• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 2: Competências transversais no pré-escolar

2.1 O significado de competências na educação pré-escolar

A abordagem atual curricular por competências no pré-escolar (que se tornou multi- interdisciplinar) tem sido o furor de inovação e tentativa de modernização por parte dos organismos europeus para o pré-escolar. Nos discursos educativos, destaca-se uma pedagogia que sofre influências do mercado empresarial, da sociedade designada de “conhecimento” ou “experimental”. A educação, em geral, começa a reestruturar-se em função de novas conceções do trabalho; sociais, a partir de investigações do contexto intercultural; das novas teorias da psicologia do desenvolvimento, das neurociências e dos crescentes estudos sobre as emoções, para auxiliarem numa coabitação e inclusão igualitária futura nos próximos graus escolares. Esta congregação de saberes colocou em questão paradigmas tradicionais na área da educação, revolucionando a forma de educar para a configuração do ser humano num mundo acelerado ao qual precisa estar adaptado. Posto isto, as competências cognitivas, sociais e pessoais erguem-se neste contexto como um intricado jogo de equilíbrios para ceder a múltiplas necessidades e harmonizar a sociedade para combater a crise financeira, as desigualdades, integrar e evitar a exclusão.

Segundo a OCDE, o campo da educação tornou-se um campo complexo e multifacetado, que pressupõe uma articulação com outras entidades responsáveis que faz face à presente globalização. O desafio é preparar a criança com dependências para uma economia competitiva e para o mundo laboral diversificado, pela “explosão do

conhecimento e por oportunidades de expansão” (OCDE, 2006, p. 222) Para isso, promove-se a carreira da crianç,a de modo a que consiga projetar no futuro práticas cooperativas, colaborativas, com valores, e para que esta seja capaz de construir projetos pessoais, profissionais, sociais e políticos através do desenvolvimento de determinadas competências. Esta visão tem ainda um carácter ideológico no âmbito das estratégias e fundamentações empíricas que desenham o plano e orientações. As orientações curriculares ainda em fase experimental possibilitam a realização de estudos que permitem identificar a viabilidade da concretização da sua práxis.

Sob esta observação, Roßbach e Weinert (2008) afirmam que o desenvolvimento de determinadas competências e as diretrizes políticas educativas só serão alcançados se houver uma análise e reflexões aprofundadas auxiliadas por uma avaliação eficaz. Estes autores consideram que só nestes termos será possível calcular os constrangimentos, obstáculos e limitações que poderão impedir um desenvolvimento adequado da criança. Cada criança é única e especial, por isso, o seu percurso deve ser desenhado de modo igualitário, apoiado nas dificuldades, isto dentro de uma dimensão ética. Roßbach e Weinert (2008) facultam a ideia ainda de que a criança não desenvolve competências desde o jardim infantil e o ensino básico, mas logo a partir do momento que nasce. Logo, será imprescindível uma observação, acompanhamento e intervenção nas suas capacidades e comportamento desde a primeira fase da criança. A influência parental, do meio social e a colaboração e cooperação com as instituições infantis são fundamentais para que todas competências presentes e futuras se construam, conjuguem e evoluam em harmonia, numa linha coerente para a consolidação das competências posteriores.

Entretanto, é preciso considerar que o conceito de competências é bastante polissémico. O seu significado ligado às ciências da educação amplia o caleidoscópio das várias definições, sendo relevante obter vários pontos de vista para compreender as suas tendências atuais. O termo competência, no contexto educativo, tenta formar uma unidade na sua significação, mas a sua versatilidade é influenciada pelo contexto social, político e necessidade organizacional que constitui cada país. O conceito adapta-se à estrutura e à realidade do seu meio, mas também à atual conjuntura europeia, que procura criar uma sociedade unida e simultaneamente polivalente. O conceito de

competência começa a ganhar destaque no universo educativo após as primeiras avaliações PISA da OCDE. Países como Portugal e a Alemanha começaram a organizar a sua legislação e orientações/planos a partir de modelos constituídos por um conjunto de competências universais que a criança deve desenvolver no percurso pré- escolar. Não obstante, mesmo dentro uma educação normalizada, existem semelhanças e diferenças de competências que enriquecem a forma de elaborar o currículo, que acaba por assimilar novas pedagogias, didáticas, estratégias e metodologias.

Na Alemanha, Weinert (2002, p. 27) define as competências, dentro do prisma educativo, da seguinte forma:

“os indivíduos possuem habilidades cognitivas que possibilitam aprender a resolver problemas específicos a partir da motivação, e subsequentemente a disponibilidade, responsabilidade e capacidade que originam o sucesso em várias situações sociais.” Com base no conceito de competência de Weinert, as habilidades cognitivas encontram- se ancoradas na resolução da gestão bem-sucedida de determinadas situações contextuais. Mas o termo também inclui interesses, motivações, valores e prontidão social. As competências são, portanto, disposições cognitivas que se encontram ligadas à motivação, para conduzir as operações realizadas rumo ao sucesso.

