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A criação do sistema de Classificação Decimal Universal, CDU, se deu mediante a expansão da CDD internacionalmente. Paul Otlet e Henry La Fontaine, advogados, tinham o objetivo de organizar um Repertório Bibliográfico Universal, um índice classificado onde seria possível abranger

todas as informações produzidas. Faziam parte do Institut International de Bibliographie (IIB), que se localizava em Bruxelas (PIEDADE, 1983; SAN SEGUNDO MANUEL, 1996; CDU, 2007).

Resultando de uma Conferencia, a adoção do sistema de classificação de Dewey foi adotado para o tratamento do repertório de bibliografias e, por pedido feito por carta a Dewey, Otlet conseguiu a permissão para a tradução do sistema que estava em sua quinta edição para o francês.

Desta forma, influenciados pelo positivismo de Comte, Otlet manifesta suas intenções acerca de uma nova ciência, como explica San Segundo Manuel (1996, p.80): “[...] la Documentación, ya que todas las ciencias van a estar imbuídas, tal como lo expressa Otlet, de un carácter positivo y documentário. Y este caracter va a abarcar a todas las ciencias incluídas las naturales.”

De acordo com a introdução da CDU, Otlet e La Fontaine perceberam que o conhecimento humano poderia ser expresso pela linguagem universal que são os números e perceberam também que os números decimais empregados no sistema, devido à capacidade de expansão, poderiam, de forma melhor, dar conta de todo o trabalho minucioso que era realizado com as bibliografias que, diferentemente de livros na estante, exigiam uma elaboração mais específica e detalhada de assuntos. Assim, em 1905, é publicado o Manuel du Repertoire Bibliographique Universel, resultado dos estudos acerca da CDD que anos mais tarde se denominou Classificação Decimal Universal. A CDU pode ser definida como:

[...] um sistema de conceitos hierarquicamente estruturados em grandes classes, destinado à classificação do conhecimento e dos suportes físicos de seu registros, a que denominados genericamente documentos: livros, revistas, fitas, [...]. (SILVA; GANIN, 1994, p. 4).

O plano de tradução inicialmente da CDD se transformou em uma classificação diferente, que permite que a síntese seja realizada, relacionando assuntos através de sinais gráficos e números compostos. A CDU é uma classificação com notação numérica ordenada, onde cada número são partes de frações decimais podendo ser divididos de dez em dez infinitamente.

(CDU, 2007). Otlet e La Fontaine também visualizaram as tabelas como instrumentos para organizar uma lista com características de vários assuntos. Na CDD já era possível ver estes padrões repetidos de vários assuntos, no entanto, com a CDU:

[...] dava-se agora um passo adiante com a separação dos algarismos finais e sua reunião em tabelas de números auxiliares, os quais poderiam ser acrescentados onde quer que o usuário achasse necessário. Este princípio de síntese significava que se poderia alcançar um nível muito maior de detalhamento do que o oferecido pelo esquema publicado: maior precisão combinada com economia de apresentação. (CDU, 2007)

Todo o trabalho de Otlet e La Fontaine era em direção à organização da informação, ou seja, retirar os elementos essenciais dos documentos e suas interrelações para assim recuperar a informação e disseminá-la por assunto. A inserção do conceito de relação e de todos os recursos que a CDU dispõe para que sejam representadas através da síntese, permite que sejam elaboradas notações compostas para representar assuntos que não estão no sistema. (SILVA;GANIN, 1994).

Portanto, Silva e Ganin (1994), explicam que por conter elementos que permitem que sejam criados subsistemas ou minisistemas de conceitos secundários, que não estão previstos dentro do sistema e que podem ser atribuídos pelo classificador, o sistema de classificação de Otlet e La Fontaine combinam de forma inovadora a hierarquia que era seguida rigidamente na CDD e a riqueza oferecida pela síntese, representadas pelos inúmeros símbolos e tabelas auxiliares.

Desta forma, há quatro características fundamentais apresentadas pela CDU (SAN SEGUNDO MANUEL, 1996; SILVA;GANIN, 1994), que a fazem ser um primeiro esquema facetado de classificação:

- a decimalidade é instituída pelo fato de o conhecimento ter sido dividido em dez classes, e dentro de cada uma poder ser dividida de dez em dez infinitamente;

- a universalidade se faz a partir da decisão de utilizar números e sinais gráficos que podem ser reconhecidos universalmente. Também pela pretensão de ter em sua estrutura a divisão de todas as áreas de conhecimento do mundo, tendo espaço para atualizações e para atribuição de novos conceitos.

- a hierarquia é a forma subordinada onde se apresentam o conjunto dos conhecimentos no sistema. Cada termo é subordinado a outro se relacionando com o todo, supondo assim que o universo é um conjunto harmônico.

- caráter analítico-sintético é como os assuntos podem ser representados de diversas formas, ou seja, multifacetados e trabalhados de diferentes perspectivas com o mesmo cuidado e de acordo com o uso que aquele documento terá.

O sistema é constituído, assim, por partes intimamente relacionadas cada qual com sua função se remetendo ao todo. A estrutura da CDU pode ser visualizada a seguir:

Quadro 7: Estrutura da Classificação Decimal Universal - CDU

0 Generalidades. Ciência e conhecimento. Organização. Informação, etc.

1 Filosofia. Psicologia

2 Religião. Teologia

3 Ciências Sociais. Direito. Educação

4 Vaga

5 Matemática e ciências naturais

6 Ciências Aplicadas. Medicina. Tecnologia

7 Arte. Belas Artes. Recreação. Esportes

8 Linguagem. Lingüística. Literatura

9 Geografia. Biografia. História

Tabelas Auxiliares Comuns

Tabelas Auxiliares Especiais

Índice alfabético

Fonte: Elaborado pela autora.

A estrutura geral da CDU, como representada no quadro, compreende as dez áreas do conhecimento com o auxílio das tabelas para especificar os assuntos. Vickery (1980) escreve que a CDU é um sistema que tem a pretensão de atender a recursos práticos, suas tabelas com maior detalhamento indicam já o modelo de facetas, que será trabalhado no próximo tópico por conta da classificação dos dois Pontos. Mesmo com pontos imperfeitos e detalhes que deixam a desejar em casos de classificar documentos, por exemplo, de assuntos que não foram atualizados, a CDU é um valioso instrumento no campo da recuperação e organização da

informação, servindo com precisão e se adaptando às novas tecnologias da informação.