereffi (apud Lins, 2000b, p. 63) assim se manifesta sobre o assunto:

Poliéster Lycra Polipropileno Viscose Acetato Seda Rami/Linho Lã Juta Fibras Sintéticas Fiação Tecelagem Malharia Acabamento Confecção

A indústria têxtil e vestuarista mundial passou por vários processos de migração da produção, e todos envolveram a Ásia. A primeira migração da indústria aconteceu da América do Norte e da Europa Ocidental para o Japão, nos anos 50 e começo dos 60, quando a produção têxtil e vestuarista ocidental foi deslocada por um brusco aumento das importações originárias do Japão. A segunda mudança na oferta ocorreu do Japão para os “Três Grandes” produtores asiáticos de artigos de vestuário (Hong Kong, Taiwan e Coréia do Sul), o que permitiu a este grupo a dominação das exportações globais de têxteis e roupas nos anos 70 e 80. Durante os últimos 10-15 anos, houve uma terceira migração da produção — desta vez dos Três Grandes asiáticos para um conjunto de outras economias em desenvolvimento. Nos anos 80, a principal mudança deu-se rumo à China continental, mas implicou também várias nações do Sudeste Asiático e Sri Lanka. Na década de 90, a proliferação de novos fornecedores inclui exportadores de artigos de vestuário do Sul da Ásia e da América Latina, com novos concorrentes aguardando para decolar, como o Vietnã.

O poder competitivo de alguns países periféricos (como Coréia do Sul, Taiwan, Hong Kong, Indonésia, Tailândia, Índia e Paquistão) forçou norte-americanos e europeus – tradicionais produtores têxteis – a algumas mudanças fundamentais. Conforme Gorini (2000, p. 19-20), “essas mudanças apontaram para um novo padrão de concorrência, baseado não apenas em preços, mas também em qualidade, flexibilidade e diferenciação de produtos, além da própria organização do comércio intrablocos, procurando reunir os avanços tecnológicos alcançados na indústria têxtil à mão-de-obra barata de alguns países periféricos, que passaram a atuar crescentemente na confecção – segmento que, apesar de todos os avanços tecnológicos, ainda permanece intensivo em mão-de-obra”.

Nessa perspectiva, as empresas norte-americanas e européias passaram a realizar investimentos em novas tecnologias, processos, vendas e produtos, com vistas a concorrer com os produtos asiáticos, assim como a integração de empresas voltadas para distintas fases do processo têxtil, formando redes que passaram a garantir a flexibilização da produção das companhias norte americanas e européias, como destaca Gorini (2000).

Sobre a formação das redes, Gereffi (apud Gorini, 2000, p. 21) destaca que: “o que está surgindo claramente como forma econômica predominante no complexo têxtil e de vestuário dos Estados Unidos e do México são redes de empresas que interligam diferentes tipos de firmas em agrupamentos ou nós industriais e atravessam as fronteiras do país e do setor. Em vez da performance de empresas individuais, essas redes da América do Norte é que serão a chave para a futura competitividade do México e dos Estados Unidos no setor de vestuário como um todo”.

Outra característica do setor têxtil mundial foi o desenvolvimento de redes globais de subcontratados, onde as grandes firmas detentoras de marcas internacionais conhecidas e com presença consolidada no mercado mundial, têm como tônica nas suas estratégias a busca do baixo custo da mão-de-obra (Lins, 2000b).

Quanto ao sistema produtivo, verifica-se que, de acordo com Gorini (2000, p. 25), os principais fornecedores para a Europa e para os Estados Unidos são a Turquia, China e México:

Os principais fornecedores da União Européia são Turquia e China, além do próprio comércio intra-europeu (ver Anexo, Tabela A.1). As exportações têxteis (inclusive confeccionados) da Turquia alcançaram US$ 11 bilhões em 1998, cabendo destacar que cerca de 60% tiveram como destino a União Européia e países do leste da Europa. A participação dos confeccionados no total das exportações da Turquia foi crescente e alcançou US$ 7,5 bilhões em 1998.