Transportando-se esta ideia para o pré-escolar, a criança deve ter ao seu dispor atividades e tarefas pedagógicas, didáticas e metodologias que despertem a motivação de aprender para que o desenvolvimento de competências seja realizada com sucesso. Neste sentido, Textor (2004) considera que a aprendizagem de competências depende de vários fatores:

os agentes que participam na educação da criança; os meios e contextos vivenciais;

perceção do meio ambiente;

interesses e atividades que espoletem a motivação o apoio dos adultos (pais e os profissionais pedagógicos).

Já em Portugal, Pacheco (2011) destaca o currículo como um mediador de uma aprendizagem que se centra nos resultados e nas metas a atingir, ou seja, as metas constituem as competências a desenvolver, através da demonstração dos resultados. Manifestando-se a coerência produtiva do mundo empresarial e económico nas práticas de ensino, as competências pretendemmaterializar informação útil e adequada à avaliação, representando uma estratégia de afirmação do currículo nacional organizado por resultados e menos por objectivos ou mesmo por conteúdos” (Pacheco, 2011, p. 120). A pedagogia por competências realça a promoção de uma pedagogia próativa, centrada na resolução de problemas, e destaca a “praxis” e a contínua dinâmica do conhecimento para a consolidação das competências, em oposição a um conhecimento limitado ao pensamento cognitivo e expositivo. Na perspetiva de Schott e Azizighanbari (2008), a competência só se consolida quando existe a concretização de uma performance do indivíduo. Nestes termos, os resultados de aprendizagem implicam o domínio de conhecimentos, pressupõem motivações, a socialização e o bem-estar emocional, que precisam de uma avaliação para identificar o desenvolvimento de competências - a realização da performance. Nesta linha de pensamento, questiona-se se a criança tem capacidades para desenvolver as tais competências. A esta questão Zabalza (1998) responde que a criança tem a capacidade, desde de nova, de desenvolver competências afetivas, sociais e cognitivas, indicando que a criança se apresenta como um projeto onde o seu “eu” sofre influências que lhe permitem estabelecer uma relação com o seu “meio”, possibilitando logo a sua evolução. O pré-escolar torna-se um palco da ampliação do “eu” da criança.

A partir destes investigadores, podemos resumir que:

a competência constitui um pré-requisito para o desempenho, que se encontra em constante construção;

a aquisição de competências é influenciada pelas medidas, estratégias, pedagogias, didáticas e metodologias que devem gerar a motivação;

o desenvolvimento das competências depende de tarefas específicas que podem ser utilizadas em contextos semelhantes, tendo uma correlação funcional com as situações onde se aplicam;

o conhecimento e a habilidade (cognitiva, inteligência, a autorregulação e o campo emocional) possibilitam o desenvolvimento das competências e a combinação dos três conceitos permite a realização da ação;

a disposição para a ação é favorecida pela motivação.

O objetivo pedagógico no pré-escolar deve ser, semdúvida, a autonomia, a praxis independente da criança na realização da tarefa, pois são os esforços que conferem as habilidades. Comparando ainda o conceito “competência” com o do mundo laboral e empresarial, denota-se haver influência sobre o universo educativo infantil:

Na economia, as competências são encaradas como “ dispositivos” que permitem a organização laboral. Assim, o indivíduo obtém a competência necessária para realizar objetivamente uma tarefa laboral. E as competências laborais serão adquiridas através de formações, experiência, autodidáctica, reflexão, aprendizagem guiada e metódica, para atingir a performance desejada que será avaliada através do “reporting” e observação do desempenho realizado num determinado espaço de tempo. Essa influência é notória no jardim infantil, onde também a criança estrutura e consolida o seu conhecimento através do desenvolvimento de determinadas competências, que a possibilitam realizar tarefas através de processos de aprendizagem que são orientados e ensinados pelo educador. A performance da criança é observada e avaliada por inquéritos, grelhas, portefólios ou outro tipo de registos. Existindo em alguns currículos na Europa uma aprendizagem metódica como no universo empresarial, que permite enriquecer a forma como se aprende e também fomentar, na criança, a lógica do mundo profissional e empresarial

Na empresa desenvolvem-se “skills” para determinadas funções, e tal como acontece no campo educativo europeu, dividem-se em: competências cognitivas, sociais-efetivas, pessoais, metódicas, /motoras/ação e informativas e são adquiridas a partir de metas.

Alguns jardins infantis começam a assemelhar-se à estrutura organizacional de uma empresa, onde é prestado um servido que requer qualidade, com o intuito

de obtenção de capital e o sucesso futuro da crianca através de uma aprendizagem ao longo da vida.

Verifica-se ainda uma avaliação orientada por resultados, que integra o learning analytics na gestão para se obter o conhecimento sobre a forma como as criancas alcançam as suas competências pessoais, cognitivas e socio-efetivas.

2.2. Tendências e perspetivas das teorias de aprendizagem no contexto atual: