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Os estuários são considerados ambientes aquáticos costeiros onde há fluxo de água doce com efeito diluidor das águas marinhas. Esses ambientes possuem conexão com o mar aberto, apresentam grande diversidade fisiográfica e condições hidrodinâmicas variáveis (CAMERON; PRITCHARD, 1963 apud SCHETTINI, et al., 2000). Sua geomorfologia está associada às marés e à descarga fluvial, que geram padrões de circulação específicos para cada estuário. Em consequência, os estuários podem atuar como filtros ou como exportadores de nutrientes para a zona costeira adjacente. Mudanças nas condições hidrodinâmicas estuarinas podem acarretar em alterações severas no comportamento de um determinado estuário em relação ao aporte de matéria recebida (SCHETTINI, et al., 2000).

Em regiões abrigadas, como estuários, baías e lagunas, se desenvolvem ecossistemas tipicamente costeiros, chamados de manguezais. Esses ecossistemas apresentam condições propícias para alimentação, proteção e reprodução de muitas espécies animais, sendo considerados importantes transformadores de nutrientes em matéria orgânica. Em todo o planeta, os ecossistemas manguezais ocupam cerca de 70% da região costeira tropical e subtropical (CÍNTRON, et al., 1985).

Diversas características foram descritas como determinantes para distribuição dos manguezais, tais como a temperatura média do mês mais frio superior a 20 ºC,

substrato lamoso, ambiente costeiro abrigado, presença de água salgada, grande amplitude de marés, costa rasa e presença de correntes oceânicas com temperaturas favoráveis (WALSH, 1974).

Esse ecossistema é utilizado como local de desova e abrigo de grande parte da população de peixes. Durante a maré cheia, o manguezal retém água e nutrientes, devolvendo os recursos durante a maré baixa. Também podem armazená-la nas épocas de elevada pluviosidade, além de possuir fontes de alimentação para populações ribeirinhas (BRAZ; FILHO, 2001).

Ao longo da costa brasileira, a maior parte dos manguezais está associada a regiões estuarinas (HERZ, 1991). O Brasil possui de 10.000 a 25.000 km2 de manguezais, (YOKOYA, 1995). Do Amapá até Santa Catarina são encontrados ao longo de todo o litoral, margeando estuários, baías, lagunas e enseadas (Figura 9). Os estados do Maranhão, Pará, Amapá e Bahia, nessa ordem, são os que possuem maiores áreas de manguezais, e juntos somam mais de 80% do total brasileiro; sendo que somente o Maranhão apresenta cerca de 40% dessa extensão (KJERFVE; LACERDA, 1993).

Figura 9. Distribuição dos biomas ao longo da costa brasileira (Fonte: http://educar.sc.usp.br/ciencias/ecologia/ecologia.html).

No estado do Espírito Santo, os manguezais mais extensos são encontrados no estuário da Baía de Vitória e nos rios Piraqueaçu, São Mateus, Benevente e Itabapoana (VALE; FERREIRA, 1998). A Ilha de Vitória (Figura 10) está situada em uma região estuarina, formada pela desembocadura dos rios Santa Maria da Vitória,

Jucu, Bubu, Itanguá, Marinho e Aribiri (SÁ, 1995). A Baía de Vitória é a parte principal desse complexo sistema estuarino tropical e apresenta dois canais de comunicação com o mar: o Canal da Passagem e o Canal do Porto (BASTOS; QUARESMA, 2007). Em quase todo seu entorno é encontrada região de manguezal. O maior manguezal urbano do Estado está localizado nessa região, ao lado do bairro Ilha das Caieiras, com uma área de aproximadamente 891 hectares (PMV,

2009), onde a largura da baía chega a 1,60 km, com cerca de 4 m de profundidade

(RIGO, 2004).

Figura 10. Localização do sistema estuarino da Baía de Vitória, ES, Brasil (Fonte: VERONEZ, et al., 2009).

O ecossistema manguezal da Ilha de Vitória vem sendo intensamente impactado, principalmente em virtude do crescimento populacional desordenado. As comunidades são formadas no interior das regiões de manguezal, como observado nos bairros São Pedro, Santo Antônio, Maria Ortiz e Aribiri.

Em estudo realizado por Jesus e colaboradores (2004), alguns locais da Baía de Vitória foram classificados como contendo baixo teor de oxigênio dissolvido na água, em consequência do descarte de esgoto orgânico sem tratamento. Nos manguezais de Vitória, várias espécies são utilizadas pela população local para alimentação (SÁ, 1995). Existem diversos restaurantes que ficam à margem da baía e são conhecidos por servirem pratos tipicamente capixabas, como a moqueca, ostra e sururu, além de outros frutos do mar e utilizam também os animais desse ecossistema.

A faixa urbana da região ocupa uma área aproximada de 3.600.782 m² (PMV, 2009), com uma população de aproximadamente 33.746 habitantes (IBGE, 2010). O ambiente local recebe um aporte de efluente sanitário sem tratamento, além de esgotos tratados por duas grandes Estações de Tratamento de Esgotos (ETE), situadas em Vitória, no vale de Mulembá e em Jardim Camburi. Somente o Canal dos Escravos recebe esgoto tratado proveniente da ETE de Camburi. Segundo a Companhia Espírito Santense de Saneamento (CESAN), 14.990 ligações (40,54% do total dos pontos disponíveis) ainda precisam ser efetuadas pelos moradores da capital. Se as quase 15 mil ligações forem feitas, 6.907.382 litros de esgoto por dia deixarão de ser lançados diretamente na natureza. Além de minimizar o problema gerado pelo esgoto produzido no município de Vitória, a ação possibilitaria diminuir o impacto sofrido pelo meio ambiente. Contudo, seria necessário que isso também ocorresse nas cidades vizinhas, como Vila Velha, Cariacica e Serra, para que o mar e a Baía de Vitória deixem de receber esse aporte constante de esgoto não tratado. Nos demais municípios da Região Metropolitana da Grande Vitória, grande parte do esgoto produzido ainda é lançado no mar. Atualmente um projeto de instalação de uma ETE na região da Ilha das Caieiras encontra-se em fase final de aprovação pela prefeitura de Vitória, o que poderá reduzir a carga de esgoto doméstico despejada no ecossistema aquático da região (PMV, 2013).

4 MATERIAL E MÉTODOS

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