Já os principais fornecedores do mercado norte-americano são China e México. As exportações têxteis (inclusive confeccionados) da China em 1997 chegaram a US$ 10,6 bilhões (sendo parcela de 70% representada pelos confeccionados), enquanto as do México, crescentes a partir do Nafta, alcançaram US$ 8,7 bilhões (parcela de 60% de confeccionados) no mesmo ano. O déficit dos Estados Unidos em têxteis (inclusive confeccionados) alcançou cerca de US$ 60 bilhões em 1997.

Em relação aos maiores produtores têxteis mundiais, destacam-se os Estados Unidos e a China, sendo que o Brasil ocupa o oitavo lugar, conforme a tabela 2:

TABELA 2 - MAIORES PRODUTORES TÊXTEIS – 1997 (EM MIL T)

País Fios/Filamentos Tecidos Malhas

Estados Unidos 6.319 3.733 922 China 4.926 5.630 n.d. Índia 3.837 2.528 550 Taiwan 3.595 1.070 241 Coréia do Sulª 2.064 1.813 n.d. Paquistão 1.556 1.017 n.d. Japão 1.315 854 151 Brasil 1.261 837 430 Turquia 866 420 n.d. Alemanha 649 324 59 Outros 1.926 1.146 256 Total 28.320 19.372 2.609

FONTE: ITMF – Países membros. Elaboração: Iemi, 2000.

* Estimativas extra-oficiais.

Um segmento que nos últimos tempos tem tido crescente aceitação no mundo é o de tecidos de malha (especialmente aqueles produzidos em teares circulares e retilíneos). Segundo Gorini (1998), sua produção deslocou-se, nos últimos anos, dos países de maior renda e maior nível salarial para países em desenvolvimento, devido à maior facilidade de fabricação, à necessidade menor de investimentos e aos menores custos de produção.

englobando a produção de fibras (naturais, artificiais ou sintéticas), fiação, tecelagem, malharia, acabamento e confecção – vem passando por transformações estruturais, acompanhando a própria evolução da microeletrônica, que permitiu a automação e o conseqüente aumento de produtividade em várias etapas do processo de produção.

Assim, o setor é atualmente intensivo em capital nos segmentos de fiação e tecelagem, permanecendo intensivo em mão-de-obra no segmento de confecção, que é difícil de ser automatizado. Além disso, em nichos de maior valor agregado, que envolvem fatores como desenvolvimento de design e moda, há uma tendência à flexibilização dos processos de produção, de forma a atender mais rapidamente às mudanças da moda, implicando, portanto, maior cooperação/especialização entre fornecedores e clientes ao longo da cadeia têxtil, o que não é muito comum no Brasil, com exceção de algumas experiências isoladas.

Coutinho e Ferraz (1993, p. 5), afirmam que

(...) os países desenvolvidos, principalmente Itália e Alemanha, vêm alcançando vantagens competitivas dinâmicas no comércio internacional. Esse processo se dá através do reforço a fatores como moda, estilo e marketing, pelo lado do produto, e modernas formas de organização, pelo lado da produção.

As empresas de maior sucesso nessa linha de atuação combinam grandes esforços nas áreas de estilo e marketing como uma flexibilidade de produção que permite responder rapidamente a mudanças nas tendências e preferências dos consumidores: evitam, assim, perdas com a queda de valor da produção que ‘saiu da moda’, reduzindo, ao mesmo tempo, os custos dos estoques intermediários. Os níveis de flexibilidade alcançados, e especialmente a capacidade de determinar tendências de consumo, fazem com que essas empresas estejam sempre produzindo itens de alto valor adicionado, que são posteriormente copiados por imitadores que auferem, pela defasagem temporal, menores níveis de rentabilidade.

Finalmente, pode-se dizer que a reestruturação do setor têxtil mundial, principalmente na década de 90, repercutiu no setor têxtil-vestuarista brasileiro, o qual passou, com a abertura comercial mundial de uma situação de forte protecionismo para um contexto elevado de concorrência externa.